(Public em O DIABO nº 2284 de 09-10-2020, pág 16. Por António João Soares
Há cerca de dois anos, em
texto aqui publicado, referi que não me pareceu sensato que o Conselho de
Segurança, em vez de tratar indiscriminadamente os seus Estados-membros,
criasse uns especiais, com direito a actividade permanente, a veto e a
liberdade para dispor de armas nucleares que eram vedadas a todos os outros. Na
altura, havia o caso de a Coreia do Norte ter desenvolvido uma arma nuclear e
mísseis com capacidade de a fazer explodir em qualquer ponto do território dos
EUA. Trump reagiu de forma pacífica levando Kim Jong Un a desactivar
instalações e equipamentos que tinha construído. Trump não actuou de igual para
igual entre os dois Estados membros da ONU, mas abusou da sua melhor posição
económica e financeira para se impor.
É sensato que a ONU tivesse
desejado evitar a utilização de armas nucleares que, embora na II GM fossem de
pouca potência e ainda “experimentais”, mostraram ser altamente nocivas para a
humanidade, quer em vidas humanas quer em danos materiais e em seres vivos, animais
ou vegetais. Mas devia aplicar essa interdição a todos os seus estados-membros
e não deixar a excepção para as potências que têm o privilégio de dominar o
Conselho de Segurança. O caso da Coreia do Norte foi resolvido por Trump, um
dos poderosos donos do Conselho, que usou da sua imagem de poderoso contra um
Estado-membro de pequena dimensão.
Neste momento estamos perante
semelhante prepotência do mesmo “ditador”. Em 2015 assinou, acompanhado de
cinco Estados seus parceiros na Nato, um acordo com o Irão e em 2018, como não
estava a ser tratado com a deferência e a obediência que desejava, abandonou o
acordo e, agora, sem consultar os ex- -parceiros do acordo, alguns também
membros permanentes do C.S., decidiu impor sanções ao Irão. Os outros parceiros
não concordam e o próprio Secretário- -Geral da ONU também não, e disse que a
ONU “não vai apoiar a reposição de sanções contra o Irão, que continua a ser
exigida ao Conselho de Segurança pelos Estados Unidos”.
As partes dum tratado ou
participantes dum mesmo organismo devem respeitar- -se em regime de igualdade,
sem nenhuma puxar da sua qualidade de mais poderosa. O respeito mútuo exige
compreensão pelas qualidades e defeitos de cada um, mas sem imposição ou
subordinação de gostos ou de interesses.
O título deste texto deixa
curiosidade quanto às próximas reformas que a ONU deve fazer para se libertar
da subordinação a vencedores da II Guerra Mundial. Se a arma nuclear é
considerada indesejada, deve ser desactivada por todos aqueles que a possuem. E
isso deve ser um acto testemunhado por uma equipa de técnicos independentes e
isentos. E devem ser desaconselhados espectáculos como o da explosão no
Afeganistão da “rainha das armas” de Trump, cujos resultados foram nulos, e não
impediram que, poucos dias depois, um grupo terrorista entrasse num quartel, em
hora de oração com todos os militares desarmados e debruçados sobre o solo e
causasse uma quantidade brutal de baixas.
Para concretizar as intenções
do Secretário da ONU, para além de reduzir a utilização de armamento e de
evitar a guerra, devem ser organizados grupos de mediadores para incentivar a
resolução pacífica de problemas e manter boa harmonia e sentido de colaboração
e ajuda entres os Estados-membros. ■
Sem comentários:
Enviar um comentário