A pedido do autor, Sr Coronel Manuel Amaro Bernardo, que merece muito respeito e consideração, militar muito digno e escritor sério, publico a seguinte carta enviada ao DN e não publicada. Em conformidade com as normas de funcionamento deste blogue, ao jornalista MCF está aberto este espaço para qualquer comentário de queira inserir .
7-1-2007
Carta ao Director do “DN”
Solicito a publicação do seguinte texto:
Na vossa edição de 7 de Janeiro, assinado por MCF (Manuel Carlos Freire?), está publicada uma incrível afirmação: “embora no Exército, e pelo menos até 1982, ainda houvesse recrutas a treinar o acto de fuzilar”
Pelo conhecimento que a minha carreira militar me proporcionou (comemorei em Outubro passado 50 anos de serviço) com quatro comissões no Ultramar (1961-1973), posso garantir ser falso o que este jornalista afirma. Aliás foi a primeira vez que li ou ouvi tal.
De facto a pena de morte no campo de batalha, ainda constava no Código de Justiça Militar, em 25-4-1974 e, durante o século XX, terá sido aplicada apenas uma vez, na I Guerra Mundial, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas.
Agora vir afirmar que os recrutas, em 1982, ainda treinavam o acto de fuzilar julgo ser uma afronta para qualquer militar profissional. Não terá o sr. jornalista “embarcado” nalguma “boca” de um recruta que achou tão complicado o manejo de armas de “funeral armas”, que julgou estar a fazer aquele inventado treino?
De facto ainda hoje se mantém as honras fúnebres, com os devidos tiros de salva, previstos no Regulamento de Continências e Honras Militares, quando os corpos dos militares falecidos descem à terra. A última vez a que assisti foi no funeral do meu amigo Coronel e Escultor consagrado José Núncio, no cemitério de Oeiras, em Novembro passado.
Coronel Manuel Amaro
Momento cultural
Há 3 horas
10 comentários:
Caro João Soares.este texto está disponível na íntegra no Passa-Palavra-www.comandosdeportugal.net/jornal
Agradeço aqui ao Coronel Manuel Amaro Bernardo pela co-autoria no livro:
25 de Novembro
Os Comandos e o Combate pela Liberdade!
Abraços
Mário Relvas
Falta dizer que José Núncio era também poeta. Com obra publicada.
Agadeço as visitas dos Amigos MRelvas, Deprofundis e Sempalavras.
Esta carta denuncia uma situação sintomática daquilo que o «sempalavras» define como «homem incompleto e frustrado».
Infelizmente, os nossos jornalistas e os políticos embarcam facilmente nestas manobras caluniosas grosseiras e afrontosas. E o director do Diário de Notícias alinha pelo mesmo diapasão. No lugar dele, uma pessoa séria e medianamente informada publicaria de imediato a carta do Sr Coronel Amaro e pediria desculpa à Instituição Militar.
Sugiro que dêm a conhecer este dislate a todas as pessoas com quem possam contactar. O nosso País, que já deu lições ao mundo, está na fossa.
Abraços
João Soares
Caro João Soares
Vou fazer de advogado do diabo, correndo o risco de desagradar.
Não sei como são as coisas hoje e espero que tudo que vou referir tenha acabado de vez.
Que me lembre, nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, instituiu-se nos quarteis, à revelia dos comandantes, uma praxe do tipo académico, quase sempre executada de forma indigna e vexante.
Nos 8 anos em que estive no IAEM, das muitas vezes que tive de ir para o campo em viaturas 1/4Ton. (Jeep), costumava meter conversa com os condutores para indagar sobre essas práticas. Fiz o mesmo com alguns familiares e filhos de amigos que foram à tropa. Tinha o cuidado de os colocar à vontade para não temerem represálias. E o resultado foi muito preocupante. A praxe estava generalizada nos quartéis. Desde matar galinhas à dentada a fazer aplicação militar nas pocilgas, havia um pouco de tudo. Para divertimento dos graduados e humilhação os recrutas.
Muitos desses ex-militares mostraram não fazer a mínima ideia de que tais práticas não eram permitidas. Ou seja, não distinguiam o que foi praxe e o que foi instrução.
Mais tarde, colocado num Regimento como director das instruções, fiz uma campanha de sensibilização entre os graduados, esclarecendo que eu seria implacável se descobrisse que alguém fazia praxe.
Debalde falei. Porque um dia descobri o que já desconfiava: que se exercia praxe no quartel. Participei o caso mas tudo foi abafado para que no QG nada constasse.
Talvez porque o comandante estava à espera de ser nomeado para o Curso Superior...
Conclusão: não me admiro nada de que a afirmação do jornalista em causa tenha um fundo de verdade.
Amigo João Soares:
Os jornalistas(de um modo geral), não publicam o que quer que seja sem certezas, pois sabem que se arriscam a ser "punidos" por calúnias.Não haverá um "fundinho" de Verdade na publicação do jornalista? Preferido não arriscar em certezas absolutas.Dê-me o direito da dúvida...
Um abraço:MªSoledade Alves
Deprofundis e Maria Soledade Alves dão uma visão mais serena ao assunto.
Espero que o Sr Coronel Amaro Bernardo faça uma visita e dê o seu ponto de vista. Realmente, parece credível que o jornalista tenha alguma ideia que o possa ter levado a conclusões erradas, mas assente em brincadeiras que os recrutas tenham interpretado como fazendo parte da instrução. De médico e de louco todos temos um pouco; e de militar toda a gente pensa que sabe, mas, por vezes, as ideias são erradas, ou porque incomletas ou porque são baseadas em aspectos laterais e não oficiais. Pensi também que pudesse ter havido uma dedução exagerada do facto de o tiro de pistola ser feito contra alvos com o aspecto da silhueta humana.
Enfim, a vida é muito complicada e é preciso bom senso quando se faz uma afirmação com tal gravidade.
Obrigado aos comntadores pela visita e pelas suas opiniões.
Abraços
Aos comentadores que deram "alguma razão" ao jornalista, quero lembrar o que ele afirmou no seu texto, e trnscrito na minha carta: no Exército e pelo menos até 1982, ainda houvesse recrutas a treinar o acto de fuzilar.
Julgo que tal afirmação não se integrará nas referidas praxes, que terão sido feitas em certas unidades, à semelhança do praticado nalgumas Universidades.
Continuando...
Posso acrescentar que MCF me respondeu referindo que a sua fonte, que considerava muito credível, lhe disse terem ocorridos esses treinos na EPAM (Lumiar)em 1982. Continuo convencido de que se tratava de ordem unida: "funeral armas". Pois se fosse em 1974-75, quando lá se formaram CDR (idênticos aos de CUBA),ainda se podia perceber...
Tive conhecimento desta carta pelo pedido de divulgação que recebi via e-mail por parte de um amigo bloguista. Desconheço a existência de tais "práticas" na instituição militar, mas confesso que me parecem perfeitamente aberrantes, no caso de se verificarem. O que condeno veementemente é que o Diário de Notícias não tenha publicado de imediato a carta do Sr. Coronel Manuel Amaro Bernardo.
Lamentavelmente, o jornalismo está longe de satisfazer as necessidades de informação do cidadão, corrompendo e omitindo frequentemente a verdade, com o objectivo claro de defender o poder instituído. Tenho sempre defendido a causa do respeito integral pelos direitos plenos dos cidadãos e, neste caso, não poderia calar-me, jamais!
Obrigado Savonarola, pela sua visita e pelo comentário .
O jornalismo está dominado por interesses que não se afastam muito do Poder vigente e sofre do inconveniente da má preparação dos sus agentes e das suas ambições de êxito a qualquer peço, notoriedade e tudo aquilo que daí resulta.
Não podemos esperar muito mais numa sociedade em que o civismo, os valores éticos, o respeito pelos outros são desprezados a todos os níveis.
Sendo os militares tão pragmáticos e rigorosos, não passa pela cabeça de um qualquer palhaço, que percam tempo a dar uma instrução inútil, sem qualquer hipótese de vir a ser necessária.
É mau que haja jornalistas que alimentem hipóteses oníricas e as cuspam para cima dos leitores.
Um abraço
A. João Soares
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