quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Contradições abundam

Transcreve-se o seguinte artigo do Destak de 18Out07:
Governo incentiva casos de dupla personalidade

Se fosse guarda prisional em Portugal acusaria o Governo de me querer provocar uma síndrome de múltipla personalidade. Ontem, à saída da Assembleia da República, o ministro da Justiça, Alberto Costa, falou directamente para a personalidade A do guarda prisional. Com a sua voz clara, anunciou que agora, como sempre, o representante da autoridade que encontre alguém na posse de uma substância ilícita deve imediatamente «apreender a droga e, se se tratar de uma situação de tráfico, proceder à denúncia para ser canalizada para o Ministério Público». Justificando a sua posição, recordou que «as leis penais e processuais penais não são modificadas por esta experiência piloto». Portanto, a personalidade A do guarda só tem que pegar no prisioneiro pelas orelhas, e vociferar: «Malandro, então andas-me na droga outra vez? E quem é que te deu esta porcaria, vamos lá saber? Tens mesmo a mania que és esperto, e a malta não topava, era? Toma lá um carolo e mais dois meses de prisão que te lixas.»

Falando, logo de seguida à personalidade B do mesmo guarda prisional, o também idêntico ministro explicou que «a situação excepcional é apenas uma seringa contaminada ser substituída por outra não contaminada. O objectivo do programa é substituir seringas, não é favorecer o consumo ou o tráfico de droga». Sendo assim, a personalidade B do guarda fica a saber exactamente como agir. Chega-se ao prisioneiro e diz-lhe, num tom suave: «Ó pá, passa para cá o produto, mas fica lá com as seringas, que até foi a malta que tas deu, e já agora guarda o toalhete, o limão e a carica pá, que sou um mãos largas. E logo vais lá abaixo pedir outra, ouviste? Para quê? Sei lá, filho, mas não quero é apanhar-te outra vez a chutar para a veia. Brinca aos médicos, ou enche isso de água para fazer de bisnaga no Carnaval, estás é farto de saber que a porcaria da droga é proibida aqui dentro, e ao que parece no resto do País também. Aliás, se não me falha a memória, é por isso que estás preso, mas adiante».

Há outras explicações possíveis, como a de que a esquizofrenia seja da AR que aprovou o programa, ou ainda que não passe de uma estratégia para enlouquecer o prisioneiro, dando-lhe para a mão o fruto proibido, e depois castigando-o por o ter aceite. Maquiavélico, mas nada de novo.

Autor: Isabel Stilwell, editorial@destak.pt
NOTA: Mais uma vez, Isabel Stilwell marca aqui presença com uma observação perspicaz. O Governo, efectivamente, tem procurado criar em nós uma dupla personalidade: a que nos leva a acreditar nas suas promessas e falácias e a outra com que olhamos para a realidade adjacente ao local onde pousamos os pés. Mas isto é o reflexo das múltiplas personalidades do legislador, como no caso versado no texto, e com as formas de pensar, falar e agir dos governantes como é evidenciado pelas tácticas de avança, pára e recua ou dito de outra forma, com as dos avanços em zigue-zague, ou ainda com a de um passo para a frente e dois para trás, o que define a história recente da nossa posição no rank europeu. Com tais contradições e indefinições não podemos ir muito longe!

6 comentários:

Henrik disse...

Observa-se bem o fenómeno..eu diria que a televisão também ajuda a fortalecer esse distúrbio de múltipla personalidade...onde as perspectivas políticas são tratadas de modos diferentes tornando inapto para a decisão o consumidor ávido de informação que depois é desinformado sardonicamente.

A. João Soares disse...

Caro Henrik,
Os seus comentários incidem sempre em pontos fulcrais que permitem um aprofundamento da análise dos temas. É essa a vantagem de um bom comentário.
Realmente, as gafes dos políticos dão aso a interpretações sardónicas, irónicas humorísticas, pelo facto de eles serem figuras públicas. Vem de longe, sendo bem conhecidos os textos de Eça de Queirós e de outros escritores da sua época e de outras mais recentes. Presentemente, como os políticos exageram no seu aparecimento quase diário na TV, o que tem para eles o inconveniente de ficarem muito visíveis, qualquer aspecto da sua insegurança, desde a fuga a respostas até a contradições ou hesitações fica mais exposto à observação do povo.
Os meios modernos de comunicação ampliam os comentários mais picantes. São abundantes as anedotas que circulam na Internet, nem todas sendo originais e, por isso não sendo pessoais, mas adaptações de outras de épocas anteriores, inclusivamente do antigo regime.
Procuro usar sempre o critério de que criticar não é apenas dizer mal, mas também dar tópicos de reflexão, pistas para melhores decisões, escolhas mais adequadas. Certamente, não são soluções milagrosas, mas apenas pontos que parecem merecer ser apreciados como possíveis, como merecedores de ponderação, por poderem encerrar aspectos úteis.
Neste blog podem ser encontrados artigos que consubstanciam este critério.
Um político experiente, sensato e amigo do nosso País, deverá ter a humildade e o «jogo de cintura» adequados para não se irritar com comentários mais duros ou bem dirigidos para as suas vulnerabilidades e não os afastar, mas olhá-los com o sentimento de que poderá neles encontrar pontos válidos para as suas meditações.
Ser político não quer dizer deixar de ser humano e, portanto, sujeito a errar. Esta vulnerabilidade de qualquer humano deve ser contemplada nos políticos quer por eles próprios quer pelos cidadãos em geral.
Acho que todos os cidadãos devem ser tolerantes, benevolentes, complacentes, compreensivos, indulgentes, clementes, mas apenas em casos pontuais, concretos e não em conceitos estratégias, decisões de efeitos continuados que prejudiquem a felicidade dos cidadãos actuais e vindouros. Sem isto, seriam coniventes, conluiados, etc.
Por esta razão, e para ajudar o Governo a agir em benefício dos cidadãos, é conveniente que a população raciocine livremente e não se deixe condicionar por um ou outro partido sem ter opinião própria. Nestes problemas da gestão dos interesses do país não há coisas sagradas, tabus, tudo sendo e devendo ser discutível, analisável em todos os aspectos. Se assim não for, não se pode, em dado momento, esperar que o cidadão vote conscientemente neste ou naquele candidato, nesta ou naquela solução.
Obrigado por me estimular a fazer esta redacção!!!
Um abraço

Anónimo disse...

Os guaradas prisionais irão conviver com o perigo da agressão e da sida!

Palavras para quê? Alberto Costa, o homem que publicará o livro, quando for apeado (já cumpriu o seu dever, alterar o CPP): Esta não é a minha justiça", tal como fez com a polícia que não era dele, depois de sair do MAI!

Abraço

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas,
É lamentável que o País esteja desgovernado. Os ministros e outros palhaços querem tomar parte no espectáculo para ali realizarem o seu papel de vendedores de banha de cobra a fim de conseguirem objectivos pessoais que nada têm a ver com o desenvolvimento de Portugal, para bem dos portugueses. O que lhes interessa é o que ganham enquanto estão no palco e o que querem ganhar quando forem para um poleiro dourado. Não olham a meios para se protegerem e protegerem os do seu gang.
Seria interessante alguém preparar uma lista dos ex-governantes e dos seus actuais tachos e de quantas reformas recebem e o seu valor total. Isso são os seus objectivos determinantes, como se conclui de tudo o que se passa e se tem passado, neste rectângulo, nas últimas décadas.
Abraço

Isabel Filipe disse...

está fantástico este artgo.

adorei ler.

bjs e boa semana

A. João Soares disse...

Muito obrigado, Isabel, pela sua simpatia Espero não deixar de corresponder às suas expectativas.
Um abraço