quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O (des)prestígio dos políticos

Jorge Sampaio, quando PR, numa visita ao concelho de Sátão, no distrito de Viseu, em discurso oficial, apelou para a necessidade de combater a «campanha anti-política» e para se prestigiarem os políticos. Fê-lo no local errado e perante a audiência menos adequada.

Apraz-me ter escrito esta ideia, na ocasião, numa carta aos jornais, em que sugeria que tal apelo fosse feito perante uma reunião alargada de deputados, governantes e autarcas, pois são eles que, com o desempenho das suas funções, os seus comportamentos, atitudes e acções, se tornam ou não merecedores de prestígio, respeito e consideração. As pessoas do Sátão, como as de qualquer ponto do País, nada podem fazer a favor desse prestígio a não ser continuar de olhos fechados, indiferentes às «palhaçadas» dos políticos.

Um outro facto merece ponderação pela forma como o «prestígio» tem sido encarado. No momento da tomada de posse do Dr. João Bosco Mota Amaral na Presidência da Assembleia da República, o seu antecessor discursou no sentido de se prestigiarem mais os deputados aumentando-lhes o vencimento e as regalias. A seguir, o empossado, mais sensato, defendeu o mesmo objectivo do aumento do prestígio dos parlamentares, mas este devia ser obtido pelo seu desempenho na feitura de leis adequadas às necessidades do País, na defesa dos interesses da população, legal detentora da soberania, e no controlo dos actos do Governo para que tudo funcionasse sem atropelos de valores e princípios democráticos, decorrentes da vontade do povo soberano.

Mas as palavras de Mota Amaral tiveram o mesmo efeito que o «sermão de santo António aos peixes» de Padre António Vieira. Na realidade, todos procuram obter o máximo benefício pessoal, sem cuidarem da defesa de quem neles votou para serem seus representantes. Aliás, o sistema vigente, sem eleições directas não cria laços entre eleitores e eleitos, desresponsabiliza os eleitos que arrogantemente se julgam no direito de decidirem o que lhes vem à cabeça.

Estas reflexões foram sugeridas pela notícia de que ontem a comissão parlamentar de Finanças foi anulada por falta de quorum. Apesar das badaladas novas regras que pressupunham os deputados mais responsabilizados e o Governo mais fiscalizado, não deixou de haver esta palhaçada, que já teve um antecedente espectacular na quarta-feira santa de poucos anos atrás, em que o plenário se viu impossibilitado de votar os diplomas agendados, por falta de quorum.

Bem dizia Jorge Sampaio, embora em local errado e para ouvintes inocentes destas balbúrdias, que é preciso prestigiar os políticos. Bem precisam, para «Bem da Nação»!!! Mas não vejo que consigam adquiri-lo! Não é com arrogância nem com vaidosas preocupações de retoques da imagem que atingem esse desiderato. Para melhorar, isto precisa mais do que cosmética.

E qualquer dia, com as centenas de novos assistentes pessoais dos «senhores» deputados, pagos pelos contribuintes, os deputados passarão a fazer-se representar nas bancadas do hemiciclo e nas comissões. Pelo andar da carruagem, não admira que tal venha a acontecer! Com tais famosos antecedentes, tudo é possível. Oxalá me engane.

6 comentários:

Magno disse...

Afinal estamos em Portugal e nada que o politico faça se leva a mal!
O português apenas se preocupa com o carro se é bloqueado quando chega a Emel, ou se o radar ou o policia não o apanham em excesso de velocidade!
O resto não queremos saber, pois por mais que nos roubem ou aumentem a gasolina, tirem nos tudo menos o carro!
Um abraço, de quem já não pode mais com o parolismo do português!

A. João Soares disse...

Caro Magno,
O português sou eu, você e mais uns milhões. Cada um de nós tem o dever de ajudar os outros a olharem e verem, a fim de não sermos enganados. Parece que o primeiro passo será deixarmos de votar. Eles que se elejam mutuamente, com a ajuda dos familiares e amigos e que não venham dizer que representam Portugal. Olhe o que aconteceu em Lisboa, em que o presidente da Câmara foi eleito por um décimo dos eleitores potenciais. A partir daí, as coisas terão de mudar.
Um abraço

Mentiroso disse...

Evidentemente muito bem apresentado. Só falta avançar a solução. Não uma cópia suja da outra esterqueira aqui ao lado, nem copiar só o que está mal nos outros países, que deste método já conhecemos o resultado: juntando cá o lixo dos outros tornamo-nos a estrumeira geral.
A solução é terminar com um sistema onde as eleições uma fantochada que não elege ninguém (pior que as do Estado Novo quando as havia) e são uma palhaçada (sem aspas) e para mais não servem que para patrocinar as escolhas, decisões e todos os abusos da corrupção, como apontados no post. A única solução é adoptar um sistema democrático, que este não tem essas características. A soberania não pode estar num parlamento em deputados, em juízes, ministros nem toda essa trupe de pedantes abusadores e corruptos. Numa democracia, a soberania está no povo, é isso que o nome significa, foi assim que foi originalmente concebida, não chamemos assobio a uma bola. Ela existe nalguns países, mesmo até no europeu mais conservador, a Suíça. Aqueles que dizem representar o povo não podem ter o direito de lhe desobedecer, já que são apenas seus lacaios. Então agora eles é que decidem quanto ganham sem que o povo o aprove? Então, eles é que decidem como se deve reformar a Segurança Social? Então, eles é que decidem para onde vai o dinheiro de cada imposto? Que façam propostas sobre as decisões principais, para serem aprovadas por referendos, como numa democracia, ou então que digam que temos um sistema mais oligárquico que o dos EUA, o qual é menos porque tem um senado. Controlem-se todos os lacaios.

A. João Soares disse...

Caro Mentiroso,
Agradeço esta sua achega que torna muito mais claros e completos os conceitos que merecem ser reflectidos.
Salienta a função de controlo que é fundamental e que se segue à tomada de qualquer decisão. Se esta deve ser preparada segundo os seis pontos que ficaram referidos no post Teimoso, deve ser seguida de um controlo rigoroso com vista à introdução de pequenas correcções do rumo, na aplicação, a fim de ser atingido o objectivo para mais benefício do País, isto é, da população em geral.
Estamos habituados a ver, em vez dessas pequena adaptações, novas reformas, novas alterações de fundo, antes que as anteriores tivessem sido cabalmente aplicadas. Isto é facilmente visível nas alterações ao Código da Estrada.
Repare-se que foram recentemente construídos inúmeros parques de estacionamento no centro de Lisboa e um túnel que custou muito caro aos contribuintes, do que resultou a entrada de mais viaturas na cidade.
Agora, perante esse aumento de viaturas, estão a atacar duramente o mau estacionamento!!! Ora houve um erro e não se ataca as causas do problema. A solução devia ter sido construir esses parques na periferia e não no centro. Os carros deixariam de entrar na cidade a não ser que fossem aí indispensáveis. Os transportes públicos passariam a circular mais eficientemente, o ar seria menos poluído. Há um local onde pode ser construído um silo auto com enorme capacidade, sem agredir a imagem ambiental - junto ao viaduto Duarte Pacheco, com entradas e saídas, para as Amoreiras e para a Avenida de Ceuta. Levaria muitos milhares de carros. Já deixei essa ideia em vários escritos e continuo a considerá-la válida. Noutras entradas da cidade pode ser aplicada solução parecida, adequada ao local, e daí sairiam carreiras de autocarro ou metro para a rede urbana.
Ouçam o povo. Ouçam pessoas que não sejam yesmen, nem estejam financeiramente interessadas em qualquer das soluções possíveis.
Para que servem as centenas de assessores? Eles só servem para engordar a vaidade e a sensação de poder dos políticos.
Abraço

Mentiroso disse...

A questão dos transportes dá muito pano para mangas e já está descrita AQUI e AQUI. Resumindo, há que começar pelo princípio e não construir a casa pelo telhado. O princípio é a planificação dos transportes públicos, que estão organizados como a maioria do restante, por um demente; parques suficientemente grandes, mais junto à origem do tráfico do que na periferia das cidades maiores, onde as pessoas possam estacionar o dia inteiro e apanhar o transporte público para a cidade, gratuitos. Sem começar por aqui é tudo uma farsa de mezinhas facilitistas e propaganda para caçar votos. O problema continua. Temos os exemplos das cidades europeias, mas quere-se começar pelo que eles fizeram em último. Como de costume.

A. João Soares disse...

CCaro Mentiroso,
Realmente, qualquer problema, deve começar a ser resolvido pela sua definição, a sua análise completa e pormenorizada. Só a partir daí se começam os alicerces, seguindo o esquema referido em Teimoso.
Nunca deve ser feito o que se vêm Portugal, colar uma solução, que é um remendo em tecido diferente, e depois espera-se fazer adaptações. Prática manhosa das tentativas, erros e correcções. Mas nem sequer existe inteligência para as correcções e faz-se nova lei que será alterada ao primeiro choque. Estamos cheios de leis que nunca foram totalmente colocadas em execução. Vejam-se os comentários acerca do CPP, incluindo os do PR e os do próprio min. da Justiça.
A estratégia dos nossos «cérebros» assenta no «depois há-de se ver e fazem-se adaptações».
Um abraço e bom fim-de-semana
AJS