domingo, 2 de setembro de 2007

Armas em profusão. Inutilidade da lei

Tem sido verificada a existência de armamento massivo espalhado pelos mais diversos contextos e detectado nos mais variados tipos de ilícito. Recentemente o facto foi notório nos crimes violentos da vida nocturna do Porto e de Lisboa. Até no âmbito de investigações em que nada faz prever a existência de armas, os órgãos de polícia criminal, em buscas domiciliárias, têm com frequência encontrado destes objectos. São, por vezes, mesmo encontradas armas de calibre e sofisticação superiores às das próprias forças de segurança.

Não é difícil concluir haver facilidade de acesso e um eventual descontrolo do mercado e tráfico de armas.

O curioso é que recentemente os ilustres deputados criaram uma lei que regulamenta o uso e porte de amas de fogo. Para que serviu a lei? Pelos vistos serviu apenas para melhorar as estatísticas do trabalho de produção legislativa. Pessoas que a leram com atenção ficaram espantadas com tanto pormenor, muitos deles de difícil execução, que fazem com que poucos detentores de armas procurem conhecer inteiramente o diploma e ainda menos lhe consigam dar cumprimento. E o resultado é tudo continuar na mesma, isto é, cada vez pior.

Trata-se de um fenómeno muito conhecido dos automobilistas. As alterações ao Código da Estrada que era suposto serem destinadas a criar mais segurança e a acabar com a enormidade de mortes nos acidentes rodoviários, não têm evitado que estes continuem com pequenas variações devidas a factores desconhecidos.

«O país não tem um problema de falta de legislação, mas sim o problema de falta da sua aplicação. É uma doença crónica dos nossos legisladores: perante uma situação que há muito preocupa a opinião pública, enchem-se de brios e arremetem em frente, sem analisarem as circunstâncias causais, e parem mais uma lei, com penas mais graves ou com mais complicómetros e, convencidos de que fizeram um milagre a bem da Nação, vão nessa noite dormir mais descansados por terem cumprido o seu dever. Depois, tudo continua na mesma, só com a diferença de que a profusão de leis não acatadas, faz perder o já pouco respeito pela legalidade. As leis são apenas papel.» (da carta «Fúria legislativa» enviada aos jornais em meados de Outubro de 2005).

Um caso concreto muito simples: O pára-brisas dos carros tem que trazer colado um papel do imposto e outro do seguro. Para quê? Supõe-se que seria para facilitar o controlo oportuno daqueles que não cumprem a lei e intimá-los a reparar o erro, com urgência. Mas não tem havido esse efeito, e as notícias têm divulgado ser detectados milhares de carros sem seguro. Então, para quê aquele papel a tornar opaca uma parte do pára-brisas?

Ou as leis não são simples e cumpríveis, ou nem sequer há essa intenção e são feitas apenas para satisfação do dever cumprido. Estes casos aqui citados são exemplos de que os legisladores não têm razões para merecer aplausos. Mas... talvez agora que os deputados vão passar a ter um gabinete com boa guarnição, passemos a ter legislação que coloque o País num patamar de mais civismo, segurança e noção de cidadania!!!

11 comentários:

A. João Soares disse...

Vale a pena ler o Editorial do DN de 3 Set para concluir que a violência da noite continua em Lisboa e Porto, com impunidade.

Anónimo disse...

Caro João Soares
Nesta politicocracia criou-se a sensação de que governar é legislar. Assim, para mostrarem trabalho, os políticos lançam cá para fora catadupas de leis. Acontece porém que a maioria das quais ou têm efeitos contrários (é o caso dos controlos da alcoolemia que agrava a ocorrência de acidentes com fuga) ou só são cumpridas nos primeiros tempos após a entrada em vigor, ou nem sequer são cumpridas.
Daí o ditado: não é melhor carpinteiro o que produz mais aparas.

Jorge P. Guedes disse...

Qualquer Estado de bem, ao fazer sair uma lei, teve que garantir à partida as condições para que a garantia do seu cumprimento seja exequível.

Quando assim não é, reina a lei dos prevaricadores e o banditismo aumenta.

Um abraço.

A. João Soares disse...

Caro De Profundis e J.G.,
Realmente, o melhor carpinteiro não é o que produz mais aparas!. O melhor governante não é o que faz mais leis, toscas, desajustas às realidades do fenómeno que se quer combater, e ao conjunto das pessoas a quem se destinam. Acabam por beneficiar os prevaricadores. É caso das armas que, apesar da tão «elogiada» lei, são encontradas em grande quantidade nas mãos de bandidos. É ocaso dos pára-brisas tapados com papéis que para nada servem e não há um governante que abra os olhos e acabe com esse atropelo a visibilidade de quem conduz. Bastava ter apenas um neurónio para dar conta dessa anedota.
Um abraço

Anónimo disse...

Conheço um ditado americano que é mais ou menos assim (desculpem-me os eventuais erros, mas penso que devemos escrever "patrioticamente mal as línguas estranjeiras", plagiando Eça):
"When the guns are outlaw only the outlaws have guns". Traduzindo para português, dá mais ou menos isto: Quando se ilegalizam as armas, só os fora-da-lei têm armas.

A. João Soares disse...

Caro De Profundis,
Sem dúvida. Está a incentivar-se a ilegalidade. Parece um sentimento generalizado que as leis não são para cumprir. Os políticos passeiam a mais de 200 à hora. os carros da polícia e da GNR estacionam em qualquer lugar. Ainda há pouco em Lisboa, na Rua 1º de Maio, em frente à Carris, uma carrinha da GNR, se pequenas dimensões estava estacionada com duas rodas no passeio, tornando difícil não só a passagem de pessoas, que tinham de ir pela rua, mas quase impossibilitando o acesso a uma caixa do Multibanco. A lei para que serve? Só serve para a caça à multa quando aparece um agente mal humorado. Ou para ser esgrimida por um advogado contra o arguído sentado no banco dos réus. A vida torna-se uma lotaria. As notícias o dizem «F... foi detido pela polícia por ter sido apanhado com ...alcoolemia» A frase merece ser analisada: ele não foi detido por estar a conduzir com álcool a mais, mas sim por ter sido apanhado nessas condições. Quem não é apanhado nada sofre. O mal não é beber é deixar que o apanhem depois.
Abraço

Amaral disse...

João
Os políticos criam leis para dizer que as criaram, mas depois não criaram automatismos para as implementar.
Até se pagava a quem tivesse armas ilegais em casa e as quisesse apresentar. Contudo, com um clima de insegurança...
Que lindo país. Esperemos que de país de marinheiros não nos tornemos em país de cowboys.
Boa semana.
Abraço

A. João Soares disse...

Caro Amaral,
São muito lunáticos e «intelectuais», pairando a grande altitude, mas depressa aterram e ficam demasiado reais, na perseguição a Charrua e Caldeira. Falta-lhes uma visão objectiva do país Falta-lhes conhecimento das realidades dos portugueses.
Quem é que esperava que os bandidos que possuem amas vá entregá-las? A lei acabou por ser pesada para as pessoas sensatas e bem comportadas, mas estas, com sentido das realidades e não conhecendo a lei que é demasiado confusa, acabaram por esperar que nada de mal lhes aconteça!!! Esta é a mentalidade predominante.
Um abraço
Mentira

Nuno Raimundo disse...

NOMEEI-O "BLOG SOLIDÁRIO".
PASSE N'O PROFANO.
ABR...PROF...

Anónimo disse...

O caso das armas é bem antigo e conhecido de quem de direito. No entanto, outros valores se levantam!!Só com homicídios se faz alguma coisa porque a visibilidade é notória. Depois volta td à mesma situação!

As leis são boas, se forem cumpridas em actos de imposição e fiscalização...

Os criminosos querem lá saber do que diz a lei. Querem é saber se são fiscalizados e presos!!

saudações

A. João Soares disse...

Essa sua opinião acerca da importância das leis é igual à minha. Só é pena que os políticos não pensem da mesma maneira e não tomem decisões em conformidade com esta realidade. Uma das causas da criminalidade é a falta de eficiência das forças de segurança, o que resulta da forma como os juízes decidem sobre as questões que a polícia lhes apresenta.
Um abraço