terça-feira, 4 de setembro de 2007

Uma decisão contra a evolução desejável

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação português no fim de uma visita a Timor-Leste afirmou que os cooperantes portugueses naquele país, "sobretudo os professores", passarão em breve a ter cursos de tétum antes de iniciar a sua missão.

O referido governante salientou que a formação em tétum será importante "para ajudar os professores a resolverem melhor os problemas dos formandos". Sublinhou, no entanto que a obrigatoriedade dos cursos de tétum não resulta de uma avaliação negativa do relacionamento dos cooperantes com as populações, pois, "de forma geral, os portugueses conseguem fazer-se entender em português, ou directamente, ou porque num grupo de quatro ou cinco pessoas há sempre alguém que pode fazer de intérprete."

Quer dizer que o próprio governante não vê necessidade nessa aprendizagem pelos cooperantes. Com efeito, antes de ser decidida a língua oficial do País, foi posta de lado o tétum, por ter pouca capacidade de incentivar as relações internacionais, havendo dúvidas entre o Inglês e o português, e acabaram por ter escolhido este mais por razão sentimental do que por utilidade prática.

Esta atitude do secretário de Estado acaba por ser um recuo em relação a essa discussão no início da vida do país independente. Reduz-se assim o interesse em aprender uma língua mais cosmopolita, por deixar de ser necessária na vida quotidiana.

O facto de as pessoas terem de saber um pouco de português para poderem contactar com os cooperantes era um estímulo forte para a aprendizagem da língua, que assim desaparece.

7 comentários:

Ema Pires disse...

Olá amigo,
Obrigada pela visita ao meu blogue. Estive a percorrer o seu, como sempre muito interessante.
Bjs

Ana M. disse...

Nisto de línguas faladas (entre muitas outras coisas) a nossa posição predilecta é a de cócoras.

Um abraço

A. João Soares disse...

Ema Pires,
Agradeço mais esta visita. Volte sempre. Faço o possível por ter material novo todos os dias.
Abraço

A. João Soares disse...

Cara Sininho,
A sua constatação é muito real. O caso de Timor que, desde 1975, só nos tem dado complicações e custos financeiros e emocionais é difícil de explicar. A cada passo mais nos empenhamos em tarefas que não são nossas. Agora nem podemos dizer que estamos lá par divulgar a nossa língua !!!
Se houvesse lógica na cabeça dos governantes, deviam também ser obrigados a aprender a falar os dialectos mirandês, barranquenho e mindrico, os funcionários públicos que sejam colocados nas respectivas regiões.
Um abraço

Ken Westmoreland disse...

Senhor,

Os lus�fonos queixam que os angl�fonos sofrem de arrog�ncia cultural, mas o que voc� escreviu demonstra que os lus�fonos s�o igualmente culpados disto.

A sua compara�o do t�tum com os dialectos portugueses � completamente rid�cula. (Talvez voc� seja um salazarista que ainda reconhece o Estado da �ndia Portuguesa como 'regi�o' de Portugal.) Timor Leste n�o nunca teve uma maioria lus�fona em 1975, e com certeza n�o tem agora.

A l�ngua portuguesa j� n�o tem a audi�ncia captiva em Timor Leste, n�o apenas por causa da heran�a da ocupa�o indon�sia e a presen�a acutual australiana, mas porque os timorenses valorizam o t�tum mais como l�ngua franca nacional.

O portugu�s n�o � a �nica l�ngua oficial de Timor Leste, � co-oficial com o t�tum, tal como n�o � a �nica l�ngua oficial de Macau, � co-oficial com o chin�s.

Muitos estrangeiros angl�fonos em Timor Leste agora se esfor�am de aprender o t�tum, por raz�es pr�cticas. O t�tum e cheio de palavras portuguesas, que deveria dar uma vantagem aos falantes de portugu�s na aprendizagem daquela l�ngua. Muito do vocabul�rio moderno � compartilhado com o portugu�s (e o ingl�s tamb�m).

Para os timorenses, a l�ngua mais "cosmopolita" � o ingl�s, n�o o portugu�s. Quem pode culp�-los por isto, quando Portugal tem menos la�os com a �sia agora do que no s�culo XVII, e do que qualquer outro pa�s na Europa Ocidental?

Seria menos de um problema se Portugal tivesse mais de uma presen�a na �sia como a Fran�a. � mais facil para os estudantes universit�rios timorenses na Indon�sia ou a Austr�lia aprender o franc�s do que o portugu�s. Ou o italiano.

Para a maioria de asi�ticos, Portugal � t�o obscuro como a Alb�nia e a l�ngua portuguesa � t�o morta como o latim. Os chineses est�o a aprender o portugu�s, n�o para comerciar com Portugal, mas para comerciar com o Brasil e Angola.

Se voc� quer incentivar os timorenses para aprender o portugu�s, voc� precisa dar-lhes incentivos. O problema n�o � a dist�ncia geogr�fica, � log�stica. Se houvesse v�os regulares de Lisboa, com turistas e empres�rios portugueses, gastando e investindo dinheiro em Timor Leste, os timorenses teriam tanto incentivo para aprender o portugu�s com t�m para aprender o ingl�s e o indon�sio. Isso seria o um "estímulo forte" para aprendê-la.

Anónimo disse...

meu caro João Soares

o seu texto está cheio de equívocos e de preconceitos....

manifesta um profundo desconhecimento do que se tem passado em Timor-Leste nas últimas décadas e, fundamentalmente, quanto às decisões assumidas pelos timorenses ainda em 2000 sobre esta matéria.....

quanto aos professores portugueses (que pressupostamente vão ensinar a nossa língua...) não lhes faz nenhum mal aprender um pouco de tétum e, creia bem, que será uma motivação acrescida para os timorenses aprenderem o português, se o contacto entre as partes proporcionar e tiver como base essa bi-valência das línguas....

sugiro que leia algo do autor australiano Geoffrey Hull, que defende precisamente a coabitação das duas línguas até para que o tétum seja preservado e desenvolvido....

quanto à sua pretensão de equiparar o tétum ao mirandês (eu sou dessas terras!!!) é de uma infelicidade atroz.... e o que dizer do seu comentário acima "à Cara Sininho" é, no mínimo, demonstrativo dos seus preconceitos (para não dizer nomes mais radicais) colonialistas e saudosistas....

passe bem
st

A. João Soares disse...

Caros Na'in e St,

Aqui está uma vantagem dos blogs e da possibilidade de deixar comentários, para que os temas possam ser compreendidos em maior amplitude e profundidade.
Aceito todas as opiniões com a educação que nem sempre encontro em quem se quer opor às minhas.

Abraços