Extraído do blog Citizenmary
Há dias
Em que não cabes na pele
Com que andas
Parece comprada em segunda mão
Um pouco curta nas mangas
Ala dos Namorados (João Monge)
Há dias em que o mundo deprime qualquer flor que se preze e o mais bem intencionado sorriso cai. Há dias em que não cabemos mesmo na pele ou não queremos caber. Há dias em que o mundo não é um planeta azul porque o olhamos mais de perto e vemos uns bicharocos prepotentes a devorarem quem se aproxime. Crianças desaparecidas, crianças com fome, animais abandonados, aquecimento global, planeta mal tratado, pessoas a sofrer, mulheres apedrejadas, eu sei que ando a ver os meus emails pessoais de corrida, mas hoje parecia a abertura do noticiário. E não dá para ignorar, pelo contrário, ainda bem que por aqui conseguimos dar alguma consciência uns aos outros do que se passa, alertar para os valores que se perderam ou nunca se ganharam, diz a historiadora pessismista. Há dias em que o facto de lidar com muitas situações difíceis e de luta me levam a minimizar outras. Há dias em que ponho a mão na consciência e penso se faço o suficiente pelo que está errado e deve mudar para certo. Há dias em que me apetece mudar para outra dimensão e depois não, que não é com ataques de cobardia que se ganham guerras. Há dias em que tudo e nada nos chocam, uma palavra mais agressiva, uma notícia triste. Fases mais ou menos dolorosas, mas o que são os nossos problemazinhos e as nossas vidinhas perto de dramas bem mais prementes e mais latos? Estamos a fazer o suficiente? Não sei. Falar ajuda. Também, muito, com as gerações seguintes. Não para passar a pasta da incompetência, que as famílias não são autarquias... Mas para explicar as impotências que sentimos até hoje e a ajuda que precisamos de sangue novo para os combates nesta coisa redonda e azul em que nascemos. Ainda gostaria de ver um sorriso em cada esquina. Ainda gostaria que o sofrimento desnecessário terminasse. Já basta quando nada podemos, de facto, fazer. Somos tão pequeninos. Consistirá nisso a nossa força? Penso em Saint-Éxupery: "Tive assim, no decorrer da vida, muitos contatos com muita gente crescida. Vivi muito no meio das pessoas grandes. Vi-as muito de perto. Isso não melhorou, de modo algum, a minha antiga opinião."
Pode ser que venham dias...
Posted by Mari
DELITO há dez anos
Há 3 horas
2 comentários:
Provávelmente nem sempre queremos abrir os olhos meu caro.
Tem dias que não apetece mesmo.
Bom fim de semana
José Gonçalves
Caro José Gonçalves,
Obrigado pelo comentário. Quanto a este desabafo pessimista da Maria que transcrevi, não faz mal utilizar uma óptica menos positiva, uma vez por outra. Mas não devemos deixar que os nossos sentimentos se envolvam demasiado.
O mundo é aquilo que é. Os nossos filhos e netos terão de o melhorar, e não devem perder muito tempo a dizer mal das gerações anteriores que lhes deixam uma herança muito estragada.
Esta é uma linda redacção que obriga a pensar. E as pessoas andam demasiado indiferentes aos males da sociedade com que viajamos, precisando de estímulos para reflexão.
Uma abraço
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