Sempre gostei da matemática e nada tenho contra as estatísticas, Porém, fico eriçado quando se utilizam os números estatísticos para lançar poeira aos olhos das pessoas. Já é velho o exemplo de que quando dois amigos comem um frango de churrasco se diz que cada um comeu meio frango, o que pode ocultar a triste realidade de um ter comido todo o frango e o outro só o ter cheirado ou nem isso.
O aumento do PIB per capita não significa obrigatoriamente que todas as pessoas melhoram o seu poder de compra, pois o mais provável é que haja muitos que pioram a sua situação financeira em compensação de outros que aumentam grandemente a sua riqueza. A cada aumento do PIB per capita há, forçosamente, uma maior diferença entre os mais ricos e os mais pobres.
Moralmente, seria defensável que os aumentos beneficiassem os mais carentes para ser obtida uma mais justa e equilibrada distribuição da riqueza. Mas tal só seria conseguido por uma intervenção autoritária do Poder político, contra-natura, e que seria injusta e desincentivaria o desenvolvimento, pois este advém, normalmente, das capacidades dos mais aptos, dos mais preparados, dos mais ousados, que se sentiriam desmotivados e explorados se lhes retirassem o fruto da sua actividade meritória, com medidas tendentes à igualização da riqueza. E, pelo seu poder económico, exercem uma pressão incontornável sobre os governantes.
A recompensa do mérito não é de hoje e já a Bíblia (Mateus 25.14.30 e Lucas 19.11-27) nos relata a «parábola dos dez talentos», segundo a qual cada um deve receber o prémio da sua produtividade, o fruto da sua capacidade de gestão.
Daí que as manifestações contra a globalização, ocorridas durante a reunião do G8, sendo a expressão de uma justa preocupação dos menos favorecidos na economia mundial, poucos resultados palpáveis obterão. Mas se forem bem conduzidas com elaboração de informação credível poderão tornar as condições menos punitivas para os explorados, devendo para isso apontar sugestões que beneficiem também os mais ricos, como a protecção do ambiente e tipos de actividade que, dando lucros aos tubarões, melhorem as economias mais débeis, elevando a qualidade de vida dos habitantes dos países menos desenvolvidos. Mas nunca perder de vista que os poderosos só são sensíveis ao aumento dos seus lucros, o que conduz a que a argumentação terá de ter isso em conta e sugerir actividades que sejam aceitáveis por eles e, ao mesmo tempo, úteis aos mais pobres. Há que seguir a estratégia dos navegadores das caravelas, não enfrentando os ventos dominantes mas utilizando-os para progredir com sucesso.
Areia na engrenagem russa
Há 1 hora
9 comentários:
Mais uma vez encontro aqui uma reflexão lúcida e não enfeudada a cânticos pueris de mudança ou a palavras de ordem encomendadas.
Chama-se a isto ser inteligente nas manobras. reconhecer que o contrário tem todas as armas na mão e dar-lhe iscas para que as utilize não contra nós mas contra o que a todos ameaça.
Subscrevo, portanto, esta análise.
Um abraço amigo
Jorge G
Uma análise realista.
Paulo
Aumento consecutivo da gasolina 6,5% e gasóleo 5,6 só este ano.
Aumento das taxas de juro de novo pela oitava vez este ano...
Copo meio cheio, meio vazio??
cumprimentos
Amigos J.G, Paulo Sempre e M Relvas,
Quanto ao copo meio cheio concordo se o conteúdo for destinado pelos Poderosos aos cidadãos mais desprotegidos. Estaria vazio se contivesse «vinho do Porto ou outro néctar agradável a nós destinado.
Mas, apesar destas realidades serem visíveis e compreensíveis, passam despercebidas a muita gente. Há muitas pessoas convencidas que os detentores do poder pensam em nós. Pura miragem e ilusão ingénua e infantil. Basta entreabrir os olhos para vermos que é assim e que a utilização de argumentos aparentemente válidos é falaciosa e se destina para manter o «pagode» ensonado e indiferente ao seu trágico destino.
Mas o mal está generalizado e nem a séria Inglaterra escapa, pois até o ministro da educação proíbe os melhores alunos de levantar o braço quando o professor pergunta «Quem sabe?». Não lhes interessam as pessoas esclarecidas, preferem que sejamos todos burros... ou camelos.
As dificuldades aumentam e a capacidade de compra diminui. Andamos a apertar o cinto há dois anos para quê? Quando virá a recompensa desse sacrifício? Porque apagaram a luz ao fundo túnel? Haverá mesmo fundo?
Abraços
A J S
Isto é só esquerdalha da grossa!
Meio frango...Ah!!!
Ao visitante «Zé Ninguém», eu pediria a definição da sua frase : o que quer significar com «isto» e com «esquerdalha».
Neste blogue que já tem 330 posts, em menos de 7 (sete) meses de existência, encontra aquilo que o visitante J.G. diz « uma reflexão lúcida e não enfeudada a cânticos pueris de mudança ou a palavras de ordem encomendadas. Chama-se a isto ser inteligente nas manobras. Reconhecer que o contrário tem todas as armas na mão e dar-lhe iscas para que as utilize não contra nós mas contra o que a todos ameaça». Isto é isenção , apartidarismo, racionalidade nas análises, distanciamento de disputas pueris.
Esta isenção, já me trouxe epítetos de fascista e de comunista, de maneira que «esquerdalha» não me belisca.
Mas se o «Zé Ninguém» quer, com as suas lacónicas palavras, defender a direita, acaba por estar a ofendê-la, porque segundo você, ela não sabe o que são estatísticas, em cuja introdução se refere o caso do «meio frango» que tão má digestão lhe causou.
Também considera que a direita anda de olhos fechados para a realidade que a cerca, o que não é verdade, pois ainda hoje no Parlamento, o próprio Paulo Portas, concordando com o que aqui está no post, ele, um homem muito prático e conhecedor da vida dos portugueses, em resposta à afirmação do PM de que a riqueza do País aumentou, disse que há cada vez mais pobreza e maior distância entre o rendimento dos mais pobres e o dos mais ricos. E ele não é «esquerdalha»!!!
O «Zé Ninguém», além de ofender a direita portuguesa por lhe atribuir cegueira sociológica, ofendeu também os comentadores anteriores, por os considerar «esquerdalha» só pelo facto de concordarem que as estatísticas são números abstractos que nada significam nos casos concretos individuais. Isto não é «esquerdalha» mas sim sabedoria do que são estatísticas, matematicamente falando.
Agradeço a visita que fez ao Do Mirante e espero que nos brinde com uma explicação do comentário que aqui deixou e que se expresse de forma urbana, como fiz neste comentário, o que aliás não será difícil num homem de direita, que é suposto ser de fino trato e de maneiras distintas e nobres.
Cumprimentos
A. João Soares
Caro A.João Soares
Hoje ser-me-a difícil, pois estou cansado,mas no decorrer do dia de amanhã postarei no Absolutamente Ninguém, com prazer, uma resposta a este nosso interlúdio!
Aconselho, a título de análise prévia, a leitura, no referido Absolutamente Ninguém, do post, de 3 de Junho de 2007, intitulado:
Esquerdalhas e Faschizoides! (1)
Era também do interesse do nosso debate a consulta,no referido Absolutamente Ninguém, do post, de 30 de Abril 2007, intitulado:
Assim se vê a força do PP (Sinopse)
Coloquem os vossos comentários nos referidos posts para haver trabalho de casa feito que evite um,novo,post maçudo. Assim dir-se-à apenas o necessário para a manutenção desta dialéctica prazeirosa.
Com os melhores cumprimentos de
Absolutamente Ninguém.
Caro Zé,
Depois de visitar o seu blog vi que o seu comentário nada tem de agressivo, antes se insere no tema que nele vem desenvolvendo e lá deixei um modesto comentário.
Cumprimentos
Caro João
Os seus simpáticos comentários foram recebidos por Absolutamente Ninguém com enorme prazer. Também gosto de o ler!
Não vou dar a resposta prometida pois pôde verificar que a ironia, que uso na abordagem limita-se a ser subserviente à utopia, sem barricadas, que sustenta a praxis de desenvolvimento das minhas reflexões. Se não acreditasse nesta forma não teríamos tido o prazer (o meu pelo menos) de nos "conhecer".
Gostei de o conhecer e já linkei o seu Do Mirante, para não lhe perder o fio, à sua meada!
Apareça
Abraço
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