Parlamentar ou para lamentar? Exemplos dados ao povo pela AR
No JN de hoje, Paulo Baldaia, sob o título «Para Lamentar», refere o incidente par(a)lamentar de no Parlamento não aparecerem as chaves para abrir uma sala onde os representantes do Parlamento Europeu pudessem reunir-se para analisarem os dados do relatório sobre os voos da CIA. E começa por dizer «Perdi a conta ás vezes que tive de me referir a um incidente parlamentar como sendo algo para lamentar. Corredores da Assembleia vedados aos jornalistas. Votações que não se fazem por falta de quorum na véspera de um fim-de-semana prolongado. Salas fechadas à chave para impedir que se realizem reuniões. Parece que não há forma de impedir os deputados de mancharem a fraca imagem que têm perante o País.»
Tudo isto é paradigmático para o civismo do nosso povo nas suas vidas diárias. Um exemplo de muita nobreza, no bom estilo da política reinante! E o jornalista não refere os efeitos da actividade parlamentar ou par(a)lamentar, como as leis abstrusas que não são cumpríveis, como, por curioso exemplo, a que lhes diz directamente respeito, a das finanças dos partidos, que estes não cumprem (os jornais noticiaram a posição do TC a propósito). Há também o caso dos inquéritos parlamentares que nunca produzem conclusões que justifiquem a sua existência, de que soube um exemplo curioso, o referente à corrupção de um deputado líder distrital de partido da oposição, em que o redactor do inquérito, do partido do governo, deitou muita água benta, porque «nestas coisas temos de ser camaradas, porque amanhã podemos estar em posições inversas», mas mesmo assim, o prazo de entrega foi prorrogado (veio nos jornais), para serem feitos alguns ajustamentos, acabando por ser arquivado, sem qualquer procedimento. Agora, a Comunicação Social informa que esse deputado (líder distrital!) está a contas com a PGR por fraudes e corrupção de muitos milhões, citando casos de pastas cheias de notas e outros, tudo para lamentar.
Em que devemos acreditar? O que devemos respeitar? Em que devemos depositar as nossas esperanças para o futuro dos nossos netos? Cada cavadela sua minhoca.
Permito-me transcrever a carta que, a propósito do incidente par(a)lamentar de 12 de Abril, enviei aos jornais e que foi publicada, entre outros, pelo Público de 20 de Abril.
Deputados a mais
(Publicada no Público em 20 de Abril de 2006, p. 4)
Há vários anos se ouve falar que Portugal, tendo em conta a sua população e a sua área geográfica, tem deputados a mais. É uma opinião generalizada mas é inconsequente porque aqueles senhores, tendo a faca e o queijo na mão, não abdicam daqueles numerosos «postos de trabalho» ou, usando maior rigor, postos de recebimento.
Mas, neste momento, já não se trata apenas da opinião dos martirizados contribuintes. Mais de metade daqueles privilegiados demonstraram publicamente que a AR tem mais do dobro dos deputados que devia ter. Só assim se compreende que 119 deles tivesse concluído que a sua presença não era necessária no plenário de 12 de Abril. Só que o regulamento da AR exige pelo menos metade nos plenários, o que impediu que o mesmo funcionasse. Para o País, nada se perdeu, a não ser os vencimentos indevidamente recebidos pelos funcionários que nem sequer ao plenário comparecem. Mas os restantes colegas, embora menos de metade, viram gorada a virtude da sua assiduidade de funcionários responsáveis.
Isto faz recordar as palavras de Jorge Sampaio na vila de Sátão, num dos momentos menos herméticos do seu discurso, quando apelou à luta contra a campanha antipolítica. Comprovadamente, o então PR escolheu mal o local e a audiência daquelas palavras. Teria sido mais ajustado pronunciá-las no palácio de S. Bento onde tal campanha é alimentada com estímulos permanentes.
E só posso concluir perguntando quando, havendo logicamente deputados a mais, os poderosos decidem reduzi-los para o número indispensável, aliviando dessa forma os impostos e reduzindo o tão falado défice? Isto, para não falar do mau exemplo dado por estes senhores aos trabalhadores do País que lhes pagam os vencimentos e os inúmeros benefícios.
Almirante Gouveia e Melo (XXXIV)
Há 1 hora
7 comentários:
Quem parte e reparte...
Pois. São eles, os políticos, que têm a faca e o queijo. E tiram proveito disso. Ao ponto de hoje se falar despudoradamente de uma aberração chamada "classe política". Mas, por mais aberração que seja, ela existe e defende-se com unhas e dentes. E, como classe individualizada e claramente demarcada, está em oposição à classe a que chamarei "não política", que é o cidadão comum.
Esperar que essa gente esteja a dar o seu melhor ou mesmo fazer sacrifícios em defesa dos interesses da classe oposta, é o mesmo que acreditar na fada madrinha.
É bom não esquecer que os aumentos das beneses dos deputados (em escandalosa oposição aos cortes que sofremos) são sempre aprovados. Há sempre uns diáfanos votos contra, ou abstenções, mas que não colocam em risco o resultado final... Pura hipocrisia.
Acho piada a essa preocupação do Ex-Presidente Jorge Sampaio (na altura Presidente) "Jorge Sampaio (...)quando apelou à luta contra a campanha antipolítica".
Questiono-me como pode um Presidente da República preocupar-se com a campanha antipolítica e não se ter preocupado com a campanha dos políticos contra as Instituições...
Tomando o exemplo da Instituição "Tropa", que internacionalmente é louvada pelos seus pares, que é elogiada por todos (inclusivé recentemente pelo presidente Americano), que por ironia é elogiada até pelos nossos próprios políticos e governantes. Como pôde Sampaio permitir e assinar no último dia útil (terá sido?)a autorização para o maior de todos os ataques à Instituição Militar?
Agora por outro lado, os nossos políticos, como querem ser eles respeitados e considerados, quando não respeitam o Parlamento, quando não respeitam a Lei, quando não respeitam ninguém nem sequer dignificam os cargos que exercem?
Mas, numa coisa Sampaio estava enganado, não existe "campanha antipolítica" nunca existiu. Antes pelo contrário, nunca os portugueses fizeram tanta política sem precisar dos "políticos", dos grupos de interesses e compadrios disfarçados de partidos.
Boa noite amigo Soares. Há de facto deputados a mais. Como todos sabemos, a sua esmagadora maioria estão a dormir no Parlamento. Seria bom, que se fizesse uma reforma política, no sentido de diminuir o número de deputados. Que de facto...só lá estão a ganhar dinheiro!
Um abraço
Mário Margaride
Visite http://avano2006.blogspot.com (Canto poético)
Caros Amigos deprofundis, Carlos Camoesas e Mário Margaride, agradeço a vossa visita e os vossos comentários.
Acho graça ao conceito «classe política» que me vem recordar o que há tempos aprendi acerca da «luta de classes» de Karl Marx. Sendo assim, há que a «classe civil» começar a organizar e pôr em prática a luta contra a «classe política». Não são necessárias armas (não ponho de lado o polónio para os mais indesejáveis!) basta o desprezo através do voto em branco. O voto inútil, com dois traços em diagonal, demonstra que o eleitor não é um preguiçoso abstencionista, mas sim um activo lutador contra os políticos, mostrando-lhes desprezo. Há quem argumente que, dessa forma, se permite que sejam eleitos aqueles que mais desprezamos. Sem dúvida que, procedendo assim, não contribuimos para a escolha, mas nada se perde: está provado que são todos iguais, cada um pior do que os outros. O caso do inquérito parlamentar ao Dr António Preto é muito significativo.
Abraços
A. João Soares
Caro A. João Soares,o seu blog é um reflexo das suas habituais e acertadas convicções.Como tal está um blog verdadeiro e genuíno de pensamento.
Continue,até que lhe cortem o pio ou fique sem voz.Nada pior que comer e calar.Nada pior que andar ao sabor do vento, de não ter convicções!
PORTUGAL precisa de ideais e valores soberanos!
A "clase" política vem de uma "classe" civil sem classe.
Sacuda-mo-la!
Abraços
Mário Relvas
Amigo Mário Relvas
É realmente preciso sacudir. É preciso abanar a árvore para cair a fruta podre.
Mas recorde-se da parábola dos sete vímes. Cada um de per si é facilmente partido mas todos unidos num feixe resistem a grandes esforços que os queiram destruir.
Temos de esclarecer as pessoas, ajudá-las a pensar por si, pela sua cabeça e não se limitarem a recitar slogans alheios mesmo que venham de amigos. Sou receptivo a qualquer crítica inteligente, mas não engulo opiniões discordantes sem apresentarem razões, apenas «porque sim» seguindo slogans de uma qualquer propaganda.
Seria bom que as pessoas pensassem com racionalidade e não estouvadamente como um tal Salgado Matos.
Um abraço
A. João Soares
nunca existem, deputados a mais numa democracia.
a democracia, são deputados.
existe é deputados com falta de capacidades e muita apatia do povo.
a representatividade é a base.
agora se o povo fica paradex.
é outra questão.
Garcia
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