Tragédia cultural
Por: Alexandre Pais, Director do Record e director editorial da TV Guia, em Destak de 07Nov07
A semana tem sido trágica em acidentes rodoviários, com muitas vítimas mortais e um denominador comum: a inépcia ou a negligência dos automobilistas na origem dos sinistros.
Não tem havido mau tempo, não há pisos escorregadios, e não tem sido por mau estado das estradas ou deficiente sinalização que a desgraça tem batido à porta de tantas famílias. Este acréscimo brutal de vítimas é também a confirmação da falência de três décadas de políticas erradas na área da prevenção rodoviária. Sucessivos governos apostaram na repressão dos condutores em vez de o terem feito na mudança de mentalidades, na indispensável revolução dos hábitos assassinos ao volante que distingue os portugueses como dos piores automobilistas da União Europeia.
De que adianta, por exemplo, duplicar as multas por excesso de velocidade se, quem prevarica, pode pagar e voltar a carregar no acelerador? Temos a mania de entregar à Divina Providência a vida e o futuro da nossa gente. Mas até a Senhora discorda dessa irresponsabilidade. É o segundo autocarro que regressa de Fátima que vai pela ravina abaixo.
NOTA: Hoje no jornal «Meia Hora» aparece um artigo extenso com o título «Estradas nacionais mataram 66 mil pessoas nos últimos trinta anos». Em subtítulo diz: Os dados da Direcção-Geral de Viação revelam números equivalentes a uma guerra».
No Blog Mentira Têm sido publicados alertas para este problema preocupante, tendo o último sido intitulado «Assassinos da estrada». Devemos felicitar o seu autor por este cuidado. Ao mesmo tempo, devemos lamentar os autores da «falência de três décadas de políticas erradas na área da prevenção rodoviária» pela decadência do civismo que esta tragédia representa e que resulta, principalmente, da falência do ensino, da educação, do funcionamento das escolas e do serviço público da RTP. Mas será estultícia esperar que os políticos mais em evidência sejam capazes de resolver esta crise de valores e de respeito pelos outros.
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
A estrada espelha o «civismo» dos portugueses
Posted by A. João Soares at 21:46
Labels: acidentes, mentalização, segurança
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5 comentários:
Obrigado pelo elogio, mas são verdadeiras constatações. Só que parece que o tal orgulho mascarado de auto estima não permite que se vejam.
Ora aqui está um rapazinho cujas palavras são mais uma cópia do que se encontra não só no Mentira! e no Leão Pelado, como há anos no Site da Mentira, aqui, aqui e aqui. É tão evidente!
Esperemos que alguém o ouça. Enquanto isto for ignorado as mortes continuarão a somar-se.
A não esquecer que todos os motoristas são também peões e que não apenas incivilizados quando no papel de peões.
O mal é realmente profundo e é necessário combater as causas e não ficar pelos sintomas. E as causas estão enraizadas no civismo, na forma de encarar os assuntos do relacionamento entre as pessoas e entre estas e o ambiente. Para isso seria necessária uma mais eficiente acção dos pais e das escolas. Mas nem os pais nem os professores, de uma forma geral, estão preparados para assumir essas responsabilidades.
Os psicólogos esforçam-se por contribuir paar a degradação da educação, defendendo que as crianças devem ser tratadas como vegetais espontâneos do que resulta serem ervas daninhas. Esquecem que mesmo entre os animais selvagens, os pais e os mais idosos educam as crias e criam um ambiente responsável e respeitoso.
Abraço
Com efeito todos os males do país têm a mesma origem: o civismo ou a falta dele. Também é falta de civismo não ter capacidade para compreender as intenções dos políticos e o seu procedimento ou deixar-se sempre enganar por eles, ou ainda não ter a mínima ideia de em quem votar ou estar à espera que sejam «os outros» a resolver os problemas, «um só não faz diferença», pensa-se.
É uma ignorância doentia, uma apatia, um amorfismo, uma indiferença, uma atitude suicidária. Atitude de rebanho, mas não de obediência disciplinada e esclarecida, porque a falta de educação cívica e política não impede actos de rebeldia selvagem e diabólica que transparece na violência que se vê pelas notícias. Mata-se por razões insignificantes, mas aceita-se toda a aldrabice dos políticos como se fosse inevitável.
Não vejo uma saída eficaz para este mal. E quem pode dar o primeiro passo não está interessado. Prefere o acentuar da degradação moral e social que preocupa as pessoas mis esclarecidas, como o meu amigo.
Abraço
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