quinta-feira, 26 de abril de 2007

25 de Abril. Para a sua história

Com a devida vénia, de «Aromas de Portugal», texto de Mário Relvas

Em busca de Abril...

O 25 de Abril de 1974 foi um dia histórico para Portugal.

Não o vou abordar pelo lado histórico do anterior regime, denominado de fascista, com censura, polícia política, que era contestado em muitos sectores. Esta análise muitos o fazem á décadas. Importa fazer uma análise ao pós 25 de Abril também.

Vou simplesmente lembrar que nesse dia, há 33 anos, os portugueses clamaram pela democracia. Muitos nem sabiam o que isso era.

Mas se o golpe do 25 de Abril foi uma esperança, levado a cabo por oficiais subalternos, na sua maioria, constituindo em seguida o MFA -Movimento das Forças Armadas, depressa se tornou numa perseguição a todos os que não eram bem vistos pelo PCP, durante o PREC (Processo Revolucionário em Curso). Houve deportações, prisões, saneamentos, a "reforma agrária", o COPCOM (Comando Operacional do Continente), chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho, que emitiu centenas de mandados de detenção assinados em branco, prendendo os mais diversos cidadãos avulso.

Não podemos esquecer a "descolonização exemplar", onde cerca de um milhão de portugueses foram abandonados á sua sorte, em África, em Angola, Guiné e Moçambique, sem salvaguarda por parte dos governos de então, que se sucediam a ritmo alucinante.

Este PREC, em que Otelo Saraiva de Carvalho se desloca a Cuba em vassalagem a Fidel Castro, foi travado no 25 de Novembro de 1975, pelas forças leais ao Presidente da República, General Costa Gomes, formadas na sua essência operacional por elementos do Regimento de Comandos da Amadora, comandados pelo Coronel Comando Jaime Neves, que havia participado no 25 de Abril. Este contra golpe surge para fazer frente ao levantamento dos Pára-Quedistas (forças na altura afectas à esquerda comunista) contra a decisão de passagem á disponibilidade que lhes tinha sido decretada, insurgindo-se. As forças militares no geral, estavam politizadas pela extrema esquerda, de cabelo comprido, a denominada "tropa Fandanga" .

Tinha acontecido um juramento de bandeira, no RALIS em Lisboa, onde os recrutas apontavam o braço á Bandeira de Portugal de punho cerrado, dizendo umas palavras de servidão comunista. O quartel da Amadora serviu para garantir o verdadeiro espírito da democracia, sem cravos, sem flores, tendo recebido mais tarde o prémio pelos seus mortos na operação, sendo extinta aquela unidade militar.

Os comunistas gritavam contra os Comandos e contra Jaime Neves, mas se o PCP existe hoje, se hoje existe democracia, foi porque os militares vitoriosos, com Melo Antunes, consensualmente, decidiram não colocar o PCP na clandestinidade, não lhes fazendo a eles o que eles tinham feito no PREC a tantos outros.

O 25 de Abril que se comemora é a data simbólica da democracia, não o que aconteceu depois, onde de novo houve censura, pois os jornais seguiam as directrizes comunistas e até um jornal "fascista" foi encerrado, os seus trabalhadores despedidos, porque se dizia ser o órgão do PS (Partido Socialista) de Mário Soares, o jornal República!

Houveram muitas situações negativas, mas importa aqui a simbologia que ficou do cravo, "a democracia". Esse sim um valor que efectivamente nos agrada a todos. Antes do 25 de Abril não poderia escrever este texto, mas no "verão quente", - PREC, também não ...

Fica-nos a lição: O 25 de Abril é uma data histórica, onde nos restou a liberdade, mas fica-nos a imensidão de sonhos afundados no desemprego actual, na corrupção, na justiça lenta, na dificuldade nos hospitais e saúde públicas, nas escolas, na falta de escolaridade, na falta de formação profissional, na desertificação do País, na lenta justiça, no aumento da emigração como aconteceu na década de 60... E em tantos outros sonhos emperrados na palavra "ABRIL" e nos "CRAVOS" encravados!

É uma comemoração maçuda na Assembleia da República, mas cumpra-se o resto da palavra Abril e talvez valha a pena continuarmos a ter naquelas galerias os mesmos que dormitam por lá há anos, nesta comemoração. Sim nesta altura todos são democratas, quase todos andam de cravo na lapela...é um fartote para as floristas.
Sim, hoje é 25 de Abril ... de 2007

5 comentários:

ANTONIO DELGADO disse...

A.Jão soares

partilho da opinião que tão eloquentemente elaborou e a conclusão não pode ser mais verdadeira "naquelas galerias os mesmos que dormitam por lá há anos, nesta comemoração. Sim nesta altura todos são democratas, quase todos andam de cravo na lapela...é um fartote para as floristas" só isto é o rectrato desse dia

A. João Soares disse...

Caro António Delgado,
O seu a seu dono. Este texto e de M Relvas, com o qual concordo ao ponto de aqui o transcrever.

Com efeito, o 25 de Abril ocorreu porque era necessário, porque o Povo por ele esperava, do que resultou não ter havido resistência em defesa do antigo regime.
Uma revolução, além da acção planeada, tem sempre por trás um sonho, um ideal um desejo. No caso de Abril, este aspecto subjectivo, ideal, foi gorado, em grande parte, e não foi retirado o melhor efeito dos três DDD (Democracia, Desenvolvimento, Descolonização) e por isso, muitas pessoas não vêem com bons olhos o acontecimento histórico. É uma injustiça e ingratidão em relação ao esforço dos «capitães». Mas faltou um planeamento para que os ideais fossem cumpridos, pois não bastava citar as normas desejadas; era imperioso tomar medidas e criar mecanismos institucionais para essa concretização e, na sua falta, veio a anarquia, o caos, que, numa sociedade desorganizada e tradicionalmente pouco racional e criativa, resultou num desperdício de energias e de recursos em actividades descoordenadas e destrutivas de cujos efeitos nefastos ainda não se recuperou. A crise crónica em que vivemos, que impede um crescimento a par dos parceiros europeus é, em grande parte fruto de vícios surgidos durante a «bagunça» do PREC e que ainda não foram eliminados, por falta de coragem de políticos válidos, esclarecidos e dedicados aos interesses nacionais.
Continua a ser imperioso cumprir os ideais de Abril, devidamente adaptados à actualidade. É de esperar que as gerações jovens se consciencializem da responsabilidade que pesa sobre os seus ombros e da qual depende o seu futuro. É preciso inconformismo e renúncia à resignação, ponderando bem o caminho a seguir e avançar com firmeza e determinação.
A melhor comemoração deve assentar numa reflexão séria sobre o que deve ser feito para honrar o esforço dos «capitães de Abril» e cumprir os ideais iniciais, antes de os políticos os terem torpedeados.
Abraço

Anónimo disse...

Olá amigo joão Soares, foi com surpresa que aqui encontro este meu texto, mas com grande agrado por o meu amigo ter concordado com ele.

É simplesmente uma reflexão sumária dos anos pós 25, até à actualidade.

Factos que o meu amigo bem conhece.Muito melhor que eu.Por isso fico-lhe grato, pela transcrição.

Um abraço

Mário Relvas

Jorge P. Guedes disse...

Na minha perspectiva, não vejo interesse dos politiqueiros de carreira que vão alternando as cadeiras do poder com o dormitório de S.Bento, vulgo Assembleia da República, transmitir aos jovens a verdadeira mensagem do 25 de Abril.

Se os jovens acordam o que vai ser de nós? - parece pensarem.
Também salazar dizia que, se desse mais instrução ao povo, "...e depois... e depois, quem nos serve?"

Num golpe militar que derrubou um regime há sempre erros que lhe sobrevêm. Isso é natural!
O que já não é natural é que em 33 anos esses erros se tenham repetido e cometido ainda outros mais.
O que não é natural são os péssimos exemplos de falta de transparência e de lisura comportamental, no mínimo, de um chefe de governo.
Nem as entrevistas ensaiadas ao pormenor são já capazes de apagar a nódoa.
A juventude tem falta de refer~encias, mas não apenas históricas. Tem falta de referências de homens probos e capazes. E assim, o que podemos nós exigir da futura geração de governantes e de governados?

Um abraço e, uma vez nmais, as minhas desculpas por este "lençol" de palavras.
Como não posso ser tão assíduo como desejava...

A. João Soares disse...

Caro JPG,
O problema dos jovens, deixa de ser nosso, a não ser na má consciência que levaremos no fim da vida por lhes deixarmos uma preparação deficiente para tratarem o seu País. O futuro será deles e o País será governado por eles. Como? Eles terão que descobrir as soluções. De entre eles, ou aparece meia dúzia de génios que dão a volta por cima a isto, ou deixam ir tudo para um buraco ainda mais fundo do que o actual. Tenho esperança que ocorrerá o milagre dos génios. Oxalá que sim.
Um abraço