Um dia, o Senhor chamou Noé que morava em Portugal e disse-lhe:
Dentro de 6 meses, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que todo o Portugal esteja coberto pelas águas. Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos e um casal de cada espécie animal. Vai e constrói uma arca de madeira.
Chegada a altura, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram o céu. Noé chorava, ajoelhado no quintal da sua casa, quando ouviu a voz do Senhor soar furiosa, entre as nuvens:
- Noé, onde está a arca?
- Perdoe-me, Senhor, suplicou o homem!
- Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas:
- Primeiro tentei obter uma licença da Câmara Municipal, mas, além das taxas elevadas para obter o alvará, pediram-me uma contribuição para a campanha do Partido, para a reeleição do presidente.
- Precisando de dinheiro, fui aos bancos mas não consegui empréstimo, mesmo aceitando aquelas taxas de juros...
- Os Bombeiros exigiram um sistema de prevenção de incêndio, mas consegui contornar a situação, subornando um funcionário.
- Começaram então os problemas com o Instituto Florestal para a extracção da madeira.
- Eu disse que eram ordens Suas, mas eles só queriam saber se eu tinha o “Projecto de Reflorestamento” e um tal “Plano Sectorial”.
- Neste meio tempo, a Protecção dos Animais descobriu alguns casais de animais guardados no meu quintal. Disseram-me que eram espécies protegidas! Além de pesada multa, fui colocado em prisão preventiva pela posse dos animais. Valeu-me a pulseira electrónica!
- Quando comecei a obra, apareceu a Inspecção do Trabalho. Multou-me porque eu não tinha um engenheiro naval responsável pela construção.
- Fui à Universidade Independente e comprei um diploma de engenheiro
- Fecharam a Universidade e tive de pôr o diploma no papelão!
Veio o Sindicato e exigiu contrato de funcionário público para os carpinteiros.
- Em seguida vieram as Finanças! disseram-me que a arca era
um “sinal exterior de riqueza“ e agravaram-me o IRS. Não tive dinheiro para pagar e
colocaram-me a arca sob penhora.
- Finalmente, quando a Secretaria de Estado do Ambiente pediu o “Relatório de Impacto Ambiental“ sobre a zona a ser inundada, juntei-lhe o mapa de Portugal. Enviaram-no para o INAG que só vai apreciar o assunto depois de resolver o problema da Costa da Caparica!
Noé terminou o relato a chorar.
Senhor! Que hei-de eu fazer mais?
Notou então que o céu clareava e perguntou:
- Senhor, sempre vais destruir Portugal?
- Não! - Respondeu a Voz entre as nuvens - Já vi que cheguei tarde! O Sócrates chegou primeiro!
NOTA: Recebi este texto por e-mail em formato pps. Achei interessante a coincidência com os títulos que aparecem hoje nos jornais a dizer que Administração Pública tem de ser mais rápida e eficaz, que há funcionários a mais, que existe burocracia em demasia tolhendo as iniciativas dos cidadãos em vez de os apoiar e incentivar, etc. É frequente apercebermo-nos que os funcionários públicos esquecem que a sua missão é servir o povo e, pelo contrário, o consideram como inimigo a torpedear a cada momento com o máximo sadismo possível.
Pobre Noé; se estivesse em Portugal, não conseguiria salvar a espécie humana. A razão: perdeu-se a noção da finalidade da administração pública, da máquina administrativa do Estado. Nada está organizado com clareza, simplicidade, tarefas bem definidas por forma a responsabilizar os servidores, seriedade e repulsa pela corrupção. É indispensável uma verdadeira reforma administrativa para os cidadãos serem bem servidos e apoiados, mas que não fique no tinteiro...
António José Seguro
Há 2 horas
4 comentários:
Caro João Soares,
considero este um texto bastante interessante e oportuno. No entanto sei que não acha que a culpa é do vulgo zé funcionário... é de quem (des)coordena em demasia. É de cima, aliás como o texto explicita bem.
Já agora passe no aromas...
Um abraço
Caro Relvas,
A culpa é de quem dirige as instituições e , no fundo, dos legisladores. Mas, devido às pressões a que estão sujeitos, à tradição e à deformação profissional, os funcionários estão muito bem integrados nessa tara burocratizante, por vezes a baterem-se às «atenções», isto é à corrupção. Eles não estão isentos de culpas.
Tenho passado pelo Aromas várias vezes por dia, mas nem sempre comento, por não ter nada a dizer com substância e não querer fazer comentário só para marcar presença.
Abraço
Gostava de um comentário ao último...
Não confundam.
Se o entender
e já agora deixo-lhe esta notícia de hoje do DN que até me faz rir...Que descoberta.Se não conseguirem no Martin Moniz comprem uns caramelos em Espanha e...
É por essas e por outras que não convém legalizar os tais "detectives privados".
Abraço
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"Material para gravar conversas disponível na Net
As secretas portuguesas e os órgãos de polícia criminal recorrem a empresas externas para gravação ilegal de conversas. A denúncia é feita ao DN por antigos elementos da PJ, que preferiram manter o anonimato, e confirmada por fontes que se dedicam ao mercado de venda de equipamentos de gravação de conversas.
Esta revelação surge depois do alerta dado, durante a tarde de ontem, pelo próprio procurador-geral da República, Pinto Monteiro, que assumia a necessidade de dar ao Ministério Público meios para realizar inspecções às polícias, para que a capacidade de controlo das escutas telefónicas não seja "zero". Pinto Monteiro assumiu ainda conhecer que a " venda de material de escutas é feita a céu aberto".
Não só em "lojas do Rossio [Lisboa] mas também pelos serviços prestados por detectives privados", acusava. E, de facto, à distância de um clique num computador, fazendo uma pesquisa na Internet, o DN encontrou várias empresas que apresentam catálogos desse tipo de material que permite fazer intercepções de conversas através de um telemóvel, DVD, microfone, um candeeiro disfarçado ou mesmo um urso de peluche. "O SIS recorre a células externas, elementos subcontratados, de forma a ter acesso a escutas necessárias para algumas investigações", refere Mário Lopes, detective privado que se dedica a este mercado há 27 anos, pelo preço médio de 200 a 250 euros por serviço. Dois outros detectives, que preferiram manter-se no anonimato, são peremptórios: "A PJ e o SIS usam esses métodos para não ter de passar pela burocracia da via judicial."
E, se no caso dos detectives privados a acessibilidade é simples, já a compra de equipamentos não é fácil "nas lojas do Rossio", como acusava o PGR. Uma equipa de reportagem do DN andou na zona na tentativa de adquirir material dessa natureza, mas sem êxito. "O melhor é ir ao Martim Moniz, porque lá eles desbloqueiam telemóveis e fazem outras coisas nos telefones", disseram.
Já no Martim Moniz, o DN contactou uma dezena de indivíduos em lojas de telecomunicações e outras, indicadas por empregados de balcão. Todos disseram não ter esse equipamento e alguns alertaram que "isso é ilegal e só pode ser feito pela polícia". Apenas um baixou a voz e explicou: "Isso talvez se arranje, mas é preciso andar por aí a falar com muita gente." As escutas telefónicas fora de um processo judicial são proibidas, diz a lei, mas, aparentemente, são de fácil aquisição."
DN
Caro Relvas,
Realmente o «Big Brother» anda por aí. Diz o povo na sua sabedoria ancestral que «o segredo é a alma do negócio», mas agora ninguém garante qualquer segredo. As coisas sabem-se quando ainda estão no pensamento das pessoas, ou parece que é assim.
As gerações agora vivas, somos responsáveis pela porcaria de mundo que legamos aos descendentes. Deixámos descambar tudo isto pra a pior miséria, devido ao mau emprego das tecnologias devido à ganância e à maldade.
Um abraço
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