(Public em DIABO nº 2320 de 18-06- 2021 pág 16 Por António João Soares)
Já na antiguidade se procurava
suprir a ignorância de muitos fenómenos da natureza, criando deuses para diversos
fenómenos desconhecidos, como a regularidade do nascer e pôr-do-sol, a Lua, a
chuva, o vento, etc..
Mas o tempo foi passando, a
mente humana começou a perceber esses fenómenos, através do desenvolvimento das
diversas ciências, o fenómeno religioso evoluiu e desapareceram as primitivas
religiões politeístas, sendo substituídas pelas monoteístas.
Porém, a humanidade não
cristalizou e a ciência continua a evoluir, alargando a percepção do homem
sobre o ambiente que o cerca. Não quer dizer que tenha de haver alterações
profundas na espiritualidade das pessoas. Mas esta relação com o espiritual
necessita de se tornar mais adequada às realidades actuais.
Por exemplo, tenho conhecido
pessoas com elevada fé que se dedicam ao conhecimento pormenorizado dos conceitos
bíblicos e da história de factos da antiguidade cristã, mas não se preocupam
com os comportamentos das pessoas perante as realidades presentes.
Há muita gente que participa
em actividades religiosas, em que recita maquinalmente orações sem ter a completa
percepção do que significam as palavras e as frases que disseram. Há dias
perguntei a um desses crentes quais são as três lições constantes da segunda
parte da oração “Pai Nosso”. Ficou atrapalhado com a inesperada pergunta e
estive a explicar-lhe. “O pão nosso de cada dia nos dai hoje” é uma lição de
simplicidade, não avareza, não ambição, viver com o indispensável, sem vaidade,
sem prosápias nem arrogância. “Perdoai-me as ofensas assim como perdoei a quem
me tem ofendido” pode ser aplicado com o respeito pelos outros, a amizade, a
compreensão, a tolerância, a solidariedade, etc. Com esta lição e “amai os
outros como a vós mesmos”, deixaria de haver violências, terrorismo, guerras.
“Não nos deixai cair em tentação e livrai-nos do mal”, é um bom princípio para
termos a preocupação de evitar situações de risco, evitar vícios, droga,
corrupção, raiva, vingança, etc..
Quando recentemente, em Espanha, foi publicada
a legalização da Eutanásia, o bispo espanhol de Alcalá de Heneres, Juan Antonio
Reig Pla, publicou uma carta pastoral em que acusava o Governo de ter tornado a
Espanha num “campo de extermínio”, porque deixou de respeitar a vida humana e,
como as leis têm sempre excepções toleradas ou mesmo propositadas, as vidas dos
cidadãos que não interessam ao Governo correm risco de, ao mínimo pretexto,
serem paradas. Como idêntica lei esteve, mais uma vez, em discussão entre os
nossos políticos, esperei que houvesse uma voz sonante da Igreja a dizer algo
semelhante.
E como alguém que muito prezo
afirmou, que todos os crentes têm o dever de evangelização, sugiro que, em vez
de querermos mostrar erudição com citações de filósofos da antiguidade, se
chame a atenção para as melhores lições sagradas aplicáveis a casos concretos
da actualidade social. Ensinem-se as citadas lições do Pai Nosso e as dos
mandamentos e, quando se fizer a citação de um caso histórico, defenda-se a sua
aplicação à realidade actual. Assim se contribuirá para maior felicidade e
qualidade de vida dos nossos concidadãos.
Insistindo nesse esforço de
evangelização, talvez se consiga iniciar o apaziguamento do espírito odioso de
alguns governantes e se evitem algumas guerras.
Mas receio que os sacerdotes
estejam sem ânimo para seguir estas sugestões e aparecem notícias preocupantes
da dessacralização de igrejas e templos religiosos, que são transformados em
moradias, hotéis, bares, livrarias, lojas, etc., em várias cidades do mundo,
principalmente na Europa, como em França, na Holanda, Itália, Inglaterra e
Irlanda.
O mundo está em mudança, mas
esta não está a ser seguida pelos estados islamitas que continuam cristalizados
nas suas regras de imposição ao mundo das suas tradições. ■
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