Com a devida vénia e homenagem ao autor e ao Destak onde foi publicado, transcrevo este texto que com uma grande simplicidade explica um assunto muito complexo e em que poucas vezes se raciocina com lucidez, desapego e isenção partidária.
A grande ilusão
Por João César das Neves, em Destak de 31 | 05 | 2007
O Governo congratulou-se com a anunciada aceleração do crescimento, mas engasgou-se logo depois com a subida do desemprego. Se os ministros melhoraram a economia, porque esqueceram os postos de trabalho? Toda esta atribuição política de méritos e culpas é tolice. Não é o Governo quem gera crescimento ou empregos.
O Estado tem inegavelmente grande influência económica, mais que qualquer outra entidade individual. Mas tem muito menos efeito que todas as outras entidades juntas.
A dinâmica produtiva nasce de tantos agentes, factores, pressões e perturbações, que a acção do sector público se dissolve na economia, sobretudo a curto prazo.
Além disso, influência do Estado não significa vontade dos ministros. O orçamento, a lei e regulamentos dependem, também eles, de tantos agentes, factores, pressões e perturbações que a acção do Governo se dissolve na grande máquina administrativa.
A política ampara a grande evolução nacional, mas as autoridades estão inocentes das flutuações cíclicas. No entanto, serão castigadas ou louvadas por elas, porque assim o exigem os eleitores e o anuncia a sua própria retórica activista.
Esta é a grande ilusão da vida pública. Discursos e programas eleitorais prometem recuperação e anunciam empregos. Depois, o que se passa na reestruturação sectorial e no clima internacional é que dita a sorte económica.
Por isso tantos ministros, elogiados como mestres, caem quando mudou o vento económico, na vigência da mesma estratégia. Mas, mesmo quando punidos, nunca os políticos admitirão a verdade da sua impotência. A ilusão sustenta a função.
Almirante Gouveia e Melo (I)
Há 1 hora
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