Covid e idosos
(Public em DIABO nº 2298 de 15-01-2021, pág 16. Por António João Soares)
As notícias diárias referem lares de idosos com mais infectados com o coronavírus e, por vezes, óbitos de internados. Trata-se de lares de entidades consideradas responsáveis e inseridas em Misericórdias, autarquias, etc, todas com experiência de apoio a idosos. Porém, conheço um caso de um lar que durante estes meses de pandemia, apesar de ter mais de cem residentes, alguns com mais de cem anos de idade e com várias dezenas de funcionários, apenas teve dois casos ligeiros em funcionários que tiveram leves sintomas devido a contactos próximo das residências, fora da actividade profissional com idosos.
Está provado que o covid não se mete com quem cumpre as medidas de prevenção divulgadas e é esse o segredo do lar que refiro. Vários residentes dizem que as medidas são exageradas, mas mais vale prevenir do que remediar. Perante este exemplo e os muitos casos confirmados de infectados citados pelas notícias, pergunto: porque será que o SNS e as autarquias não divulgam normas de prevenção semelhantes às do lar que atrás refiro e não controlam com alguma assiduidade os comportamentos vigentes nos lares muito afectados?
Neste assunto, como mais ou menos em todos os casos de direcção e gestão, os altos responsáveis não devem limitar-se à passividade contemplativa com a esperança de que nada ocorra de desagradável e, se ocorrer, depois se agirá. Só que, depois, pode não haver capacidade para aplicar com oportunidade a solução adequada. Um líder responsável tem que ter a ambição, o objectivo, a competência, a capacidade, para a máxima eficiência possível, tem que haver um rumo, um projecto, um programa, para ser obtido o melhor resultado desejado. Porque o nome, a aura, a fama, dependem mais dos resultados do que das palavras precoces de promessas e de esperança que podem não ser concretizáveis e, quando isso ocorre, fazem perder a confiança das pessoas dependentes.
As palavras vindas a púbico quer do PR quer do PM por altura do Natal, pecaram por ser simpáticas e populistas, mas sem uma visão do futuro com capacidade para inspirar confiança e esperança realista sobre soluções previstas para os variados problemas que se forem avolumando e para os quais são necessárias soluções eficazes para que a vida social se normalize e Portugal se desenvolva e não se transforme no carro vassoura da Europa sob a ilusão de que a esperança em milagres faça ultrapassar os efeitos da continuidade do conformismo inactivo a que temos vindo a ser habituados. Terá que surgir coragem para dar um passo em frente para um futuro melhor com garantia de sucesso.
Na Natureza, a mudança é um fenómeno permanente quer entre o dia e a noite quer entre as estações do ano quer entre o nascimento, o crescimento e a morte. Nada surge com carimbo de eternidade, é preciso saber viver com espírito de evolução e de recusa da estabilidade degradante. Viver é mexer, é evoluir para melhores tecnologias com a sensatez e a racionalidade convenientes para fazer sempre melhor.
Voltando ao início, os idosos, estão a ser objecto de novas soluções pela mão de gente sensata e inteligente que cria “aldeias sociais” como lares em que os idosos vivem com autonomia cada um usando aquilo que aprendeu durante a vida activa, em vez de passarem o tempo a vegetar sem nada fazer, receando o falecimento. É pena que governantes e gestores da função pública não percebam as condições de vida dos portugueses e as apetências que podem ser válidas. As pessoas, especialmente as idosas, não devem ser tratadas como coisas, como berlindes, e já não digo como peças de dominó, porque estas exigem muito respeito pelas regras. Os idosos devem ser respeitados por aqueles que estão a caminho da sua condição que desejam ser longo e bem percorrido. Mereçam, então, ser tratados com respeito. ■
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