segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Gestão financeira da saúde

É muito raro ouvir falar o ministro da saúde em doentes e em saúde preventiva, a predilecção dele é falar de milhões de euros que se poupam com encerramento de urgências, maternidades, centros de saúde, SAPs, etc. E para onde vai o fruto dessas economias, dessas poupanças que têm causado mortes nas estradas a caminho os hospitais distantes ou nascimentos sem condições adequadas em ambulâncias a caminho de maternidades para lá do sol-posto.

A história de um empresário de Oliveira do Hospital é muito expressiva. Tendo sido vítima de três paragens cardíacas, valeu-lhe o desfibrilador da Viatura Médica de Emergência e Reanimação, que os bombeiros locais não possuem, e o facto de o Serviço de Atendimento Permanente do concelho, onde foi atendido, ainda não ter encerrado.

Apesar da sua boa vontade e generosidade, não conseguirá evitar o previsível fecho do SAP, mas não foi insensível e ofereceu à corporação de bombeiros de Oliveira de Hospital um desses pequeninos aparelhos eficazes para salvar vidas. Mas, dada a estultícia da «política de saúde» nacional, esta oferta não vai servir para nada, porque só um clínico pode utilizá-lo, pelo facto, em Portugal, o seu uso ser considerado um acto médico. Porém,, nos Estados Unidos, por exemplo, os aparelhos são visíveis em qualquer empresa e os funcionários recebem formação para saber utilizá-los.
Mas o gesto o empresário é relevante, se se tiver em conta que apenas 37 das 244 ambulâncias do INEM têm desfibrilador. Com tanta carência destes aparelhos de salvamento, ficamos sem coragem para perguntar para onde vão as poupanças com os encerramentos atrás referidos!!! E eles agora tornam-se mais necessários dado que os socorros ficam muito mais longe em distância e em tempo de deslocamento.

As políticas de saúde, se existem, parecem encaminhar o Serviço Nacional de Saúde -lo mais para o assistencialismo, diferenciando os doentes conforme o seu IRS, do que para a sua tradição universalista.

Os vários encerramentos efectuados e projectados, o aumento das taxas moderadoras, a facilidade com que são tomadas medidas de gestão sem ter em conta as realidades locais, por muito boa vontade que se queira ter, são sinais preocupantes.
Ouvem-se apreciações pouco lisonjeiras que dizem que ao ministro da Saúde caberia dar mais uma imagem de serenidade e de segurança, explicando a bondade das medidas tomadas, e menos de demagogia, que é justamente o que faz quando diz que 208 mil doentes em lista de espera para uma cirurgia já não envergonham Portugal. Mas todos sabem que envergonham.

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