O novo Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas (CEMGFA), general Valença Pinto, ao tomar ontem posse, disse que as restrições impostas pela «condição militar» implicam que os militares beneficiem de um «tratamento específico». Considera que a condição militar é «um valor que pertence ao Estado, por ser garante de acrescida liberdade e independência da sociedade nacional» que impõe a «servidão constante» e «define para os militares um estatuto próprio e singular».
Embora estas palavras não contenham nada de novo, são oportunas e convenientes para esclarecimento dos políticos e apaziguamento dos espíritos dos militares. Oxalá o Sr. Generl Valença Pinto, para bem de Portugal, não deixe de continuar a ser o homem de objectivos firmes, bem definidos e persistentes e de estratégias sabiamente flexíveis que se conhece. Os militares têm os olhos nas suas atitudes e esperam muito da sua forma de encarar os problemas.
A «condição militar» tem um preço a ser pago pelo Governo e a que este se tem furtado, incoerentemente, desprezando as leis que por ele elaboradas.
quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
Novo CEMGFA
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7 comentários:
O problema da "condição militar" tem algumas semelhanças com o celibato dos profissionais da Religião Católica. Talvez se esteja a defender a dama errada.
É perfeitamente aceitável que, nas diferentes profissões, se respeitem certos princípios, caso constituam a essência dessas profissões. E, nesse particular, não acredito que tudo possa ser descartado.
É certo que os militares, detentores do poder das suas armas, não podem reger-se apenas por critérios meramente funcionais. Há aspectos éticos e morais que não podem ser descurados, para lá do perigo de, de ânimo leve, os militares montarem o cavalo do poder, como acontece com demasiada frequância na América do Sul (por exemplo). Mas, tanto os sacerdotes como os militares, fazem parte integrante do tecido social. E não se pode cair no erro de os tornarem uma espécie de intocáveis, uma espécie de corpos estranhos de entes superiores a quem a Pátria tudo deve...
Eu não acredito que um corpo de profissionais, que não se identifica com a Nação que serve, esteja verdadeiramente disposto a dar a sua vida por ela.
Eu sou do tempo em que na Academia Militar havia oficiais que mostravam o maior desprezo pelos "paisanos" e nos diziam: Civil é igual a maricas (a palavra não era bem essa... começava por "p").
Chocante, não?
Caro Amigo
Evito dizer que sou militar, a fim de as minhas opiniões poderem ser mais isentas. Mas por pouco que o Vouga não era cadete da minha companhia na Amadora onde, comandando a 2ª Companhia, tinha o Sentieiro, o Durão, o Sá, etc.
Fui inorporado seis anos antes que o Vouga.
É bom reflectirmos sobre estes temas. O meu amigo cresceu como militar num período muito difícil, em que éramos lançados no mato entregues a nós próprios, num pouco de anarquia e improviso, ao contrário dos anos anteriores em que éramos apoiados pelos mais antigos beneficiando da sua experiência e se vivia num rigor inflexível. Era a formação contínua na caserna.
Há realmente conceitos que serão aterados com o tempo. Mas um militar não pode ser tratado como qualquer funcionário. A disponibilidade, o avançar para situações de alto risco com vontade de vencer, sabendo que se pode morrer, exige uma mentalidade especial, a qual só pode desenvolver-se se houver a certeza de que a família está apoiada e será dotada de condições de vida aceitáveis. Um ataque a uma posição inimiga não pode depender de haver ou não haver voluntários!
Mas fico por aqui. É um tema que merece ser bem discutido de forma construtiva tendo sempre presente os objectivos da existência das Forças Armadas.
Um abraço, até ao próximo comentário
A. João Soares
Caro amigo. Penso que o posso tratar assim. E folgo imenso em comunicar com alguém ainda mais velho do que eu. É difícil, mas encontrei. E, por sinal, a dar testemunho de uma lucidez e juventude notáveis.
Penso que as nossas opiniões, no essencial, não são assim tão divergentes.
Mas os tempos mudaram. Quando éramos cadetes, Portugal vivia numa ditadura. Hoje, vive-se em democracia. Os assalariados tomaram nas suas mãos a defesa dos seus interesses. E, como consequência disso, instituiu-se o princípio de “quem não chora não mama”. O que quer dizer que os militares, impedidos de chorar, ficam a chuchar no dedo. E o resultado está à vista: estão a ser prejudicados e as chefias militares estão manietadas. Estas nunca foram, não são, e julgo que nunca as deixarão ser, efectivamente, os defensores dos nossos direitos. É bom não esquecer o que se passou com a famosa “Lei dos coronéis”. Estes (eu era um deles) tiveram que optar pela indisciplina, para reivindicar as magras garantias que acabaram por receber.
Por outro lado, as F.A. de hoje estão profissionalizadas. Pessoalmente, duvido imenso da eficácia deste tipo de forças (seria um tema interessante para mais conversas), mas é a solução que temos. Os homens e mulheres que hoje estão nas fileiras estão a ser aliciados dentro do princípio de que a Tropa é um modo de vida e não “um modo de morte” (como dizia, com algum exagero, o Cor. Homero Matos, meu Comandante na EPC).
Quanto à vontade de combater, ela vem da motivação patriótica de um povo e não das regras internas das FA. Os maltrapilhos que se fazem explodir contra as tropas aliadas no Iraque não precisam da condição militar para nada…
Em Portugal, o que precisamos é de Governantes responsáveis que saibam, desde os bancos da instrução primária, convencer todos os Portugueses (e não só os militares) de que vale a pena morrer pela Pátria. Que a Defesa é um problema vital para uma Nação que se preze e não um assunto militar. E isso passa por uma definição clara dos Objectivos nacionais e por distinguir quais deles são vitais, ao ponto de justificar o uso da força. É preciso que todos saibam o que é ser-se Português, para lá de termos “um passado glorioso à nossa frente”, como ouvi da boca sarcástica de um camarada da Armada.
Se alguma vez tivermos orgulho por sermos Portugueses, militares e civis, sindicalizados ou não, estaremos todos prontos para arriscar a vida. É isso que nos falta.
Claro que, como em tudo o mais, há várias modalidades de acção, várias opiniões, todas elas com pontos vantajosos e outros que o não são.
Quanto aos tempos modernos e ao papel dos militares no futuro, sugiro-lhe a leitura de um post que coloquei em A VOZ DO POVO http://comnexo.blogspot.com em 10 de Outubro com o título «O Mundo Amanhã».
Estamos numa terceira guerra mundial, em que predomina mais a força de vontade do que os meios militares sofisticados. Por outro lado, hoje há meios não militares para um país impor a sua vontade a outro; há outros tipos de violência, económica, de comunicação (propaganda), diplomática, terrorista, etc.
As força armadas, tal como têm sido, são uma profissão em vias de extinção. O poderio militar dos EUA não lhes evitou os fracassos no Vietname, na Somália, no Afeganistão, no Iraque, no Kosovo, no bombardeamento na Líbia, etc. Pelo contrário, a diplomacia da França e da Inglaterra conseguiram domesticar o Khadafi.
Essa depreciação do papel dos militares está de forma subtil na forma como os militares estão a ser relegados para segundo plano. As coisas nunca são totalmente inocentes e inócuas. As pequenas coisas, interrelacionadas, acabam por produzir grandes efeitos nas alterações das sociedades.
É agradável trocar impressões com uma pessoa que pensa e sabe expor as suas ideias sem ambiguidades e com frontalidade.
Muito obrigado pelos seus comentários.
Um abraço
A. João Soares
Caro A. João Soares, foi com surpresa que vi o seu primeiro comentário no fio-de-prumo e o link para este blog.
Foi uma surpresa agradável pois desconhecia que pudesse ler mais pensamentos da sua autoria, sem ser os curtos e exemplares textos em abono da condição militar que, regularmente se podem ler nos OCS de palavra escrita.
O senhor é uma referência!
É realmente um tema de especial interesse e renovada discussão.Cao A. João Soares folgo em vê-lo discutir este tema, abertamente,sim gostei.
Olhe o que lhe trago:
Com um abraço
O ARTESÃO DO ARMAMENTO
Não sou eu quem determina o destino do mundo.
Não sou eu quem começa as guerras.
Apenas sigo o meu caminho. Faço o meu trabalho.
Nada faço de errado.
Mas não sei.
E essa é a questão,
que sempre me atormenta.
Não quem determina,
e no entanto nada faço de mal.
Faço girar parafusos pequeninos com os meus dedos,
fabricando componentes de armas
que nos ameaçam a todos.
E ainda assim não sou eu quem determina
o destino que aparece diante de nós.
Eu poderia criar outro destino,
tornando o mundo seguro para todos aqueles
que anseiam viver a sua vida.
E então eu saberia
a razão sagrada,
o significado brilhante
da nossa existência.
Ninguém então poderia destruir-nos
com as suas acções
ou iludir-nos
com as suas palavras.
O mundo que eu ajudo a fazer
não é um mundo bom.
No entanto eu não sou mau.
E não fui eu que o inventei.
Mas será isso suficiente?
Papa João Paulo II
Caros amigos,
Este blogue ainda não tem um mês de vida, mas já tem uma boa quantidade de textos e comentários muito interessantes, o que me serve de estímulo para continuar.
Aos comentadores que têm mostrado apreço pelos temas aqui postados, sugio que o divulguem aos seua amigos e conhecidos, a fim de aqui desenvermos um espaço de debate de ideias, onde cada um pode mostrar a sua maneira de pensar para que todos fiqemos com o espírito mais enriquecido, iluminado e aberto.
Obrigado pela vossa visita.
Um abraço
A. João Soares
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