sábado, 1 de setembro de 2007

PR veta orgânica da GNR

Recebi por e-mail do meu amigo V.C. a carta enviada pelo PR à AR em que comunica e justifica a não promulgação do diploma sobre a orgânica da Guarda Nacional Republicana. Trata-se de um documento muito esclarecedor dos inconvenientes da maioria absoluta quando levada ao autoritarismo de decidir sem ter em atenção as opiniões da oposição, como aqui já foi referido e aqui e também aqui.

A carta, como não podia deixar de ser, cinge-se ao teor do diploma em apreço, realçando a inovação do posto do Comandante-geral e a finalidade da instituição que colide com a estrutura operacional do vector armado da Defesa Nacional, colocando em risco a coerência e coesão desta. Mas, o problema da GNR é muito mais profundo e não se vê, da parte da maioria, coragem para o equacionar. A criação da GNR, como corpo especial de tropas, data de 3 de Maio de 1911, logo após a implantação da República e é pouco claro que, nas condições actuais da vida do País, existam razões lógicas para a sua manutenção em moldes idênticos aos primitivos.

Embora a permanência das tradições possa ser útil, nem sempre isso acontece. Os factores que, em determinada data, justificaram certas decisões, raramente se mantêm o que obriga a que estas tenham de ser corrigidas ou mesmo anuladas. Há que ter coragem de formular interrogações sobre a GNR, analisar as virtualidades e defeitos de cada resposta, comparar as mais válidas e escolher a melhor solução para a segurança interna do País. Justifica-se a existência de duas instituições policiais, PSP e GNR? Qual a razão de a tentativa posterior ao 25 de Abril de as unir sob um mesmo comando foi colocada de lado? Qual a vantagem de hoje a GNR ser um corpo militar? Qual a percentagem de agentes da GNR que estão a desempenhar funções inerentes directamente à missão? Parece que é mínima devido ao aumento da burocracia e à «obesidade» da complexa estrutura de comando. Qual a solução utilizada nos países europeus mais evoluídos e desenvolvidos social e economicamente? Desses qual o modelo que melhor pode servir à população e à dimensão do território português?

Um dia, esta profunda reestruturação tem de ser feita. Porque não se aproveita esta ocasião em que se está a mexer no assunto? Porque não se aproveita a sensibilidade ao simplex para se criarem estruturas de segurança mais simples e eficientes? O peso da estrutura da GNR, cada vez mais complexa, torna-a menos eficaz, como se viu na destruição da cultura de milho de Silves que não foi evitada apesar dos blindados, dos cães e dos cavalos que esta força de segurança possui.

18 comentários:

Anónimo disse...

Penso que a pretensão do Governo não é muito séria, como quase sempre. Acredito que o objectivo seria criar uma espécie de Guarda Pretoriana do Regimme, como mais uma ferramenta para o actual partido no poder se perpetuar na governação. Mas posso estar enganado.
De qualquer forma, o quadro das ameaças actuais justifica a tendência para favorecer a segurança interna em detrimento da contenção de uma invasão convencional. Eu sei que há a necessidade de acorrer aos conflitos externos com forças de manutenção de paz o que, por si só justifica a existência de Forças Armadas (F.A.).
Porém, o combate ao terrorismo, que é o que nos preocupa mais, só pode ser feito com base num sistema de Informações muito bem montado que, em conjunto com as forças de segurança façam face às ameaças.
De qualquer forma, não se podem menosprezar as F.A. porque nunca se sabe se, de um dia para o outro, rebenta um conflito internacional de grandes proporções. Nada mais instável que a paz mundial.
Só que os Governos, e não só o nosso, como estão à espera que a castanha rebente na boca das administrações seguintes, tendem a descurar as F.A..

A. João Soares disse...

Um dos grandes males do nosso País é o impulso emotivo de fazer grandes alterações estruturais, sem saber porquê nem para quê.
Não há neste momento alterações da vida sócio-económica do País que justifiquem as alterações pretendidas que servem para satisfazer algumas pessoas e criar o tal corpo de defesa pretoriana. Creio que as perguntas que deixo no fim do post são pertinentes e podem ser completadas por muitas outras.
Estou com curiosidade em ver como se comportará a oposição na próxima discussão do tema. Mas não ficarei admirado se, em vez dos grandes conceitos, dêem prioridade a pequenos aspectos concretos.
Um abraço

Anónimo disse...

É uma situação complexa. Realmente caro AJS e deprofundis, a boa época de resolução do problema foi ultrapassada com a aprovação da nova lei de segurança interna.

Agora quando se discutirá este tema de novo?Quem vai ter a coragem de o reabrir?

A questão do nosso PR é pertinente no sentido em que o cmdt geral da guarda passaria a ter o posto de general, equivalente aos dos três ramos.Haveria um choque? Ou o cmdt geral só se subalternizava, ou não, ao CEMGFA?Ficando equiparado aos restantes chefes de ramo?

Esse novo general ficava com um posto idêntico ao dos que conversam com o PR -cmdt supremo das FA, mas só o faria se chamado na sua condição de cmdt da GNR,dependente das ordens do governo...

Aqui encontramos a pertinente comparação com o cmdt/director nacional da PSP, apesar de ser civil, segundo os estutos actuais (Já foi chancelada positivamente a nova lei orgânica da PSP pelo PR)tem o posto equivalente a major general, o que seriam dois postos abaixo.

Por outro lado penso que a GNR tem especifidades que comportam um general:Efectivos superiores a alguns ramos,responsabilidades, quanto a mim superiores, de visibilidade e operacionalidade diária nas ruas, também a nível internacional.

Também um oficial de prestigio não arriscará a sua carreira se souber que não poderá ascender a general chefe de um ramo, por troca de comandante da GNR. Uma interrogação, pois não passará de tngeneral.

Concordaria em algumas mudanças se fosse revista a lei de segurança interna, bem como alguns ajustamentos sérios nas FA.Há unidades sem eira nem beira e outras importantes sem resposta.

Do modo como está é tudo duplamente mais caro, demorado e excessivo.
A guarda é prestigiante e não se deve destruir a sua vertente militar, mas isso comportava mudanças radicais na orgânica da GNR, da PSP e das unidades das FA.

Portugal não se pode dar ao luxo de ter três comandantes com todo o "apoio" que os CEM dos três ramos das FA.

Haveria um chefe de estado maior das FA e conjuntamente, sob as suas ordens três tenentes generais (equivalente na marinha)- que debaixo do mesmo tecto substituiriam os pesados e anacrónicos estados maiores de cada ramo.

Só o chefe de estado maior seria general. os três sub chefes seriam tngen. Os cmdts da GNR e PSP teriam o posto de mjgen. O responsável máximo do gabinete coordenador, directamente ligado ao ministério da administração interna, seria um tngeneral por maioria de razão.

Tenho um organigama, mas não o posso publicar... está na cabeça. Engloba FA e FS!

Mas digo-vos que os incompetentes, aqueles que nada fazem, nas forças de segurança e FA são os que dizem cobras e lagartos do governo e dos comdts. Há outro grande problema nas FS, a facilidade com que alguns cmdts intermédios se estagnam em situações de "descomando" e dizem, bolas, que façam eles!

Eles próprios são o não exemplo a seguir, minando a moral, e o exemplo é como erva daninha,cresce muito e por todo o lado.



Abraço

Anónimo disse...

E se houvesse fusão da PSP e GNR (a não excluír)os militares voltariam à policia? Ou regressariam ao exército?

Seria uma força civil ou para-militar?

O gen Mourato Nunes tem feito um bom trabalho na GNR. É um militar de prestígio e digo-o não por ter a especialidade comando, mas porque acho que tinha o perfil necessário para ser general!

saudações

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas,
Nós portugueses somos realmente incapazes de pormos em marcha um qualquer sistema «simplex!!!» Gostamos da complicação, da complexidade, da confusão, ao estilo dos «intelectualóides» que fazem discursos como os que ouvíamos de Sampaio e que, algumas vezes, ele sentia necessidade de explicar no dia seguinte!!!
Este problema é suficientemente importante para não se olhar para as pessoas que estão na GNR mas, sim, para o País de hoje e a necessidade que ele tem de segurança interna e, a partir desse quadro, esboçar as várias hipóteses de instituição ou instituições que melhor possam servir as populações.
Estar a manter um fato, com quase um século de uso, com maus remendos sucessivos não é de gente inteligente. O corpo militar da GNR foi criado para fazer face às convulsões que Portugal sentia após a revolução do 5 de Outubro de 1910. Não impediu as manigâncias que o País sofreu nos anos seguintes. Hoje a sociedade, a economia, as instituições públicas são diferentes. O Mundo é diferente. Então, porque se teima em manter uma situação que não serve realmente às actuais necessidades? Porque se teima em opar (dilatar) os órgãos burocratas, os órgãos de «comando», reduzindo a percentagem de pessoal realmente operacional? Há órgãos desses que, nas últimas duas décadas, multiplicaram os seus efectivos por um «ene» muito grande.
Não sei o suficiente para indicar uma solução, porque ela só deve aparecer de entre várias modalidades de acção devidamente analisadas e comparadas entre si. A escolha então deverá ser feita pelo poder político, com bases seguras e tendo em mente que será uma estrutura realista e boa para o País e para durar muitas décadas.
Oxalá haja coragem de encarar o problema e estudá-lo com isenção, calma e serenidade, olhando para os Países que devemos tomar por modelo e tendo sempre em mente os interesses nacionais e não os de grupos.
Um abraço

Gisele Claudya disse...

Bem, sempre digo que nada entendo de política e menos ainda da situação deste país que eu amo e que se chama Portugal. No entanto, com 47 anos, descobri que ser adulto é cansativo demais. Nossa cabeça não para um segundo pq os problemas ao nosso redor são constantes.
Será que nunca teremos paz? Será que nunca teremos um jornal com mais coisas boas do que ruins?
Sou sonhadora, né?
Esperança de mãe, talvez, para ter um mundo melhor para nossos filhos .
Beijinhos

A. João Soares disse...

Tens razão querida amiga. A vida não dá para adormecer e deixar as coisas acontecer. Se dormirmos, alguém vem roubar a fruta do nosso quintal!
A única maneira de os nossos filhos e netos terem uma vida mais tranquila e feliz consiste em nós estarmos atentos e gritarmos sempre que virmos o trem a descarrilar e ir para o precipício. E esse grito de alerta tem de ser oportuno, a tempo de evitar a desgraça total e irremediável. Isto da nossa ( de cidadãos) não é política, é precaução, bom senso e vontade de ajudar a evitar grandes catástrofes.
Neste caso de reorganização da GNR, a pergunta mais aguda que me surge é: Para que serve uma força de segurança militar, com tanto peso burocrático e tão complexa estrutura de comando? A GNR surgiu em período em foi considerado conveniente uma força forte para evitar os desacatos do pós revolução republicana (foi criada em 3 de Maio de 1911). É dos tempos em que eram colocados oficiais do Exército na PSP, na GNR, nas administrações de todas as grandes empresas, na Pide, na Legião Portuguesa, na censura, nas autarquias, etc. Interrogo-me se ainda é considerado racional manter esse modelo antiquado com sucessivos remendos mal ajustados às condições actuais do País e do mundo.
Abraços

Anónimo disse...

Meus senhores
Li os vossos comentários e encontro neles algumas questões com as quais concordo e outras nem tanto.É verdade que a estrutura superior de comando está inflacionada.Com prejuízo enorme para as unidades operacionais. Porque foi aumentdo desmesuradamente o número de of gen? Quem beneficiou com isso? Só o exército. Permitiu umas quantas promoções algumas propositadas para a guarda caso contrário os indigitados não seriam promovidos. Isto normalmente não é dito, mas é um facto.Originalmente o organigrama até nem estava mal pensado.Coroneis comandavam as unidades cap as companhias tenentes as secções e o serviço era feito tal como se faz hoje.A magalomania de certos cmdt gerais levou à situação que se vive hoje. Já repararam na França e Espanha? Convive o sistema dual.E o Brasil? Só que não há interpenetrabilidade que existe aqui, mormente ao nível de mgen.A apontada fusão foi uma ideia do Prec de triste memória em que um tal gen graduado queria ser o mais poderoso e acabou apeado quando do cerco à assembleia quando recolheu a casa deixando a tropa a sua sorte. Não poderá haver fusão sob pena de extinção de uma das forças.Quanto a mim a guarda tem razão de ser enquanto tiver capacidade(teria de ser intensificada e melhorada)para actuar em cenários de guerra como força de policia militar ou em linguagem militar, actuar na segurança da área da retaguarda(SAR).Desta forma as FA( mais propriamente o exército) não andaria a desempenhar funções de policia como assistimos nos teatros de missões de paz. Até levam material da guarda (escudos, mascaras,capacetes e bastões) receberam instrução na guarda ( manutenção de OP, controle de multidões,etc. não são missões para unidades das FA). Claro que os remendos vão continuar enquanto as coisas forem feitas por amadores que do alto da sua ignorância nem se dignam ouvir quem leva muito anos de experiência e poderia dar o seu contributo.José Tavares

A. João Soares disse...

Caro José Tavares,
Obrigado por este comentário que traz aqui um saber muito profundo inclusive da estratégia militar. Um bom contributo a ter em consideração por quem tiver de se pronunciar sobre o tema. Mesmo o emprego da GNR em acções de SAR, não torna necessário ter generais nos seus quadros. Também não obriga a usar os mesmos nomes para as funções. Para evitar os generais de segunda, podem dar outros nomes aos seus directores ou comandantes, como aconteceu ma PSP.
Certamente, aparecerão mais comentários a apresentar pontos de vista complementares ou opostos, Serão todos bem vindos.
Abraços
Sempre Jovens

A. João Soares disse...

Vale a pena ler a entrevista do General Tomé Pinto no Diário de Notícias

Anónimo disse...

Em tempos escrevi uma pequena “estória” com intuitos didácticos. Aqui vai:

“A parábola da militarização (numa perspectiva construtivista)

Era uma vez uma fábrica de automóveis. Certo dia, há muito tempo, houve necessidade de nomear um director para administrar a fábrica. Como não havia gente capaz para administrar a fábrica, o Presidente do Conselho de administração chamou um General do Exército. Com efeito, os militares, nesse tempo, eram os únicos com competência adequada. Com o passar dos anos, o General e os outros que lhe sucederam no cargo foram impondo a cultura organizacional que melhor conheciam e que dava mostras em ser capaz de resolver os problemas de laboração e produtividade. Aos poucos, os “Generais administradores” foram impondo aos operários as regras castrenses de organização e disciplina militar, chamando até para seus colaboradores outros camaradas de armas, colocando-os em locais de direcção, chefia e supervisão. A fábrica, com o passar dos anos, ficou um autêntico quartel do Exército, afeiçoando-se ao modo militar de fazer as coisas…
Ano após ano, os carros lá saíam da linha de produção e conseguiam-se vender. O cliente não era muito exigente…
Mas a certa altura os mercados mudaram, a clientela fartou-se dos carros e os “operários militarizados” começaram a ficar descontentes com as condições de laboração, questionando até se não haveria outra forma de fazer carros. Afinal haviam outras fábricas que faziam bons automóveis e os vendiam bem, mas não tinham Generais a administrar. Os Generais, que dirigiam a fábrica, começaram a ficar desnorteados. Certo dia, o Presidente do Conselho de administração, ao ver a quebra nos lucros e a desvalorização das suas acções, teve de tomar medidas enérgicas. Chamou uns gurus da nova teologia, desculpem, digo ciência da gestão. Estudaram o problema e fizeram um conjunto de propostas: mudar a forma de trabalhar, fazer novos modelos de carros, organizar a fábrica seguindo outros padrões, etc.
O problema é que os Generais, horrorizados, não compreendiam onde tinham falhado, não queriam abandonar o seu modelo de gestão e também não queriam perder os seus lugares, os privilégios e sinecuras, muito menos retirar a cultura organizacional que tantos prezavam. Teimavam em persistir no erro de fazerem Trabants em vez de Mercedes. A coisa arrastou-se até que os accionistas se fartaram. Fechar a fabricar, reconvertê-la, mudar a direcção, procurar um parceiro estratégico para uma fusão. Enfim uma miríade de decisões que urge tomar. Uma coisa é certa, com Trabants a fábrica não sobrevive.”

Por conseguinte, ainda que os Generais, e todos os demais, teimem chamar aos operários de “militares”, estes não passam de simples operários especializados da indústria automóvel. A fábrica pode ter casernas, paradas, pode haver formaturas, medalhas e louvores, até pode haver teorizadores que discorrem sobre as vantagens da cultura organizacional da fábrica ser copiada do Exército, mas na essência não passa de uma simples fábrica de automóveis. E se quem lá trabalha quer fabricar bons automóveis deve perceber que:
Os Generais têm competência para comandar tropas para o combate, não para administrar fábricas de automóveis.
Uma fábrica de automóveis deve fabricar automóveis e não diversificar a sua oferta de produtos que não estejam no âmbito da indústria automóvel.
Os dirigentes e operários devem ser altamente especializados nas suas funções e ter formação adequada, ministrada em Escolas de gestão e de engenharia e não em Academias ou Quartéis do Exército.

Se continuarem na teimosia de fabricar Trabants, arriscam-se que a fábrica seja desmantelada e definitivamente “deslocalizada” algures para um recôndito país da América latina, que adora ter Generais à frente de fábricas de automóveis e onde a clientela também não se importa de andar em carripanas pouco eficientes.
Saudações do Guarda Abel

A. João Soares disse...

Caro Guarda Abel,
Gostei da estória.
O McNamara fez a General Motors dar um grande salto em frente, através da aplicação de princípios de organização militar. Mas uma coisa é aplicar princípios válidos, que mais tarde se generalizaram, outra coisa é colocar pessoas que sabem apenas aplicar o sistema de «cópia e colagem». O objectivo de uma organização, de uma actividade, de um grupo é o farol que deve guiar cada decisão que é tomada. Se assim não for, pode acontecer que nem o Trabant saia da fábrica e sim charruas e arados. Tudo pode acontecer quando se retiram os olhos do objectivo, do alvo. Para isso, além de pessoas com formação adequada, há a organização e a doutrina do seu funcionamento com vista à «finalidade», à missão. Um general até pode ser um bom director de fábrica, ou de qualquer instituição, mas não deve colar ali aquilo que copiou do quartel. O seu a seu dono. A arma para caçar coelhos não dá para pescar carapaus.
Um abraço

Anónimo disse...

Atenda-se ao preconizado por um antigo ministro da administração interna (Alberto Costa) quando procurava justificar a opção de distinguir a actividade policial da administração e direcção das instituições policiais:
«Cada vez mais as funções operacionais se diferenciam e se situem em plano diverso daquela outra – e, pela ordem dos números e pelo estado dos problemas tal filosofia não pode deixar de envolver proximamente a força de segurança de estatuto militar. Continuo a pronunciar-me, com fiz no passado, contra a descaracterização institucional da GNR, a quem deve ser reconhecida um valor específico no sistema de segurança português. Mas a separação de esfera própria duma direcção nacional (civil) da esfera de um comando operacional (militar) parece-me dever ser introduzida, a prazo breve, na linha de desenvolvimento institucional dessa força de segurança.»

Se o governo tiver lucidez para reformar a GNR, sem atender a lobies e para desarmar os argumentos de Cavaco Silva, a futura LOGNR terá como linhas orientadoras o seguinte:
1 º Introduzir uma Direcção nacional;
2º Circunscrever os Generais do EP em comissão de serviço ao Comando Operacional, mas subordinados à Direcção Nacional;
3º Respeitar a terminologia da CRP e definir a GNR como Força militarizada de Segurança Interna;
4º Redesenhar as carreiras e introduzir uma nomenclatura específica nas patentes e postos, afastando-as das usadas nas FA;
5º Determinar que a formação dos Oficiais seja feita em escola da GNR, sem prejuízo de a formação estritamente militar e de carácter complementar poder ser feita em estabelecimento de ensino superior militar em termos a definir por protocolo;
6º Afectar à Guarda competências exclusivas em domínios da Segurança Interna, justificando o facto pela capacidade operacional da força e não por “naturezas” ou “estatutos”.
Aqui fica a sugestão do Guarda Abel…

Anónimo disse...

Lidos os comentários apraz-me dizer o seguinte:não é na tereminalogia dos nomes dos postos da GNR que estará o problema. Outros países os têm.Afastar os militares da gurada será um caso a merecer reflexão. Concordo em absoluto que se reduza o número de oficiais das FA na GNR, se houver uma formação e carreira específica para os militares da guarda, num futuro próximo.

Quanto a ser uma direcção nacional, pergunto:O que modifica isso?Haverá mais agilidade? Não o creio atendendo ao exemplo próximo...

Concordo em pleno que há oficiais com postos elevados a mais. Devia haver um quadro máximo, reduzido à dimensão pequena e necessária das FA. Não é possível que hajam tantos TCor por aí. Antes eram segundos comandantes de unidade...Agora são de batalhão e de companhias no exterior...muitos estão a atrapalhar-se em repartições.

As promoções devem ser feitas por antiguidade ou feitos valorosos...que em termos militares são bem explícitos!

Na PSP é igual. Os oficiais atrapalham-se e confrontam-se sem espírito de serviço, apenas o de agradar a alguém para ser nomeado... As promoções devem ser por antiguidade e mediante vagas restritas e bem pensadas!

A GNR poderá ser uma força militarizada, sem perder o brio e o respeito que possui. O exemplo de uma polícia demasiado civilista e acomodada é negativo. Para isso já basta uma, que tem que levar um abanão forte!

deve haver incentivos á progressão na carreira para os militares da guarda e dos agentes da polícia, pois assim lutarão por um serviço melhor e consequente promoção.

Nada é mais injusto que ver alguém sem capacidade de comando, sem nada fazer, estar em posição de (des)comando!!

Boa discussão que dará pano para mangas.

Abraço

A. João Soares disse...

Caro Guarda Abel,
Um opinião como a sua, que reflecte muita ponderação, merece ter sida em conta em qualquer estudo sobre este tema. Não quero dizer que deva ou não ser adoptado este esquema, mas ele deve ser tido em consideração e comparado com outros, antes de ama avaliação de vantagens e inconvenientes de cada um para ser feita a escolha do melhor, tendo sempre em atenção o interesse nacional, segurança interna em favor dos cidadãos.
Espero que pessoas próximas do degrau da decisão tomem conhecimento desta discussão aberta e sem preconceitos.
Um abraço

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas,
A sua opinião é de quem viveu por dentro uma força de segurança e de quem sente na alma o espírito militar. Mas há um pormenor que já não é bem como pensa. Na GNR praticamente já não há militares do Exército, além dos generais, que nos últimos anos passaram de dois para nove e chegaram a querer que fossem 19!!!
O amigo diz que «deve haver incentivos á progressão na carreira para os militares da guarda e dos agentes da polícia, pois assim lutarão por um serviço melhor e consequente promoção».
Estou de acordo com isto, mas isto contraria a promoção por antiguidade, que não é justa, pois à frente de um óptimo agente, genial, pode estar um pouco esclarecido, bronco, que por ser mais antigo, o precederá sempre nas promoções. A antiguidade deve ser complementada com um sistema de avaliação do desempenho, baseado num sistema objectivo bem fundamentado em factos mensuráveis e traduzíveis em pontos, do conhecimento do próprio e dos seus camaradas, por forma a que qualquer prejudicado possa reclamar perante o chefe que avaliou. Com uma base num tal sistema, a instituição funcionará bem, com eficiência e o pessoal do topo será competente e prestigiado interna e externamente.
Quanto a isto, há um exemplo interessante: Quando Salazar era ministro da Defesa, não gostava que os seus colaboradores mais directos lhe dessem respostas vagas, só palavras sem conteúdo, e insistia à procura do cerne da questão, acabando por dizer que lhe levassem o oficial que sabia do assunto. Da primeira vez, levaram o capitão Santos Costa. à segunda e terceira vez aconteceu o mesmo. A partir de dado momento, concluiu que conversar com os generais era perda de tempo e acabou por nomear o Santos Costa ministro da Defesa, porque lhe dava garantia de os assuntos serem devidamente estudos e decididos. A competência não depende da antiguidade.
Um abraço

Anónimo disse...

Caro João Soares,

eu estou de acordo, se as avaliações forem justas. Não o tenho como certo, bem pelo contrário. Terá que começar por cima. Quem avalia os que estão em cima a avaliar?

A teoria é bonita, mas é utópica no estado em que se encontra a civil, desmembrada de força moral. Sem exemplos. Há alguns comandos de polícia onde vemos oficiais na rua, no acto de acompanhamento/ronda aos seus elementos, ou em operações, mas outros há-os em que só fazem horário de expediente e ...

Como avaliam? O superior hierárquico directo, por comprometimento diário só avaliará mal o seu subordinado, se não partilharem os mesmos gostos...

Os acima nem os conhecem?!
Comandos sem oficiais de dia?Pelo menos...São tantos que só calhava uma vez de 10 em 10 dias...Com o sequente descanso.

Eu sei que o governo ao conduzir à avaliação directa é com intenção positiva, mas tem que começar a avaliar a cadeia hierárquica. Sem cadeia de comando os subalternos copiam os exemplos e resgatam-se...

Em relação à sua frase: " sua opinião é de quem viveu por dentro uma força de segurança e de quem sente na alma o espírito militar", digo-lhe caro João Soares, que da vida militar guardo os ideais, a camaradagem e alguns exemplos. Também conheci coisas menos boas.É passado, embora compare determinadas coisas. O exemplo é uma delas: Olha para o que eu digo, não para o que eu faço.Isto não pode acontecer, seja militar, civil, ou travesti.

Sou por um ideal de coesão, respeito e dignidade, na tropa, nas FS, ou a trabalhar como limpa-chaminés.

Digo-lhe caro amigo, que muita gente que por aí anda, se fosse numa multinacional nem lavava o chão e andam para aí armados em Drs da mula russa!

Aqui há tempos num determinado local, num dia de policia, o comandante da unidade militar (cavalaria) que foi à cerimónia, ao passar junto à bandeira nacional saudou-a...ficou tudo a olhar. Porquê? Não tiveram continências e honras militares? Não sabem quais os deveres perante um símbolo nacional?

Eu acredito que tudo melhorará, pois durante anos esteve muito mau, a roçar o péssimo. Só tem melhorado, mas para cair é um instante, para levantar demora.

Digo isto pelo lado construtivo, pois um dos meus sonhos é ver aquela gente no topo, onde me incluo e só não falo e escrevo mais sobre o assunto, por respeito.

Abraço

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas,
Compreendo as suas reticências acerca da bondade da avaliação. Mas parece que não pode haver alternativa.
Tenhamos esperança que virá um dia em que a avaliação será mais justa. Para isso, tem de ser tornada pública nos respectivos serviços, e o chefe tem de dizer, cara a cara, a cada seu colaborador a informação que vai da dele e porquê. Cada funcionário tem de saber o conceito que o seu chefe tem dele a fim de poder corrigir os defeitos e desenvolver as qualidades positivas. E cada um tem o direito de reclamar sempre que se sentir prejudicado em relação aos «meninos bonitos do chefe» Só assim se melhorará a produtividade de qualquer serviço.
Concordo que, com as tradições arreigadas na nossa sociedade de brandos costumes e compadrio, haverá dificuldade em instaurar uma avaliação com critério justo, mas estou certo que se ela for aberta e as pessoas puderem reclamar, em breve, ela será uma ferramenta de justiça, premiando o mérito e ultrapassando mediocridade, permitindo avançar para o culto da excelência no desempenho.
Não basta prometer reorganizações. É necessário ter coragem intelectual e moral de, com os olhos sempre postos nos mais altos interesses nacionais, reestruturar os serviços e instituições tornando-os mais eficientes, mais simples, sem burocracias inúteis e menos caros aos contribuintes.
Não sou má língua, nem faço críticas destrutivas, procuro sugerir pistas orientadas para um futuro melhor do nosso País em que as pessoas se sintam mais felizes.
E isto tem de ser encarado sem preconceitos, sem ideias preconcebidas, sem pensar nas pessoas que hoje estão comprometidas com o sistema, mas em todas em geral. O País está acima de cada um, embora tenha de contar com todos, e respeitar todos.
Um abraço
AJS