sexta-feira, 28 de maio de 2021

ESTRUME É MAIS POSITIVO DO QUE NEGATIVO

 (Public em DIABO nº 2317 de 28-05-2021. Por António João Soares)

  Há quem fale de estrume como se isso fosse lixo. Mas tem sido muito exaltada a importância da agricultura no desenvolvimento económico do país, pelo valor das exportações dos seus produtos. Ora os produtos da agricultura precisam de fertilizantes e o estrume é o mais importante e, há poucas dezenas de anos, era o único, quando não havia máquinas e os agricultores tinham juntas de bois para puxarem os transportes, o arado, a charrua, a grade, etc. Tinham porcos para a matança pelo Natal, galinhas, coelhos, cabras, etc. O estrume era formado com a mudança das suas lojas e pocilgas e devidamente acondicionado para fertilizar os terrenos por altura das sementeiras. Só mais recentemente, as tecnologias e o aparecimento dos adubos, tornaram dispensáveis os estrumes naturais. Um desses inconvenientes, e grande, foi ter deixado de ser necessário roçar os pinhais para obter o fertilizante natural para os terrenos e, por outro lado, ter as matas cheias de mato que é alimento para os fogos florestais, que as devastam durante o Verão.

 Se o governante que usou agressiva e ofensivamente a palavra estrume conhecesse o valor de tal fertilizante, não usava o seu nome senão como sinal elogioso, de valor. Enfim, que o seu colega da agricultura lhe explique o valor de tal fertilizante e dos que o substituíram, para desenvolver tal sector económico, o mais fidedigno da nossa economia.

Além de mostrar desconhecimento do que atrás ficou dito está a descortesia usada por alguém que, ocupando um cargo que exige comportamento exemplar, alambazou-se com uma palavra que para fugir à vernácula de cinco letras usada pelos carroceiros entre si, não deixou de ser interpretada pela intenção de quem a disse. O povo não dorme embora tudo seja feito para que não abra os olhos perante muita asneirada que é praticada diariamente em prejuízo dos cidadãos, sendo sempre mais atingidos os mais carentes de apoio e segurança, porque os mais poderosos, os tubarões, os donos de tudo isto, podem viver principescamente a seu gosto, sendo praticamente imunes à Justiça, que devia ser igual para todos, mas tem as suas fraquezas, recentemente muito evidenciadas.

Mas, ainda a propósito do estrume e do abandono das matas depois de a tecnologia deixar os agricultores menos interessados na limpeza dos pinhais, seria interessante que os governantes mais ligados às realidades do interior do território criassem um sistema educativo, de difusão de informação sobre os cuidados a ter com os terrenos não cultivados, por forma a evitar-se a catástrofe destruidora de vegetação e de madeiras e o desgaste das culturas que deixam de ser tão produtivas como seria desejável.

Se a indústria contribui muito para as exportações, a agricultura também merece a melhor atenção e deve ser aproveitada para melhorar a erudição de quem a pratica, com vista à procura dos melhores resultados, não apenas para o seu resultado mais avantajado, mas também para a melhoria das condições ambientais. Será vantajoso para o turismo a passagem de autocarros por estradas ladeadas por belas florestas, com árvores bem tratadas e prometedoras de boas madeiras, em vez de florestas virgens de onde não emana beleza.

Mas isso não acontecerá por acaso, precisando de formação de jovens agricultores e de técnicos sobre a prevenção de incêndios que, nas horas vagas, estejam ao corrente das habilidades necessárias para o desenvolvimento de Portugal na sua natureza vegetal e abastecedora de celeiros. A valorização de técnicos agrícolas, não impede que entre eles apareçam escritores, artistas e até valiosos políticos que defendam as realidades criadoras do engrandecimento de Portugal, por estarem em contacto com as realidades naturais, mais enriquecedoras do que o vil metal.

Que não nos falte o “estrume” que fertilize as nossas mentes, para respeitarmos os melhores valores de ética.


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