Atravessar na passadeira pode dar direito a multa. Talvez poucos saibam, mas o peão é obrigado a verificar se há condições de segurança antes de cruzar a faixa de rodagem. Senão o fizer, pode ser multado. Embora pareça anedota, não é. Por isso daqui chamo a atenção dos peões (e todos o somos frequentemente). É uma situação rara. Mas aconteceu. Em Beja.
Não é novidade para a grande maioria dos cidadãos que é proibido atravessar com sinal vermelho ou fora das passadeiras (sempre que exista uma a menos de 50 metros de distância), embora o incumprimento esteja generalizado em Portugal. Mas, embora surpreenda quase todos, usar a passadeira também pode ser motivo de infracção. Um peão precipitou-se para a passadeira, obrigando o condutor de um automóvel, que vinha a curta distância, a uma travagem brusca. Um agente de autoridade, que presenciou a cena, puxou do bloco de multas e autuou o peão.
Efectivamente, o artigo 101.º do Código da Estrada, define os cuidados prévios de quem pretende cruzar a faixa de rodagem. Além de ser obrigado a escolher os locais devidamente assinalados, sempre que existam, os peões devem certificar-se de que há condições de segurança para o fazer. "O peão não pode, só porque está na passadeira, atravessar de qualquer maneira", tem o dever de não avançar se a distância a que se encontra dos carros inviabilizar uma travagem segura. Porém, quantificar esta distância de prudência não é fácil, já que os 100 a 150 metros que geralmente se convenciona como sendo suficientes para uma travagem livre de perigos, podem não o ser. Segundo o artigo 101º, deve passar o mais rapidamente possível e em linha recta nas passagens próprias.
A Direcção-Geral de Viação, perguntada pelo jornalista que pretendia obter dados relativamente a esta infracção, não forneceu esclarecimentos.
A multa prevista para atravessar na passadeira sem as devidas cautelas varia entre dez e 50 euros, um valor considerado como insuficiente para dissuadir as más práticas. Mais ainda porque os casos em que é aplicada são "muito raros". E é igual ao previsto para atravessar fora da passadeira e inferior ao que é devido por passar com sinal vermelho (entre os cinco e os 25 euros). Mais grave é criar embaraços ao trânsito (de 60 a 300 euros).
Muito pouca gente leu e interpretou a versão mais recente do Código e no grupo de peões encontram-se os analfabetos e os que sabendo ler, não exercem. Por outro lado, estas restrições são de tal maneira fluidas e imprecisas que é difícil o peão ver ser-lhe dada razão. Afinal a prioridade nas zebras é de tal maneira condicionada que não é propriamente prioridade, o que faz lembrar a injustiça de o peão nem sequer ter prioridade em cima os passeios que encontra muitas vezes obstruídos por carros ali estacionados impunemente, obrigando carrinhos de bebé e cadeiras de deficientes a percorrerem grandes distâncias pelo asfalto, com os perigos inerentes, porque os automobilistas, esquecendo-se que são muitas vezes peões, não perdoam esses «abusos » dos peões!
Tal situação é frequente em Cascais, nomeadamente na Avenida 25 de Abril, junto ao BPI. A isto acrescem os buracos nos passeios, o que acontece na área referida. Também um pouco mais a ocidente deste ponto, o passeio está a ser de tal forma reduzido que vai ser difícil dois peões cruzarem-se sem um deles descer ao asfalto.
Os legisladores e os autarcas quando abordam os problemas da circulação de carros e de pessoas, parecem robôs sintonizados para a sua condição de automobilistas e esquecendo a sua eventual condição de peões (que eles são entre a saída do carro e a entrada posterior)
Além da utilização abusiva dos passeios pelos carros, é neles que são colocadas todas as infra-estruturas para apoio da circulação dos carros e, o que choca, é não haver o cuidado de serem implantadas por forma a causarem o mínimo incómodo aos peões. Parece haver aqui uma discriminação classista, de contornos incompreensíveis, mas com aspectos reais.
terça-feira, 5 de junho de 2007
Peões multados nas passadeiras
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8 comentários:
Julgo que a lei diz mesmo que "o peão tem de se mostrar" antes de avançar para a passadeira...
O que quer que isso queira dizer.
Um abraço
Cara Meg,
Sem dúvida, que só um suicida se atira para a frente de um carro que já não tem espaço para travar antes do atropelamento. No fundo, trata-se de civismo de parte a parte. Ando muito a pé e prefiro abdicar da minha prioridade na passadeira a obrigar a uma travagem forçada. Por vezes, com esse meu cuidado, até sou inconveniente por que há condutores que param e me obrigam a passar quando eu estava disposto deixar que eles passassem primeiro. Um velho militar na Guiné em 1959 falava num epitáfio que dizia «Aqui jaz f... que defendeu até ao último momento o seu direito de prioridade».
Acho que será mais sensato não arriscar tanto!!! E mais vale o civismo do que leis imprecisas que ficam pelas intenções e os princípios éticos.
beijinhos
João
Claro, que é isso mesmo, meu caro João.
A ironia está na lei, que diz que o peão "tem de se mostrar". É óbvio, não é?
Ou será que temos de fazer o mesmo que os forcados fazem quando citam o touro, na praça?
Acabo por me divertir com a forma como eles nos tratam.
Por isso perco a compostura, meu caro amigo.
Um abraço
Caro João Soares,
é uma verdade o que aqui está.. recorda-se bem da multa de 2,50 escudos, que se passava a quem não utilizasse a passadeira.Hoje os automobilistas andam confusos, pensam que o peão tem prioridade mal ponha os pés na passadeira, mas tentam passar sempre. Os pe-oes também pensam que basta pôr o pé na passadeira para ter prioridade e que os automobilistas têm que fazer uma travagem brusca... senão lixam-se, enfim!
As autuações resumem-se aos automóveis nas passadeiras, com direito a reboque, os peõesdeixaram de ser autuados. É tudo sinónimo de falta de educação e formação...
Uma disciplina de civismo nas escolas era da maior importância para os futuros donos deste País!!
Abraço
MR
O civismo é fundamental em tudo e devia ser evidenciado por quem tem mais visibilidade pública, em que se incluem,logicamente os políticos. Mas estes dão maus exemplos porque erradamente se consideram com imunidade total, estando-se nas tintas para toda e qualquer lei. São conhecidos os casos dos excessos de velocidade de vários deles.
E o civismo não se aprende só na escola, devendo começar antes, misturado com o leitinho da mamã. Só que esta não tem civismo que chegue para ela e, por isso nada lhe resta par transmitir ao filho. E, nestas condições, a sociedade vai decaindo serena e assustadoramente, com a agravante que os governos tomam decisões erradas como aquele ministro inglês que proíbe o braço no ar nas escolas. Pobre Grã-Bretanha, o que era e o que é!
Um abraço
A. João Soares
Ohhh João Soares, se não há civismo como começar pela mamâ??Ela também precisa de ser reeducada!!
Felizmente o jurista foi muito prudente quando legislou no sentido de não dar prioridade aos peões. Antes pelo contrário, obrigou-os a mostrar a sua vontade em atravessar antes de se lançarem às cegas para o meio da estrada. Aliás, isso é o que acontece no resto do mundo civilizado. Seria altamente imprudente e criminoso dar prioridade à parte mais fraca, aquela que pode ficar esmagada debaixo de um carro ou de uma camionete. Na minha condução diária verifico que há muito mais peões que atravessam a passadeira sem olhar nem para a esquerda nem para a direita, do que aqueles que tomam alguma precaução. É frequente encontrá-los à entrada de uma passadeira numa bela cavaqueira, e de repente dá-les na cabeça e metem-se à estrada sem o mínimo cuidado. Em Portugal o perigo de atropelamento é agravado porque muitos passeios e ruas são demasiado estreitos. Como resultado, o automobilista tem de circular demasiado próximo do passeio e o peão demasiado próximo da estrada. Assim é impossível que o condutor tenha uma reacção atempada a uma imprudente travessia por parte do peão. A somar a isto, temos passadeiras que mal se conseguem ver, e quando a estrada está molhada desaparecem mesmo. O sinal de passadeira é pequeno, e está colocado em cima da passadeira e à noite tudo isto se agrava, especialmente agora, quando as Câmaras Municipais se "esquecem" de ligar a iluminação à noite e a desligam 1 hora antes de haver qualquer luminusidade.
É pena que os peões continuem a pensar que as passadeiras é terreno deles, pois isso é a causa de muitos atropelamentos.
Devia haver uma campanha na Televisão destinada a instruir os nossos arrogantes peões, reforçando a ideia que eles não têm prioridade numa passadeira que não esteja protegida por um sinal luminoso.
Caro Anónimo,
Embora costume passar na rua mais como peão do que como automobilista, acho que o seu comentário é muito sensato. O peão tem que ser consciente da sua fragilidade perante o descuido do condutor.
Actualmente, nota-se uma perigosa ausência da noção de segurança, o que se traduz em muitos acidentes em casa, no trabalho e na estrada. Arrisca-se demasiado sem pensar nas possíveis consequências. Impõe-se que nas escolas e em todas as organizações se alerte persistentemente para a necessidade de evitar acidentes para nós e para os outros.
Cumprimentos
João
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