sábado, 12 de maio de 2007

Os políticos precisam de precaução

A procura de benesses e de benefícios ilegítimos por parte de ambiciosos sem escrúpulos constitui uma armadilha permanente à espera de políticos que agem com ingenuidade ao ponto de serem alvo de actos de corrupção, por vezes, sob a capa de inocentes atenções de velhos amigos e admiradores. Um empresário, um capitalista, não dá nada gratuitamente, pois faz investimentos na esperança de lucro e dividendos. Já em tempos a imagem de Durão Barroso saiu chamuscada quando, sendo primeiro-ministro, recebeu a atenção de um «velho amigo» que lhe ofereceu a viagem em avião privado e estada numa praia brasileira e, quando já presidente da Comissão Europeia, aceitou um cruzeiro em iate privado no Mediterrâneo de outro «velho amigo». Embora fossem velhos amigos, tais ofertas generosas só ocorreram quando o seu poder de influência os podia beneficiar.

Quem limpa as botas aos políticos não o faz por devoção desinteressada, mas à espera de recompensa posterior.

Agora, surge a notícia de que a candidatura de Cavaco Silva às presidenciais de 2005 utilizou, em Oliveira de Azeméis, para sede concelhia da campanha, instalações cedidas por Licínio Bastos, empresário detido no Brasil no âmbito da "Operação Furacão". O espaço do edifício Camões situado em pleno centro da cidade de Oliveira de Azeméis, foi cedido "a título gratuito" por Aníbal Araújo, responsável pela gestão do imóvel. O mandatário distrital da candidatura, António Nogueira Leite, inaugurou a sede numa cerimónia em que o próprio Aníbal Araújo marcou presença. Em Junho de 2006, Cavaco Silva condecorou-o com a Ordem do Infante D. Henrique.

Licínio Bastos está envolvido no processo brasileiro designado por "Máfia das Sentenças", que levou à prisão vários juízes, advogados e empresários, entre os quais outro português, Laurentino dos Santos, por alegadamente negociarem sentenças em benefício do funcionamento de casas de jogo no Brasil. Curiosamente, o empresário tinha sido indigitado para cônsul honorário de Portugal em Cabo Frio, mas a sua nomeação, perante os acontecimentos, acabou por ser suspensa. Licínio Bastos tem ligações a dirigentes do PS e alegadamente financiou a campanha eleitoral do socialista Aníbal Araújo, candidato a deputado pelo círculo fora da Europa nas legislativas de 2005. Aquela nomeação, segundo os dados divulgados, devia-se a essas ligações e não a elevado grau de honorabilidade, como seria de esperar para tal cargo. Enfim, diz-me com quem andas...

9 comentários:

Maria Faia disse...

Políticos...corrupção...por ingenuidade?!
Não sejamos ingénuos a esse ponto. Pelo que temos visto e ouvido, não há ingenuidade na corrupção activa ou passiva de certos senhores dessa craveira.
Mas, deveria haver decência, vergonha e respeito pelo povo que os elege.

Beijo de Bom Fim de Semana

A. João Soares disse...

Cara Maria Faia,
O problema é esse: Fala de «decência, vergonha e respeito pelo povo que os elege». E, por outro lado, igual falta da parte do povo, sua condescendência, resignação, e até colaboração, senão aprovação e até apoio consciente.
Os políticos são parte do povo, embora comecem de pequenos a ficar viciados na pouca vergonha da exploração de quem paga impostos e se afastem dos reais problemas do País.
Há que não nos resignarmos, e criticar tudo o que acharmos menos correcto, porque será este caminho de indignação e não aceitação que levará à consciencialização do problema e à cura do mal que a todos apoquenta.

Beijinhos
João

Beezzblogger disse...

Eu, já nem digo nada, ou melhor, digo que, por este andar, e naquilo que ouço dos mais jovens, elei... quê? Eleições... não sei do que falam, nem perco tempo a um Domingo, quando posso ir a uma discoteca, ou a uma esplanada e curtir a tarde, pois de manhã é para dormir a curar a ressaca de sábado à noite...

É pena que os nossos jovens assim pensem, e são cada vez mais...


Abraços do beezz

A. João Soares disse...

Caro Beezz,
Nas eleições de que nunca sai nada diferente, porque são todos iguais, nos vícios e falta de ética, não sei se há argumentos que convençam os jovens a ir votar. Mas uma abstenção para surtir efeito na mente dos nossos políticos devia ser superior a 80%, ou quase total. Seria bom que os políticos pensassem que são servidores do Estado e não servirem-se do Estado para enriquecer e passar o resto da vida em bons tachos.
Não há receita de em poucas palavras fazer um diagnóstico e aplicar a terapêutica. É uma problema complicado e depende muito da saúde mental e da ética da sociedade em geral.

Um abraço

Anónimo disse...

Não era esse que ia ser nomeado consul?!...

Enfim, não o chegou a ser...

Mas ainda poderá vir a ser!!

Abraços

MR

A. João Soares disse...

Creio que foi nomeado e, depois devido à bronca, foi desnomeado. Veja o critério dos políticos que colocam as amizades acima dos interesses do País! E que amizades têm? Os antigos sabiam muito ao criarem os seus adágios, como este: «Diz-me com quem andas e dir-te-ei as manhas que tens». Está a ver-se que manhas têm, não está???
Um abraço

Anónimo disse...

Caro Soares
Se visitar o blog CausaNossa (causanossa.blogsopt.com)da nossa ex-embaixadora na Indonésia que terá sido recrutada no mercado do Bulhão, encontra matéria muito interessante para a nova série "O Polvo Luso-Brasileiro" .....
Um abraço
M. Amaral de Freitas

A. João Soares disse...

Caro Amaral de Feitas,
Seja bem aparecido neste espaço de comentários. Desejo vê-lo por cá mais vezes, com o seu muito saber e o seu espírito crítico bem refinado pela larga experiência. Vou já a caminho do blog que indica.
Um abraço
A João Soares

A. João Soares disse...

Eis o post de Ana Gomes em «Causa Nossa», atrás referido por A. Freitas

O Jogo do Bicho

O país está finalmente a concluir que José Lello, esse pilar da nossa engenharia (hidráulica, electrotécnica, mecânica?), da política socialista, da nossa administração pública e privada e da política externa, das comunidades portuguesas e da culturalidade desportiva, aquém e além-mar, está ainda manifestamente sub-aproveitado. Apesar de já muito ajoujado como gestor e administrador de empresas, dirigente desportivo, deputado, administrador da AR, Presidente da Assembleia Parlamentar da NATO e, ainda, responsável pelo Departamento de Relações Internacionais do PS. Pelo menos.
A verdade é que José Lello se aplicou ao longo dos anos, na aparelhagem socialista e do Estado, a desenvolver múltiplos talentos empilhadores que «in illo tempore» o terão feito (dizem-me) vendedor na «Catterpillar»: evidencia hoje total descontracção no accionamento em simultâneo de várias "expertises" - da promoção de qualquer banha-da-cobra, à penetração do submundo futebolistico, passando pela gestão contabilistica criativa de campanhas eleitorais «off-shores». E ainda demonstra apurado faro no “head hunting” de representantes socialistas e consulares devidamente encartados no Jogo do Bicho ou engenharias similares.
[Publicado por AG]