sexta-feira, 25 de maio de 2007

Às mulheres de meia idade

Recebi por e-mail de uma amiga que completou a bonita idade de 45 anos. Quis publicar aqui, como homenagem às minhas visitantes que se encontram na quarta década de vida, mais ou menos, mas senti que o título não se adequa ao meu caso e tenho que fazer o esforço de me imaginar na idade dos meus filhos. Aliás não é difícil pois, mentalmente, não me considero mais idoso, até, por vezes, sou perigosamente mais adolescente!
AS MULHERES DA MINHA GERAÇÃO

Hoje têm quarenta e muitos anos, inclusive cinquenta e tal, e são belas, muito belas, porém também serenas, compreensivas, sensatas e sobretudo diabolicamente sedutoras, isto, apesar dos seus incipientes pés-de-galinha ou desta afectuosa celulite que capitoneam as suas coxas, mas que as fazem tão humanas, tão reais.

Formosamente reais. Quase todas, hoje, estão casadas ou divorciadas, ou divorciadas e casadas, com a intenção de não se equivocar no segundo intento, que às vezes é um modo de acercar-se do terceiro e do quarto intento. Que importa?

Outras, ainda que poucas, mantêm um pertinaz celibatarismo, protegendo-o como uma fortaleza sitiada que, de qualquer modo, de vez em quando abre as suas portas a algum visitante.

Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!

Nascidas sob a era de Aquário, com influência da música dos Beatles, de Bob Dylan, de Lou Reed, do melhor cinema de Kubrick e do início do boom latino-americano, são seres excepcionais.

Herdeiras da revolução sexual da década de 60 e das correntes feministas, elas souberam combinar liberdade com coqueteria, emancipação com paixão, reivindicação com sedução.
Jamais viram no homem um inimigo, apesar de lhe cantarem algumas verdades, pois compreenderam que a sua emancipação era algo mais do que pôr o homem a lavar a louça ou a trocar o rolo do papel higiénico quando este tragicamente se acaba.

São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam.

Usaram saias indianas aos 18 anos, enfeitaram-se com colares andinos, cobriram-se com suéteres de lã e perderam a sua parecença com Maria, a Virgem, numa noite de sexta-feira ou de sábado, depois de dançar El Raton com algum amigo que lhes falou de Kafka, de Neruda e do cinema de Bergman.

No fundo das suas mochilas traziam pacotes de rouge, livros de Simone de Beauvoir e fitas de Victor Jara, e, ao deixar-nos, quando não havia mais remédio senão deixar-nos, dedicavam-nos aquela canção, que é ao mesmo tempo um clássico do jornalismo e do despeito, que se chama "Teu amor é um jornal de ontem".

Falaram com paixão de política e quiseram mudar o mundo, beberam rum cubano e aprenderam de cor as canções de Sílvio Rodriguez e de Pablo Milanez, conhecerem os sítios arqueológicos, foram com seus namorados às praias, dormindo em barracas e deixando-se picar pelos mosquitos, porque adoravam a liberdade e, sobretudo, juraram amar-nos por toda a vida, algo que sem dúvida fizeram e que hoje continuam a fazer na sua formosa e sedutora madureza.

Souberam ser, apesar de sua beleza, rainhas bem educadas, pouco caprichosas ou egoístas. Deusas com sangue humano. O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro para que suba, se inclina sobre o assento e, por sua vez, abre a do seu companheiro por dentro.
A que recebe um amigo que sofre às quatro da manhã, ainda que seja seu ex-noivo, porque são maravilhosas e têm estilo, ainda que nos façam sofrer, quando nos enganam, ou nos deixam, pois o seu sangue não é suficientemente gelado para não nos escutar nessa salvadora e última noite, na qual estão dispostas a servir-nos o oitavo uísque e a colocar, pela sexta vez, aquela melodia de Santana.

Por isso, para os que nascemos entre as décadas de 40 e 60, o dia da mulher é, na verdade, todos os dias do ano, cada um dos dias com suas noites e seus amanheceres, que são mais belos, como diz o bolero, “quando está você”.

Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!
(escrito por Santiago Gambôa, escritor Colombiano)

5 comentários:

Amaral disse...

João
Bela homenagem. É verdade as mulheres de quarenta e de cinquenta ou mais anos são belas se souberem envelhecer e aceitar a velhice.
Bom fim-de-semana
Abraço

A. João Soares disse...

Caro Amaral,

Inteiramente de acordo. A beleza existe sempre, embora com aspectos diferentes. Fico deleitado quando olho uma idosa de cabelos completamente brancos com brilho de neve. Umas rugas nada destroem.
E é desejável que queiram ser ainda mais idosas, sinal de que continuam a viver com boa disposição.
Bom fim-de-semana

Anónimo disse...

Bem bonitas, bela geração.

Como diz o Amaral aceitar a velhice, eu digo, qual velhice? Curtir os anos...

Ora toma lá!

Abraço

MR

Anónimo disse...

Meu amigo

Obrigada por se ter lembrado de mim.

Gostei imenso deste post e embora ainda não tenha chegado aos 45 anos, recebo com gratidão as palavras que aqui foram escritas.

Parabéns também para todos os Homens que sabem regar as damas de forma a que elas fiquem esplendorosas independentemente da idade.

Beijos com amizade

Alexandra Caracol

Convite: Espero por si e por todas as damas e cavalheiros que me queiram visitar na Feira do Livro, no Marquês de Pombal em Lisboa, a 2 e 9 de Junho no Pavilhão 157 da Contra Margem, onde estarei a efectuar sessões de assinaturas dos meus 9 livros. Para aprofundar mais o propósito desta sessão de assinaturas se quiser veja em

http://violada_mas_nao_vencida.blogs.sapo.pt/50034.html

e assista à entrevista concedi recentemente à TVI.

A. João Soares disse...

Pois o Relvas tem razão. É preciso curtir os anos, viver cada momento com toda a garra para dele tirar o máximo prazer e realização, sejam quais forem as condições físicas.
Gostei das palavras poéticas, sensíveis da jovem Alexandra Caracol, com o seu intelecto sempre activo e muito produtivo.
Desejo-lhe o maior êxito na Feira do Livro e vou procurar passar por lá, embora tenha limitações de horário que me condicionam as saídas de casa.
Abraços
A. João Soares