«ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações, são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?»
(Eça de Queiroz, 1867, in «O Distrito de Évora»)
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Como este Eça de Queiroz consegue ser tão actual... Parece que era bruxo!
Comentário que trazia: Este texto, não só se mantém actual, como os nossos políticos e, quiçá, o nosso País (!) permanecem iguais... E porque será que nós, como Povo, continuamos a tolerar tais tipos de políticos?!
A seara parece não produzir melhor trigo, e o mondador não consegue evitar que o joio prolifere e avance no momento da colheita! Dos fracos não reza a história e eles são fortes nas artes referidas por Eça no início o texto, quais vendedores da banha da cobra.
Que continue
Há 2 horas
5 comentários:
Boa tarde1
É por isto que eu adoro o Eça. Actualíssimo e conhecendo bem a camarilha política, ele que também andou por esses lados.
as neste admirável pedaço de prosa à Eça, mordaz e contundente, algo está fora de prazo e que, de facto, nem ele poderia imaginar:
"ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção..."
Pois é, estas linham já não se adaptam à realidade de hoje...
O resto, que é muito, sim, actualíssimo e reforçado!
Um abraço amigo.
Jorge G
Caro Jorge,
Tem muita razão. Recordo aquele ministro que disse: os que se metem com o PS hadem apanhar. Mas em muitos aspectos o mau estilo linguístico é frequente. Há duas excepções a do Guterres que lhe valeu o epíteto de picareta falante e o do Sócrates que tem tanto cuidado em decorar e ensaiar o discurso que a preocupação de não se esquecer originou a grande gafe perante imigrantes de dizer que Portugal é um País pobre, mas emendou de repente.
Mas temos de reconhecer o valor do Eça que observou as características da população portuguesa mais arreigadas nas tradições que nos tornam menores em relação aos países da Europa e não só.
Abraço
João Soares
Eça não era bruxo, era visionário. Eça um escritor viajado e experimentado conhecia muitas realidades nos cantos do mundo.
Sabia também da pequenez, mesquinhez e estupidez dos portugueses. Esta vã vaidade dos nossos ignotos políticos é de bradar aos céus.
Haja paciência para tanta incompetência.
Abraço
Sem desvalorizar, muito menos na área da política, Eça e a sua actualidade, enfatizo que:
"... todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção..."
Perdeu actualidade.
Ressalvo que Eça não preveu, por não ter essa intenção, a melhoria da literacia, a universidade de conhecimento, a diminuição das diferenças culturais. Talvez não prevesse mesmo querendo a mediocridade a que chegariam as elites, nomeadamente políticas!
Abraço
Caros Amaral e Zé ninguém,
Não era bruxo. Era um conhecedor profundo do género humano e sabia bem quem nós (portugueses) somos. Hoje, os ministros não são melhores do que a restante população, antes pelo contrário, porque a igualdade alisou o panorama cultural cortando os picos mais elevados.
Mas note-se que os políticos são originários de famílias ligadas à oligarquia, afastados das realidades do País, e como «não tinham necessidade de estudar» porque tinham o futuro garantido como «boys» e «girls» E se não fossem amparados na «carreira» política, seriam uns desgraçados sem capacidade para a competitividade na actividade privada.
A previsão do Eça não chegou aqui. Aliás ele não quis fazer previsões; ele descreveu a vida da sua época e como a sociedade portuguesa estacionou numa letargia perene, hoje notamos pequenas diferenças, muitas para pior.
Abraços
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