segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

MUDANÇAS DE ACTOS RELIGIOSOS

(Public em DIABO nº 2400 de 30-12-2022, pág 16, por António João Soares)

Os direitos humanos estão condicionados por hábitos clássicos apoiados por algumas religiões em que a mulher é uma escrava sem direitos nem liberdade quer na indumentária quer na preparação cultural. Tem vivido há séculos neste sistema e agora com mais contactos entre pessoas de hábitos diferentes e com a divulgada utilização das imagens da internet, está muito difícil a alteração de costumes tanto por quem os usa como quem os deve suportar.

O Papa Francisco tem intenções de reformar os actos religiosos mas tentativas que tem esboçado para a comunhão dos mesmos rituais por todos os sectores católicos, tem recebido diversas críticas vindas de pessoas que não encaram com bons olhos a mudança de hábitos que duram há 20 séculos e foram sempre seguidos pelos crentes imbuídos do respeito religioso. Mas ele, provavelmente, não quer deixar de resistir à força da oposição desagradável e severa que tem recebido em decorrência de suas iniciativas de reforma.

Os papas têm sido sepultados na Basílica de São Pedro ou em algum outro lugar da Cidade Eterna e o mais recente pontífice que fez excepção, Urbano V, morreu no século XIV e foi enterrado em França em 1370 na Abadia Beneditina de São Vitor, em Marselha. Fora o sexto e penúltimo dos papas de Avignon. O último desta geração não teve sucessor desta sequência, para não dar continuidade a esta «rebeldia». Mas parece que o último, desde Urbano V, a ser enterrado fora de Roma foi Gregório XII em 1415. E agora, qual será o futuro do actual Francisco?

Haveria uma grande convulsão entre o establishment católico se o Papa Francisco estipulasse que o seu lugar final de descanso fosse Buenos Aires, quer seja na catedral de sua antiga diocese, quer seja no cemitério onde a família Bergoglio está sepultada.

A sua intenção de mudança é de estabelecer união entre as diversas facções de catolicismo, distinguindo entre o que é último e o que é penúltimo; o que é essencial e o que é secundário; o que é intrínseco e o que é acidental. Mas os fanáticos não querem ver traída a sua fé e, ao criticarem obcessivamente Francisco, querem preservar aquilo em que se aplicaram, todas as características secundárias ou acidentais do catolicismo romano que, em vez de esclarecer a mensagem de Cristo, acabam, na verdade, obscurecendo-a. E acabam mantendo os cristãos em uma Igreja fraturada, permanentemente dividida, fazem parte de um catolicismo sectário e tribal, que cultiva uma identidade amplamente baseada nas externalidades que são de natureza humana, não divina. Estes irmãos e irmãs são católico-romanos em primeiro lugar; e são cristãos, em segundo.

O Papa Francisco, apesar dos seus 83 anos, está sintonizado com os jovens actuais e diz que estamos atualmente em uma mudança de época, e não apenas experimentando um período de mudanças. É o tempo de uma mudança paradigmática colossal. Aquilo que não é essencial precisará mudar ou será descartado. Porém, tem enfrentado resistência. Parte dela é expressa através de ataques contra a sua integridade como discípulo e líder religioso.

Essa resistência é particularmente feroz e implacável dentro da Cúria Romana, onde os cardeais que se reuniram em 2013, em preparação para o conclave, esperavam ver limpo e reformulado. Uma área que quiseram que o novo papa resolvesse é a área da corrupção financeira dentro do Vaticano. E não se preocuparam com alterações à forma como desempenhar a transmissão da palavra de Deus, tal como vem sendo tratada em 20 séculos.


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