O Diário de Notícias trás hoje o seguinte título «Sobreiros geram nova colisão entre Grupo Espírito Santo e o Governo», referindo-se a um megaprojecto turístico no concelho de Benavente, com um investimento avaliado em 200 milhões de contos, já alvo de notícias em Maio de 2005.
Não nutro simpatias pelo GES, mas acho que Portugal tem de saber conviver com as grandes empresas e tirar daí benefícios para a riqueza nacional, isto é, para o nível económico e social de todos os portugueses. Há que definir prioridades e, depois de uma profunda análise dos recursos e das potencialidades de desenvolvimento, optar por uma estratégia coerente e sustentada ao longo de muitos anos, sem funcionar como catavento ao sabor das mudanças de governo.
Sobre este assunto enviei, em 16 de maio de 2005, a seguinte carta aos jornais que foi publicada em alguns, e da qual não tenho que retirar uma vírgula.
Definir prioridades, é necessário.
O caso do abate de sobreiros em Benavente estimula reflexões extensivas e diversas. Além da eventual responsabilidade criminal, da delicadeza política e da alegada falta de seriedade nas datas da decisão, surge a importante questão de se saber qual a vocação da economia portuguesa, dos objectivos e dos interesses nacionais. Estes são pontos de capital importância que devem ser definidos em consenso pelos principais partidos, porque constituem directrizes permanentes que não devem circunscrever-se a um mandato e ser alteradas logo a seguir.
De pequenino, aprendi que não posso comprar um bolo e continuar a ter o dinheiro. Cada benefício tem os seus custos. Se queremos turismo, necessitamos de estâncias adequadas a atrair os visitantes, acolhê-los bem e dar-lhes as melhores condições de permanência. Certamente que para elas serem construídas, terão de ocupar terreno e impedir certos tipos de vegetação. Da mesma forma, se é pretendido reduzir a desertificação do interior, por exemplo, do distrito de Castelo Branco, é preciso criar ali empresas que ocupem mão-de-obra e incrementem o turismo que incentive a economia e o emprego. Mas, optando por isso, não pode continuar a defender-se a todo o custo um espaço naturalmente abandonado às pedras e ao mato, só pelo facto de se encontrar perto da serra da Estrela, a ponto de impedir a construção de uma estância de turismo em Belmonte.
Não se pode querer uma coisa e o seu oposto, simultaneamente. Se querem priorizar o ambiente e a natureza, juntem-se os partidos e decidam em consenso que o objectivo de Portugal é ser um museu arqueológico e histórico ao dispor de eventuais visitantes de mochila e sandálias que não precisam de hotéis mas apenas de campos de campismo rudimentares. Então, ficaremos a compreender a «coerência» na intransigência da defesa da «natureza», das pegadas dos dinossáurios (vejam-se os benefícios para os portugueses das pegadas de Belas que aumentaram dois milhões de contos aos custos do túnel da CREL e daquelas da Pedreira do Galinha, comprada pelo Estado por quinhentos milhares de contos) e das gravuras do Côa (repare-se o desenvolvimento económico, social e cultural para a região, em troca da falta de uma barragem que fazia parte de um ambicioso programa de aproveitamento hídrico).
Senhores governantes, ficamos à espera que nos expliquem os objectivos que querem para o País, a fim de nós podermos pensar no futuro e para, se for caso disso, planearmos para onde emigraremos e o que iremos fazer.
A Decisão do TEDH (398)
Há 3 horas
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