Há dias, no Porto, o professor Cândido Agra, presidente da Sociedade Portuguesa de Criminologia enunciou os seguintes três sintomas da síndrome da "portuguesidade": medo, fuga e angústia. O medo (1) é devido a vários factores de que se destaca: falta de confiança nas instituições da Justiça, nomeadamente, a Polícia; a educação, "quanto menos informadas as pessoas estão, mais medo têm"; a influência importante da televisão; e a herança histórica.
Tendo este panorama como pano de fundo, deparamo-nos com espertalhões que exploram a situação de forma chocante e impune. Há uma injustiça social gritante que as pessoas, devido ao tal medo atávico, parecem ter receio de denunciar e até comentar. Veio a público há poucos dias que a média dos salários mais altos é 11 (onze) vezes os mais baixos. Se a média é esta, haverá, certamente, picos que passarão das 20 vezes. E, o que é ainda mais grave, ninguém procura tornar estas disparidades menos escandalosas. Na realidade, uma família tem gastos independentes do grau de riqueza e outros que são ostentação de luxo da «elite». Ora para estes luxos, seriam suficientes, para marcar a diferença de competência e de responsabilidade profissional, salários máximos de cinco ou seis vezes os mais baixos. Em casos muito excepcionais, poderão ser um pouco mais.
Mas a exploração tem outros aspectos gritantes. Não vou entrar em pormenores, deixo os links para os interessados poderem colher mais informação e limito-me a simples referências. O poder de compra está muito reduzido, não se fala de poupanças, as prestações da casa e outras estão a deixar muitas famílias em situação de falência; e as próprias dívidas (2) ao fisco cresceram muitas vezes face ao ano anterior
Em contraste com as péssimas condições que têm sido impostas ao povo, através de más políticas sócio-económicas e da focalização nos benefícios do grande capital, os lucros dos bancos privados (3) subiram 23%, os bancos (4) lucram 6,3 milhões por dia, os lucros da própria CGD (5) sobem para 490 milhões, e os seguros registam o melhor resultado (6) de sempre.
Com estes títulos nos jornais, mesmo os cidadãos menos atentos, que enfrentam um contínuo, persistente e cada vez mais doloroso apertar do cinto, sentem dentro de si os três sintomas enunciados pelo professor Cândido Agra e outros que podem inesperadamente explodir numa qualquer manifestação colectiva de que poderão sair efeitos traumatizantes. Não quer dizer que essas manifestações não sejam estimulantes para uma vida futura melhor e mais justa.
Momento cultural
Há 5 horas
1 comentário:
Acrescentava-lhe um outro sintoma, o COMPADRIO, também muito enraizado na nossa portuguesidade.
Abraço.
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