quarta-feira, 21 de março de 2007

BRASIL NA MIRA DE CHÁVEZ

Este artigo de Stephen Kanitz, recebido por e-mail, é de grande actualidade e traz uma perspectiva estratégica da evolução do poder económico da Venezuela, com vistas largas a ter em consideração por toda a América Latina e pelos EUA. Um trabalho a ter em consideração por todos os estudiosos e, principalmente pelos governantes brasileiros.

A viagem do Bush ao Brasil

A vinda do Bush não tem nada a ver com o Brasil, muito menos com o etanol. Os Estados Unidos não querem estreitar os laços comerciais com o Brasil. Tentaram a ALCA, mas nós recusamos.

O Brasil representa um acréscimo de somente 4% de potencial de venda para uma empresa americana. O mercado americano teria representado um acréscimo de 2000% para uma empresa brasileira.

Quem tinha maior interesse na ALCA, as empresas brasileiras ou as americanas? Como não temos administradores no governo para fazerem estas contas, quem se opôs à ALCA fomos nós.

Bush vem ao Brasil para avisar dos perigos do Hugo Chávez. Vai lembrar que enquanto Chávez minava a ALCA, fechava acordos para vender 80% de sua produção de petróleo para os Estados Unidos. O inimigo atual do Chávez não é os Estados Unidos, é o Brasil.

Chávez quer unir a América Latina, para somente depois atacar os Estados Unidos. E, para unir a América Latina, ele está mostrando as injustiças e o imperialismo estatal brasileiro. Já convenceu Evo Morales a romper com a Petrobrás. Sua próxima cartada é fazer o Paraguai romper com a Eletrobrás.

Lentamente, ele vai encarecendo a matriz energética brasileira e enfraquece a economia brasileira. Chávez irá lentamente isolar o Brasil da América Latina.

Nós brasileiros, nunca nos identificamos com nossos vizinhos espanhóis, portanto a análise de Chávez é perfeita e fácil de realizar.

Poderá Lula conter o objetivo de Chávez? Chávez é inteligente, é um militar disciplinado, tem poder absoluto sobre a Venezuela e se manterá no poder até 2020. Lula é inteligente, não é muito disciplinado, não comanda sequer seu partido e só tem mais três anos e nove meses de mandato.

Fernando Henrique Cardoso desorganizou nosso exército, e a sociedade brasileira é hoje contra militares que precisariam agora nos defender. O Brasil ficará isolado da América Latina e do Mundo ao mesmo tempo.

Enquanto Lula gastou quatro anos querendo ser o líder do Terceiro Mundo, Chávez vai se consolidar como o LÍDER inconteste da América Latina.

Como sabemos, brasileiro nunca deu bola para a América Latina. Nosso povo e nossos empresários querem aprender inglês, e não espanhol. Nossos governantes e intelectuais querem aprender francês e tupi-guarani.

Bush vem dizer a Lula e aos brasileiros que Chávez é um problema brasileiro.

A tática brasileira de ameaçar apoiar a União Soviética para conseguir vantagens não funciona mais. O mundo não é mais bipolar, o mundo é um salve-se quem puder.

E neste cenário, o petróleo da Venezuela é mais importante do que a soja brasileira. Bush não vai comprar etanol brasileiro para substituir o petróleo venezuelano. Ele continuará a comprar petróleo da Venezuela fortalecendo a economia venezuelana.

Bush vem comprar matérias-primas do Brasil, como faz a China, e não produtos industrializados.

Para entender nosso futuro é necessário observar o mapa mundo abaixo.

É diferente de todos os que vocês conhecem, porque coloca a China no centro, e não Greenwich, Inglaterra.

Com a China se tornando o país que mais cresce do mundo, ela será o centro das atenções, e países como Japão, Índia, Coréia, Singapura e Austrália estão estrategicamente posicionados para serem fornecedores deste crescimento. A pouca distância está a Europa, Oriente Médio e pasmem – Seattle, Oregon.

Distante, bem distante, encontra-se a América Latina. O Brasil fica pior ainda por causa da Cordilheira dos Andes. Nossos navios precisam passar pelo Canal do Panamá, costeando a Venezuela, esperando na fila duas semanas. Nossos intelectuais, nossos comentaristas e jornalistas sempre foram contra a ampliação do Canal do Panamá, lembram-se?

O Brasil passa a ficar no fim do mundo cercado por países antagônicos como Argentina, Paraguai, Bolívia, Venezuela e Equador.

Por que Chávez comprou nove submarinos por 3 bilhões de dólares? Para afundar navios de quem? Petroleiros americanos buscando petróleo? Algo para se meditar.

Os franceses, que sempre estimularam o isolamento da América Latina, não estarão nem aí para nos proteger. Os amigos da Sorbonne dos nossos militares e políticos do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso, estão interessados na União - na União Européia.

O mundo já riscou o Brasil do mapa há muito tempo, pela nossa incompetência administrativa. Não inventamos nenhum produto, não temos nenhuma patente útil, não temos nenhuma empresa multinacional de que eles dependam, não temos matérias-primas que irão se esgotar.

Nossos economistas nunca se preocuparam com isto, foram sempre antibusiness, anti-administradores, anti-negócios em geral.


Seremos uma Nova Zelândia do turismo radical, do turismo barato e ocasional. Ninguém no Brasil pensa em investir na Nova Zelândia e no novo mapa-múndi. Ninguém pensará em investir no Brasil, pós Chávez.

Nossos intelectuais já haviam nos isolado do mundo moderno, do neomarxismo, neoliberalismo, neoconservadorismo, de tudo que era novo e moderno.

"Vocês estão absolutamente sozinhos", dirá Bush aos seus interlocutores.

"Eu quis ter o prazer de dizer isto a vocês, pessoalmente. Depois de recusar uma aliança com os Estados Unidos que poderia ter criado um bloco econômico poderoso, depois de dar ouvido aos franceses que queriam nos dividir para nos enfraquecer, e conseguiram, vocês brasileiros estão sem aliados.”

“Os franceses os convenceram que nós, dos Estados Unidos, éramos os inimigos, e nenhum de vocês percebeu que tínhamos os mesmos imigrantes europeus, os mesmos negros africanos, o mesmo pavor da tirania européia, o mesmo clima, os mesmos ideais, e que nunca guerreamos em 500 anos de história. Enquanto que os franceses, alemães e ingleses, arquiinimigos, se uniam em torno da União Européia.”

“Vocês se deixaram enganar pela política diplomática e maquiavélica francesa, que enviaram professores para a USP e adidos militares para a ADESG para enganá-los e empobrecê-los.”

“Quero ter o prazer de dizer as últimas palavras de um governo americano que se encheu com o antiamericanismo constante de seus estudantes, jornalistas e elite intelectual.“

“Goodbye”.
Stephen Kanitz
stephen@kanitz.com.br

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Soares,

uma análise muito interessante.

Ontem na SIC noticias vi já tarde uma reportagem fabulosa sobre a China e seu crescimento.Ouvi as palavras sábias de um vice-presidente da câmara (o nome da cidade não me vem agora)onde ele disse aos jornalistas enquanto mostrava a cidade, as suas zonas modernas:-Contruir a enorme barragem não foi o mais difícil, arranjar casa e emprego para o milhão de agricultores afectados pela barragem é que é uma prova que estamos a vencer (mostrava vivendas lindíssimas) e foi dizendo que se tem arranjado os empregos, com insdústrias e reciclando os agricultores, que passaram a ganahr muito mais e podem suportar as despesas da cidade!...

Também disse, enquanto conversava com uma senhora com mais idade, perguntando-lhe se estava satisfeita com a zona ajardinada e a vida da cidade, que ali na China só se via na rua pessoas com idade, com qualidade de vida, enquanto os jovens estão todos a trabalhar.Por isso a China cresce.Disse também que a França tem um sistema social que condena o trabalho, paga-se para não trabalahar, ali nunca, mas dão-se as condições necessárias para a integração!

Cá estamos igual, os jovens não trabalham, pois formaram-se...e agora só querem trabalahr naquilo...ou vão para o estrangeiro e aí sim, já trabalham no duro.

Pobres pais, pobre Portugal.

O tal chinês terminava quaze sempre as frases com um pensamento-ditado popular chinês.

Foi um gosto ouvir e aprender!

Abraços

MRelvas

A. João Soares disse...

Caro M Relvas,
Comentários como os seus são sempre lições.
É certo que nenhum Estado ou empreendimento terá êxito se não planear o futuro, estrategicamente, de forma coordenada, metódica e consequente. Portugal foi grande quando planeou e executou os descobrimentos. Quando se deixa o tempo passar à espera que apareça um milagre, morre-se de fome. O caso aqui referido da Venezuela é uma lição de sentido de Estado e de planeamento consciente e patriótico.
A China tem sido nos anos mais recentes um grande mestre em técnicas de planeamento. Vem crescendo a um ritmo próximo dos 10% ao ano. Já tempos aqui referi que os seus ministros são escolhidos de entre as profissões com mais interesse para a China, por exemplo, engenheiros hidráulicos, com muita experiência na resolução dos problemas dos seus rios e planícies irrigadas.
Nós, por cá, escolhemos «engenheiros» de coisa nenhuma e doutores em direito sem a mínima sensibilidade para os verdadeiros problemas do País real. Fazem leis e mais leis sem aplicação prática e depois, para remediar a incompetência, fazem mais leis, igualmente sem possibilidade de resolverem o problema a que se destinavam. Veja-se o exmplo do código das estradas: Tantas alterações já teve para reduzir a sinistralidade, e esta continua indiferente, por que não feito clique no sítio certo. Porque não sabem fazer o diagnóstico correcto, nem aplicar o tratamento adequado.
Como seria bom Portugal aprender com a China adaptando a sua ciência ao nosso caso concreto. Ou aprender com a Irlanda, ou com a Suécia ou a Finlândia. A Nókia era uma empresa de madeiras e mobílias, e soube escolher um novo ramo, para sobreviver, tornando-se líder nos telemóveis!!!
Enfim, muito se pode aprender com os outros. Mas infelizmente os nossos «inteligentes», não têm capacidade para aprender e adaptar ao nosso caso, só sabem copiar e colar, só sabem plagiar e, depois, o remendo não pega, o transplante não cicatriza.
Há que dizer estas coisas muitas vezes, para que alguém as ouça, as critique e tire as conclusões que forem melhores para Portugal. É isso que se espera dos «PATRIOTAS LUTADORES» !!!
Um abraço
A. João Soares

Anónimo disse...

Pois é!... meus caros:
Aprender com a China. Mas dá muito trabalho e causaria muitos incómodos...
Uma outra idéia que me despertou a atenção tem a ver com a moda que também parece ter-se instalado no Brasil de deitar abaixo os militares. Sempre dá jeito para imperar a "roda livre"...
Saudações.

Anónimo disse...

Desculpem-me da minha discordância, mas penso que a China não pode servir de exemplo. A informação que nos chega, mesmo para quem visite esse grande país, é rigorosamente filtrada pelas autoridades chinesas, à boa maneira comunista. É que há duas Chinas. Uma é aquela que nos deixam ver e outra é a triste realidade de povos inteiros que vivem abandonados e que cada dia se encontram mais pobres e isolados. E há os casos do Tibete, dos mineiros que morrem como tordos, dos camponeses que são levados pelas inundações. Não há segurança social que mereça esse nome.
E não esqueçamos o que se passa com a mão-de-obra. Há milhares de escravos a trabalhar de graça (teoricamente são ciminosos a cumprir penas). Há um império industrial imenso que se dedica a falsificar os nossos produtos e a vendê-los a preços imbatíveis. Até tapetes de Arraiolos e bordados da Madeira fazem.

Anónimo disse...

Sobre o Hugo Chaves, penso que nada de bom se pode esperar desse governante. Como todos os ditadores está a inventar um inimigo para justificar todas as repressões. Vai levar a venezuela à miséria.
Claro que Jeorge Bush também não é flor que se cheire. Mas está a poucos anos de ir para o olho da rua, enquanto que o Presidente Venezuelano está a perpetuar a sua manutenção no poder. Este parece-me um homem disposto a sacrificar o seu povo (e, se puder, os seus vizinhos) para a sua glória. Tal como Fidel castro.
Enfrentar o poderio americano e a incompetência do seu Presidente é uma coisa. Fazer disso bandeira é outra.
Quanto ao Brasil, é um grande País e os Brasileiros são uma grande Nação. Espero que continuem a ter o bom senso de correr com todos os demagogos de pacotilha que lá devem existir (como em todo o lado).

A. João Soares disse...

Agradeço as achegas que completam e corrigem o que atrás ficou. Uma coisa parece certa: governar um País interna e externamente não se compadece com amadorismos e caprichos de ignorantes e ambiciosos cuja maior preocupação é o seu interesse pessoal.
As populações devem procurar estar esclarecidas e ter coragem de exigir seriedade dos seus governantes e manifestar-se sempre que julguem conveniente. Cá no rectângulo, as manifestações dão sempre resultado, perante a pusilanimidade dos políticos que temos.
Abraços.
A. João Soares