terça-feira, 29 de maio de 2007

A democracia está a ser vendida a retalho?

Extraído do Portal Portugalclub, como reconhecimento do seu mérito como ponto de reflexão para um melhor conhecimento da realidade actual.

A primeira experiência poderia ser feita, por exemplo, com o debate sobre a localização do aeroporto que substituirá o Aeroporto da Portela de Sacavém.

As autarquias utilizam dinheiros públicos para empregar os “funcionários” do partido disfarçando-os de assessores, na CML o fenómeno adquiriu a dimensão de escândalo tendo-se percebido que a pouca vergonha beneficiava todos os aparelhos partidário, ainda que, como em tudo na vida, todos os pássaros comem trigo mas só o pardal é que paga”.

Guilherme Silva acumula as funções de deputado da República com as de assessor de Aberto João Jardim e nos intervalos exerce a advocacia o que por vezes o leva a trocar os cartões e apresentar-se em serviços como deputado em exercício de funções de causídico.

Santana Lopes ajeita os seus rendimentos graças à generosidade do autarca amigo de Vila Real de Santo António que lhe paga 37.000 euros para “dar parecer sobre um contrato de arrendamento, para analisar o recente regulamento de taxas e licenças em vigor no município, para definir o modelo jurídico mais apropriado à requalificação de dois prédios urbanos e para prestar serviços jurídicos no âmbito de concursos para a conservação de espaços públicos e da rede viária". Imaginem, para dar parecer sobre a "requalificação de dois prédios urbanos" o autarca de VRSA recorreu aos serviços de um dos mais conhecidos causídicos de Lisboa!

Esta situação de Santana Lopes leva-me a pensar que uma boa parte das grandes figuras dos partidos ganham muito mais do que o Presidente da República sem terem que se sujeitar aos rigores do protocolo de Estado. Significa que os dinheiros públicos já servem para subsidiar os políticos que por estarem na oposição ou porque os cargos começam a escassear.

No sector privado também não faltam exemplos de subsídios aos gestores de influências, a maior parte dos opinion makers que escrevem na comunicação social ou comentam nas televisões fazem parte dos portfólios dos grandes grupos empresariais. Basta que a banca se sinta incomodada com uma medida fiscal para que apareça uma procissão de fiscalistas acima de qualquer suspeita a criticar a medida.

Aos grandes grupos de interesses não faltam juristas, engenheiros civis, sociólogos ou ambientalistas disponíveis para defenderem as suas posições sob as vestes de personalidades independentes e acima de qualquer suspeita. Veja-se como os ambientalistas se ajoelharam perante a bondade do projecto turístico de Tróia lançado por Belmiro de Azevedo, não me admiraria nada que por estes dias apareça algum dos mais combativos a explicar que bastaria um bom controlo do tráfego aéreo para compatibilizar as migrações das aves e o movimento dos aviões de forma a viabilizar o novo aeroporto em Rio Frio.

Até o Estado recorre à compra de alguns opinion makers mais incómodos, há mesmo alguns que se tornam muito notados no início da legislatura para depois desaparecerem milagrosamente até às próximas eleições legislativas. Entretanto beneficiam de algumas mordomias graças às comissões, conselhos fiscais de empresas públicas, encomendas de estudos ou contratos de assessoria.

Faça-se de uma lista de assessores e consultores das autarquias, dos governos regionais, dos bancos, do grupo Sonae e de outros grandes grupos empresarias, proíbam-se os beneficiários de intervir em público sem que antes apresentem as respectivas declarações de interesses e veremos como a política portuguesa ficará mais saudável. A primeira experiência poderia ser feita, por exemplo, com o debate sobre a localização do aeroporto que substituirá o Aeroporto da Portela de Sacavém.

É evidente que nenhum destes senhores é criminoso, como diria Pina Moura cumprem escrupulosamente as leis da República não violando nenhuma das suas normas, como se o exercício da democracia fosse um exercício jurídico e não de ética. São esforçados trabalhadores honestos que se desenrascam o melhor que podem num país cada vez mais pobre, mais pobre na economia mas também e, porventura pior, mais pobre na democracia. Parece que a economia vai de par com a democracia, quanto mais empobrecem mais alguns enriquecem, será mera coincidência?
- Terreiro do Paço

5 comentários:

Magno disse...

Em Portugal, o polvo da corrupção espalha os seus tentáculos por toda a classe politica com assento parlamentar sem excepção!|
E isso vê - se quer nas autarquias locais, quer nos diversos serviços públicos espalhados um pouco por todo o país.
Desde as delegações regionais até às Empresas Municipais!
Este cancro que consome e desgasta a sociedade portuguesa, não é de agora!
O que mais indigna é o conformismo da sociedade a respeito destes assuntos! Temos medo de quê? De um processo por difamação? Que o filho não arranje emprego?
Ou queremos uma mais sociedade justa?
Estamos no nosso dia a dia a pagar os efeitos deste conformismo, desde o caos urbanisitico, degradação ambiental, violência e exclusão social em meios urbanos, abandono do interior, encerramentos de multinacionais, etc.
Enquanto isso a classe politica vive no seu mundo perfeito, intocável, e isenta de qualquer responsabilidade!
Triste fado o NOSSO!

A. João Soares disse...

Caro Magno,
Li algures que uma pequena percentagem dos portugueses consideram-se felizes; os restantes vivem em Portugal!!!
Como as coisas estão, o melhor que um jovem pode fazer para o seu futuro é:
1 - se tiver capacidade de realização pessoal, com bons resultados escolares e gosto pelo estudo e pelo trabalho, emigrar para um país moderno e progressivo;
2 - se não tiver essas qualidades e quiser uma vida sem trabalho, nem responsabilidades e grandes ambições de enriquecimento rápido, deve filiar-se num partido e abanar-se muito para fazer poeira e ser notado. Será assessor, deputado e, por aí acima acabando numa das grandes empresas autárquicas ou com capitais do Estado (golden share)

Isto não melhora enquanto as pessoas forem nomeadas a bel prazer dos políticos, como acontece com a D. Margarida Monteiro que persegue o Dr Frernando Charrua, colocando os caprichos seus e do partido acima do interesse nacional e da ética. Tais cargos devem ser ocupados em função de concurso entre os que tiverem condiçoes para isso, e depois escolhidos em função do seu currículo e do parecer dos funcionários do serviço, dando a cada factor um Índice previamente estabelecido.
A transparência não deve ser apenas uma palavra de discurso bonito, mas uma prática constantemente aplicada.

Espero que os mais jovens façam revitalizar a Democracia agora moribunda, da forma mais suave possível. Não será necessário utilizar a bomba nuclear, nem causar grandes massacres. Mas que irá causar dor a muitos não tenho dúvidas. Mas que seja aos causadores da crise e que se encheram à custa do povo pagante.

Um abraço
A. João Soares

Jorge P. Guedes disse...

Desde que este governo da "maior transparência" se apanhou só no poleiro, sem precisatr de negociar para reinar, o regabofe cresceu.

Os apadrinhamentos, os subornos, as contas paralelas, os escândalos públicos metidos na gaveta, os juízes incómodos afastados ou presenteados com lugares de relevo, os dislates de Pinhos e Linos, a vergonha nacional que deveria ter constituído a triste embora anedótica historinha do primeiro-Ministro que acaba por ser mais ou menos engenheiro, um PR que nada faz de concreto, deputados que nada mais são do que zelosos funcionários do partido que lá os pôs, uma oposição coxa de ambas as pernas, titubeante, alagadiça em suores se as sondagens não lhes são favoráveis para um rápido regresso ás mordomias,um ensino vergonhoso e que apenas pretende números de sucesso atacando os professores para que estes passem os alunos, uma saúde em que agora até os miúdos vão ter que pagar taxas de urgência, um fisco que continua a não atacar os donos dos Ferraris, uma comunicação controlado e propriedade de grandes empórios comerciais, uma indústria residual, uma taxa de exportações do mais miserável que existe na Europa,...enfim, um rol imenso de enfermidades para as quais não diviso cura possível.

Resta aos nossos jovens o caminho da emigração, numa nova fase de prostituição do País.

Aos velhos, a espera que alguma reforma possam vir a receber depois de uma vida a encher os cofres do estado que malbarata os dinheiros públicos e que ainda tem o descaramento de "fazer figura de rico", oferecendo um estádio de 3 milhões de euros à Cisjordânia e que agora quer fazer um país novo na região da Ota, dizendo que a margem sul é um deserto.

Optimista, eu? Claro que estou! Como não?

Um abraço.

A. João Soares disse...

Caro Jorge

Este parece já o toque a rebate para levantar a populaça contra os tiranos!!!
Talvez não seja cedo porque já há razões de sobra, mas as mentes estão ainda verdes e precisam de ser mais sazonadas. Embora isso não agrade à D. Margarida Monteiro, a tal do Dr. Charrua, os bloguistas têm o dever cívico de contribuir para esclarecer as pessoas.
Um abraço

Meg disse...

Caro Amigo
Venho neste momento do Sino onde tomei conhecimento deste comentário, feito pelo Jorge.
Soubera eu fazê-lo com tanta sageza...
A minha raiva e a minha revolta tomam-me e vão-se-me as palavras ou jorram atabalhoadamente.
Depois do que escrevi no Sino, venho subscrever cada palavras que Jorge Guedes aqui deixou, ele me autorizará a fazê-lo.
Um abraço

Espero e desejo a continuação das suas notícias...