quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Uso insensato da estatística

Transcrição do seguinte artigo, do «Globalnottícias» de 18Out2007

Estatística não gosta de Alicínio
Por: Rafael Barbosa

Alicínio, 60 anos, vive na aldeia de Redondelo, em Valpaços, Trás-os-Montes. É homem de poucas posses, aspecto franzino e doente. Vive sozinho e sobrevive com cerca de 400 euros. Levantara aliás a pensão no dia anterior. Estava em casa a dormir. Acordou quando o sangue já lhe escorria pelo corpo.

Como se não fosse violência suficiente deixar um homem sem o dinheiro que lhe garante a sobrevivência, o jagunço que lhe entrou em casa esfaqueou-o e espancou-o selvaticamente. A população de Redondelo ficou chocada, mais do que com o assalto, com a violência usada. Mas Alicínio e a população de Redondelo pouco contam para quem pode e manda. O que conta é a estatística. E segundo a estatística, que o ministro Rui Pereira gosta de citar, a criminalidade está a descer. Alguém tem de explicar isso a Alicínio.

NOTA: Os senhores políticos deviam ter mais senso ao falar de estatísticas em problemas de pessoas. As estatísticas são úteis para efeitos de estudo, planeamento e controlo, mas não para argumentar com as pessoas que, logicamente, sentem o seu caso pessoal com subida importância. Para referir um exemplo clássico, será doloroso o Sr a que, num restaurante, «almoça» um croquete e um copo de água, enquanto o outro cliente presente come um frango de churrasco com meia garrafa de vinho, dizer-lhe que estatisticamente cada um comeu meio frango de churrasco. O Sr. ministro seria capaz de dizer frontalmente ao Sr. A essa estatística? Imagina qual seria a reacção desse cidadão?
Por favor senhores políticos, deixem de considerar parvos todos os cidadãos. É certo que alguns poderão sê-lo. Mas, apesar de tudo o que se diz, poucos cidadãos estão na política.

4 comentários:

Amaral disse...

João
Os senhores políticos deviam era sofrer na pele o que os outros sofrem. Mas não sofrem porquê? Porque têm seguranças à porta.
Abraço

A. João Soares disse...

O mal é que não sofrem nem fazem ideia do que isso é, da insegurança que as pessoas sentem em casa e na rua, de dia e de noite. Há pessoas que estão a entrar em fobias paranóicas. O panorama não é agradável e arrasta consigo a falta de confiança nos governantes, pela falta de medidas eficazes e pelas palavras insensatas que vomitam em frente dos microfones.
Um abraço

Anónimo disse...

QUE SEGURANÇA?

Temos Homens no Afeganistão e no Leste da Europa; são os nossos Militares.
Temos Homens em Timor; são da GNR e PSP.
Enquanto isso andamos aqui a falar de efectivos para as Forças de Segurança... Viram o Dr. Rui Pereira no debate Prós e Contras na RTP 1? O debatido pelo senhor ministro não convenceu. Um debate cinzento onde se resume tudo a estatísticas pouco reais. Em minha opinião a criminalidade não desceu. Aumentou significativamente, quer na pequena criminalidade, quer na organizada e violenta. Acontece que, segundo vejo e ouço, as pessoas vítimas do esticão, do pequeno roubo, só apresentam queixa se precisarem de justificação policial para renovação dos documentos, pois caso contrário nem isso faziam. Quanto a assaltos a carros, a casas e outros, parte dos lesados não participa às autoridades policiais. Só o fazem caso tenham apólice de seguro que abarque o acontecido. Porque acha o Dr. Rui Pereira a zona cinzenta diminuta? Deveria conversar com aqueles que não têm polícia à porta, nem "bodyguards". Sei que um ministro não pode meter medo à população, mas esta vive na realidade. Todos os dias são comentados nas praças e ruas das cidades o que nelas e no país se passa em relação à segurança, ou falta dela. Ouve-se dizer todos os dias:-Participar para quê? Temos que perder tempo e daqui a dias recebemos um postal a dizer que vai ser arquivado por falta de provas...
Parece-me que os cidadãos não acreditam na Justiça de Portugal.
Gostei da intervenção do empresário de Viana que foi assaltado. Dos alertas que focou. Da falta de fiscalização. Quem não sabe que a fiscalização e prevenção é muito fraca, para não dizer nula nalguns casos? Quanto aos oradores dos sindicatos da PSP e GNR, só posso dizer que lamentei a ausência do representante sindical da PJ: seria mais instrutivo e incidente.
Bem, vamos todos ao molho e fé em Deus, tudo à investigação criminal, esquecendo alguém que esses homens que hoje trajam civilmente "investigando", fazem parte do efectivo normal das polícias, razão pela qual cada vez há menos polícias nas ruas. Disto ninguém falou! Será que sabem?
O policiamento de proximidade foi pelo cano abaixo. Não há prevenção. As Brigadas de Intervenção Rápida (BIR) que também retiraram os agentes aos giros de patrulha normal, são em alguns locais um conjunto de agentes que circulam dentro de uma carrinha pela cidade, fazendo pouca ou nenhuma prevenção, aguardando em conjunto por uma chamada de ocorrência de desordem pública, ou outra coisa. Deveriam durante o turno distribuir os seus homens por uma zona circundante de dois a três quarteirões durante um tempo indeterminado e depois rodar para outro local. O chefe e o motorista deviam estacionar a carrinha num local de visibilidade e que servisse de base à secção, podendo a qualquer momento e depois de uma chamada de rádio, recolher de imediato o pessoal dirigindo-se então para o local da ocorrência.
Mas pergunto: há oficiais? Onde estão eles? Não os vi!
Gostaria de ter visto um debate mais sério na vertente operacional e real.

A. João Soares disse...

Cara Abelha Maia,
Não vi o debate, mas o que já ouvi e aquilo que aqui descreve com pormenor dão ideia de que muita gente com responsabilidades vive a muitos quilómetros de altitude, nas nuvens, e não faz a mínima ideia do que se passa ao nível dos cidadãos da «classe civil». Seria bom que os governantes aparecessem nos transportes públicos e nos cafés e metessem conversa com as pessoas.
Um abraço