Aprender até morrer
(Public em O DIABO nº2270 de 03-07-2020, pág 16. Por A João Soares)
Desde os primeiros anos de vida dos Neandartais, a humanidade foi aprendendo com as convivências com pessoas que nos apareceram, vindas de outras origens. Houve parceiros de várias cores, mais abertos à evolução que souberam aproveitar e integrar variados aspectos do saber, e alguns foram alvos de posteriores estátuas e monumentos como gratidão pela evolução que proporcionaram (esta seria a posição de naturais de ex-colónias).
Os tempos foram decorrendo, em permanente evolução, e agora, passados incontáveis séculos, aparecem “sábios” com ciência nova, inesperada, certamente imatura e não consolidada, que pretendem condenar todos esses parceiros que nos ajudaram a evoluir desde o ponto zero até à era do aproveitamento do espaço extra-terrestre apelidando-os de racistas, esclavagistas, colonialistas, etc, etc. E pretendem apagar tudo o que houve de bom e de inovador no desenvolvimento natural da História, na Sociedade civilizada que conseguimos estruturar, nas tradições e no actual ambiente evoluído e harmonioso em que desejamos viver. Esta ingratidão pelos benefícios herdados dos antepassados está, logicamente, a desagradar às pessoas de bom senso.
Destruindo o ambiente em que estamos habituados a viver com respeito mútuo e harmonia social, teremos de regressar ao estado incipiente em que os nossos antepassados do Neandartal viveram. Triste condenação esta, depois do secular intercâmbio de pessoas pacientes, generosas, que vieram até nós trazendo novos saberes e experiências que nos fizeram evoluir. A vida tem momentos de grandeza e crises que fomos aprendendo a ultrapassar procurando retirar delas ensinamentos que nos permitem tentar evitar novas quedas e procurar comportamentos mais agradáveis, seguros e promissores de melhor futuro.
Mas os acidentes de percurso são totalmente inevitáveis porque a evolução e a inovação implica riscos por ser um jogo que contém vontade, com incertezas, probabilidades, hipóteses, esperanças e, portanto, possíveis imperfeições que é necessário reparar, mas sem desistir do objectivo ou finalidade pretendida.
Para um avanço mais promissor, o pensamento não pode demorar na contemplação do passado de forma crítica e simplesmente condenatória, mas sim, com espírito de real análise que permita evitar cair novamente em situações desagradáveis e obter mais êxito nos novos passos a dar. O passado deve servir como ponto de apoio para aprendermos a agir com mais eficiência e eficácia no amanhã, por forma a termos mais paz, harmonia global, progresso e felicidade no futuro próximo e distante. O atleta, depois de iniciada a partida, não olha para trás mas sim para a meta de chegada, lá à frente. Não se pode avançar ao volante a olhar apenas pelo retrovisor.
No passado, principalmente nos recentes 50 anos, muito se poderia ter feito de mais perfeito e produtivo para agora termos melhor situação na vida social com melhor educação, saúde, segurança, justiça, economia, cultura, etc. Porém, não devemos perder tempo em crítica destrutiva, mas em análise construtiva a fim de se conseguir aproveitar as lições para darmos os próximos passos de forma mais inteligente, racional, pragmática e obter melhores resultados. E um factor muito importante é o respeito pelos seres humanos e pela Natureza. O principal elemento de um Estado é a Nação, são os cidadãos, as pessoas, só depois há o território e, em terceiro lugar, a estrutura política e administrativa.
Se não se procurar compreender a Nação e agir em seu benefício, de forma racional para lhe dar a melhor felicidade, esbanjam-se recursos que farão falta nos passos seguintes e criam-se situações de crise que pode ser fatal. As lições do passado aplicadas com inteligência darão os resultados desejados se forem aplicadas sem erros ou fantasias desajustadas. Os melhores objectivos devem ser mantidos sob atenção permanente, sem distracções ou desvios poéticos, sonhadores e sem apego a erros do passado só para destruir. O passado poder ser muito útil mas apenas para melhor gerir o futuro. Destruir estátuas, monumentos ou obras literárias nada produz de bom. O demónio apenas serve de alerta para nos afastar do mal. ■
A Decisão do TEDH (396)
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