O Diário de Notícias de hoje dedica o editorial e um artigo ao centenário de Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, um dos maiores escritores portugueses de sempre, várias vezes nomeado para Nobel. Daqui se retiram alguns tópicos.
O Governo devia ter-se feito representar ao mais alto nível na cerimónia do centenário de Miguel Torga. Não tinha de ser necessariamente o primeiro-ministro, José Sócrates, nem a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima - ambos têm direito a férias e o País não se faz só de homenagens -, mas a ocasião exigia mais atenção. Nem uma simples mensagem do PM ou da ministra da Cultura.
Curiosamente, o próprio primeiro-ministro tinha feito questão de estar presente na cerimónia de apresentação do projecto do Espaço Miguel Torga. "Governo Presente", o nome da iniciativa no âmbito da qual José Sócrates visitou S. Martinho de Anta, em Junho, o que confirma que algo agora falhou.
A ausência de um representante máximo do Governo de José Sócrates, quando se evoca o exemplo artístico e humanista de Torga - que na sua avidez das palavras sempre espelhava a portugalidade que tanto amava - não deixou ninguém indiferente.
O mais inconformado, o jurista António Arnaut, um dos fundadores do PS, era o espelho da revolta. Emocionado e chocado, dispara aos jornalistas: "Vivemos num país que não sabe compreender os seus valores. Pelo menos do Ministério da Cultura ninguém esteve à altura da grandeza da sua responsabilidade, da grandeza deste acto." Horas mais tarde, já na Casa-Museu de Miguel Torga, em plena zona nobre da cidade no bairro dos Olivais, desabafa ao DN: "Às vezes, fica-me a doer a alma por dizer certas coisas mas não consegui ficar calado." O escritor sempre teve um símbolo do PS em casa, reconhece a filha Clara Rocha, que não quis comentar esta polémica.
O Presidente da República, que não foi convidado, enviou mensagem de apreço, recordando até palavras de Torga que evocou no discurso da sua tomada de posse. Foi pela voz do autarca conimbricense Carlos Encarnação que se ouviram as palavras do Chefe do Estado: "Nesga de terra debruada de mar, assim qualificou Torga o nosso País. Não foi por acaso que utilizei esta expressão no discurso da minha tomada de posse como Presidente da República. Ela é a síntese perfeita do Portugal que somos." Segundo Cavaco Silva, "Miguel Torga foi para muitas gerações a voz da insubmissão". E, por isso, "hoje, em que há liberdade para todas as vozes, ele é o orgulho de sermos portugueses de uma maneira diferente e autêntica". O Presidente da República sublinha ainda, nesta missiva escutada por muitos admiradores de Torga, que a "projecção nacional e internacional da sua obra, a certeza de que as páginas que escreveu sobre o património afectivo e literário perdurarão nas gerações futuras, constitui um motivo para prestar a minha sincera e grata homenagem a esta personagem ímpar da nossa cultura".
Ficam algumas interrogações sem resposta: Onde estão os governantes? No País ou no estrangeiro mais distante? Qual o conceito de cultura do Governo? Porquê e para quê existe um ministério da Cultura? Quais são os valores nacionais?
A Decisão do TEDH (399)
Há 39 minutos
9 comentários:
Torga, Torga e mais Torga!
Toda a blogosfera fala dele no dia em que faria 100 anos. Toda a imprensa. Manuel Alegre disse e bem que "Torga faz muita falta".
Só desejo que esta justa e merecida onda resulte em que mais pessoas leiam o que ele nos deixou.
Essa seria(será?) a maior homenagem que lhe podemos prestar.
Um abraço.
Mas a senhor ministra não se fez representar de forma adequada, nem o governo enviou uma mensagem digna.
Lá se safou o PR com a sua mensagem muito bem elaborada.
Abraço
Pois era o centenário de Torga e ninguem, ninguem do governo se fez representar, assim vai a nossa cultura com ministros calhaus
Saudações amigas
Mas quando a selecção de futebol vai jogar ao estrangeiro, não faltam o PM, ministros, secretários de Estado e deputados. E assim se vê a cultura e os valores éticos dos nossos políticos.
Motivos para termos orgulho de ser portugueses?
Abraço
João Soares
Infelizmente a nossa ministra (existe?) da cultura nem devia ocupar o cargo que ocupa.
Torga foi um expoente máximo da cultura em Portugal. Se há escritores que mereciam o Nobel, Torga era um.
Abraço
Uma vergonha o Governo não se ter feito representar como deve ser.
Caros Amaral e RB,
Se tivesse havido uns boys e girls barulhentos a aplaudir o evento, os políticos caiam lá todos, como se fosse futebol. Mas os boys e girls propensos a assessores também não sabem o que é cultura, literatura, patriotismo! São da mesma classe dos restantes políticos!!!
Repare na origem e na carreira dos políticos: filhos de políticos ou de seus amigos, maus estudantes, licenciados com as cunhas dos políticos familiares ou amigos, sem preparação para a concorrência da actividade privada e salvos da miséria pela protecção dos partidos. Como se os tachos não chegassem foram agora criadas algumas dezenas de lugares de assessores de deputados - estes estavam sobrecarregados de trabalho e precisavam de ser ajudados... a fazer NADA.
Este resumo, embora aceite excepções, como toda a regra, ajuda a compreender muito do que se passa no País, como este desprezo por Miguel Torga.
Um abraço
Desculpe o despropósito e queira passar a publicidade mas até aqui a sua participação faz falta !
http://absolutamenteninguem.blogspot.com/2007/08/esquerdalhas-e-faschizoides-5.html
Grato
(no post anterior pode ler um poema de Torga!
Agradeço ao Zé Ninguém a visita e o alerta pra o seu recanto, onde deixei alguns comentários que espero lhe sirvam de estímulo para continuar a qualidade dos ses posts.
Abraço
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