O homem, desde sempre, teve necessidade de encontrar explicação para as suas dúvidas acerca de tudo o que o cerca. Criou Deuses, umas vezes autoritários e exigentes, outras vezes amorosos, mas, com frequência, em grande quantidade como ocorreu nas teologias grega e romana, em que cada situação da vida humana ou da Natureza tinha um Deus poderoso que representava as explicações que as pessoas desejavam ou temiam. Os filósofos antigos canalizaram esses sentimentos das populações para diversos cultos, facilitando os comportamentos mais civilizados de vivência em sociedade. De uma forma geral, cada religião tem muito de semelhante com as outras no sentido de orientar os comportamentos para a solidariedade para com os seus crentes, os bem comportados, com vista a criar o melhor funcionamento das sociedades, em paz e harmonia. Mas, em relação aos que não são seus crentes, todas têm manifestado aversão, hostilidade, por vezes traduzida em guerras sanguinárias e duradoiras. Com o progresso da história e da ciência, assiste-se ao aperfeiçoamento das religiões, no sentido do monoteísmo em que três se situam à volta de uma base comum, o que levou o Papa João Paulo II a desenvolver notável esforço em direcção ao ecumenismo.
Nas religiões primitivas, politeístas, a influência astral e a sucessão ritmada das estações foi determinante, e as religiões organizavam festas especiais próximas do solstício do Inverno e do equinócio da Primavera, além de outras menores relacionadas com as sementeiras, as colheitas e outros momentos visíveis da natureza agrícola.
Os filósofos, doutores da lei, que criaram o cristianismo tiveram a inteligência e o cuidado de aproveitar o entusiasmo religioso dos povos da época e o seu calendário para que a conversão na nova doutrina não obrigasse a alterar os costumes ou a criar novas festas em paralelo com as «pagãs» já enraizadas. E, assim, localizaram o nascimento do Redentor nas festas do solstício de Inverno e a sua morte e Ressurreição (Páscoa) no primeiro Domingo após a primeira Lua Cheia depois do equinócio da Primavera. Estes pormenores e a coerência do Antigo Testamento e dos quatro evangelhos do Novo Testamento são merecedores da maior consideração e respeito pela inteligência, racionalidade e sentido prático dos filósofos da época, por terem criado um corpo de doutrina coerente merecedor do apreço dos seguidores durante muitos séculos.
Estas palavras poderão chocar muitas pessoas, mas a fé não perde com elas, a não ser em pessoas fanáticas sem a elasticidade suficiente para ir além dos textos preparados pelas autoridades eclesiásticas. A necessidade de Deus é, hoje, muito semelhante à dos gregos e romanos, indianos ou chineses, e , perante a crise moral e social em que o mundo se encontra, ela está mais acrescida. Há, no entanto, a particularidade de a rebeldia e libertinagem afastar muitas pessoas da disciplina rígida dos rituais e levando cada um a ter o seu próprio conceito de Deus, o que não favorece as religiões que exigem actividades de massa, de multidão, de emotividade colectiva, com ostentação de obediência e de fausto. Outro mal que ameaça as religiões é o radicalismo de minorias que retiram respeito e credibilidade ao valor de algumas religiões por parte dos seguidores de outros credos. Os radicalismos e fundamentalismos são demasiado exclusivistas para poderem subsistir por muito tempo e aumentar as adesões livres e voluntárias.
A crise em que o Mundo está mergulhado afectará também as religiões que, para sobreviverem, terão de se adaptar aos sentimentos da população actual, embora mantendo os dogmas e os conceitos fundamentais.
A católicos praticantes daqueles que recitam os prontuários do catecismo e participam regularmente na parte espectacular dos rituais, não é fácil raciocinar sobre as religiões nos termos em que a elas se refere este texto. A generalidade das pessoas recusam aceitar que uma religião é um assunto virtual. Mas, o facto é que Deus é uma ideia, não é materializado por medidas e pesos. As pessoas têm necessidade de Deus, um Deus que existe dentro do nosso espírito, à medida das nossas dúvidas, ansiedades, ambições, receios, princípios éticos etc. A própria religião diz que Deus está no céu, na terra e em toda a parte. Está dentro de nós, é nosso, à nossa medida, à medida da nossa fé. Mas as religiões vivem de manifestações de massas, de rituais espectaculares e, para isso, exploram a nossa credulidade. Isto não é defeito nem virtude de uma ou de outra, é de todas e é isso que os partidos políticos em democracia procuram imitar, com os comícios e outras manifestações. A fé, para se «dilatar», precisa de actos públicos que criem emotividade nas pessoas.
A Páscoa, tendo aproveitado a festa que constituía o anúncio do fim do Inverno e a chegada da Primavera, a passagem de um tempo escuro e triste para um mundo iluminado, de vida nova na Natureza, como que o renascer, é uma festa móvel, devido ao condicionamento da primeira lua cheia após o equinócio. Daqui a dúvida que se gera quanto à idade com que morreu Cristo, 33 anos e quantos dias? Estes podem variar de 22 de Março a 25 de Abril, devido ao ciclo das fases da Lua. Mas nada retira ao símbolo da celebração da morte e ressurreição, mesmo que tenha ocorrido em dia muito anterior ou muito posterior.
Nesta estação do ano, os antigos povos pagãos europeus homenageavam Ostera, ou Esther.
Ostera era a Deusa da Primavera, que segurava um ovo na mão. A deusa e o ovo eram símbolos da chegada de uma nova vida. Ostera equivale, na mitologia grega, a Perséfone e, na mitologia romana a Ceres. Nessas datas distantes, festejar a Primavera sempre representou a alegria, tal como hoje a Páscoa, no que a Natureza florida na sua melhor gala muito contribui.
A palavra "páscoa" vem do hebraico "pessah" e significa "passagem", "mudança", refere-se ao êxodo do Egipto dos hebreus, há cerca de 3 mil anos, quando iniciaram pela mão de Moisés o "êxodo", a viagem de libertação do seu povo no reinado do faraó Ramsés II, depois de terem sido escravos dos faraós durante 400 anos. A «pessah» constitui uma das mais importantes festas do calendário religioso judaico. Comemoram assim a passagem da escravidão para a libertação, da tristeza do Inverno para a alegria da Primavera. A comemoração inclui, entre outras coisas, uma refeição, onde se come o Cordeiro Pascal, pão sem fermento (o "matzá"), ervas amargas e muito vinho.
Devido ao aproveitamento das tradições anteriores atrás referidas, seguiu-se o hábito de comemorar a chegada da Primavera e a Páscoa com os ovos símbolo da fertilidade, da vida e que, para maior simbologia eram pintados e decorados representando a luz solar. Mas o costume de os decorar para dar de presente na Páscoa foi incentivado na Inglaterra, no século X, tendo o rei Eduardo I o hábito de banhar ovos em ouro e oferecê-los aos seus amigos e aliados.
Acreditava-se que receber ovos pintados trazia boa sorte, fertilidade, amor e fortuna. A oferta de ovos manteve-se até hoje e de várias formas. Também, o coelho está relacionado com os aspectos profanos da Páscoa, devido a ser um símbolo de fertilidade, de fecundidade, relacionado com a época em que toda a Natureza germina para uma nova fase de criação.
A Páscoa cristã
Para entender o significado religioso da Páscoa cristã, é necessário recordar que muitas celebrações antigas foram integradas nos acontecimentos relacionados com Cristo.
A festa da Páscoa integra a última ceia de Jesus com os Apóstolos, a sua prisão, julgamento e condenação à morte, seguida da sua crucifixão e ressurreição. A celebração começa no Domingo de Ramos (quando Jesus entra em Jerusalém e é aclamado com ramos de palmeira) e acaba no Domingo de Páscoa (com a Ressurreição de Cristo): é a chamada Semana Santa.
A data da Páscoa foi fixada pela Igreja no ano 325, de modo a "cair" no primeiro domingo posterior à primeira Lua Cheia depois do equinócio da Primavera. Com esta definição, a data da Páscoa varia de ano para ano, situando-se entre 22 de Março e 25 de Abril, sendo uma festa "móvel".
O Domingo de Páscoa celebra a ressurreição de Jesus Cristo que, depois de morrer na cruz, e de o seu corpo ter sido colocado num sepulcro, onde permaneceu, ocorreu quando seu espírito e seu corpo foram reunificados. É o dia santo mais importante da religião cristã, indo as pessoas às igrejas e participando em cerimónias religiosas, mais do que durante o resto do ano. Os espanhóis chamam a festa de Pascua, os italianos de Pasqua e os franceses de Pâques.
Na elaboração deste texto, além de conhecimentos gerais e de reflexões baseadas em várias leituras, contaram os seguintes posts:
A Festa de Natal tem 4.000 anos!, por A. João Soares
A Páscoa... , por Ludovicus Rex
O significado da Páscoa ..., por Mário Relvas
Duplo critério
Há 2 horas
2 comentários:
Manífico Artigo Meu Amigo. A Cultura do Cristianismo está muito enraizada e impregnada de muitos medos barrocos que deixam a racionalidade de lado.
Um Abraço
Obrigado pela visita e pelo comentário. Receei que aparecessem comentários fanáticos a zurzirem-me sem dó nem piedade. Mas parece que as pessoas compreendem que não são ditas heresias, mas apenas aspectos práticos reais que permitem manter a fé com alguma racionalidade.
Um abraço
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