Os grandes problemas da humanidade continuam a agravar-se por falta de capacidade e de coragem dos poderosos para os encararem de frente.
Os encontros de diplomatas, de grande ou pequena ostentação, não vão geralmente além dos «cocktails» poliglotas em que é praticada a «diplomacia do copo e do croquete». É assim desde há muito tempo e, agora, tudo isso começa por extensas viagens que ficam caras aos contribuintes a quem são exigidos todos os sacrifícios.
Na cimeira UE-África, foram à partida colocados de lado os principais problemas humanos que preocupam as pessoas mais sensíveis e generosas do Mundo – Darfur e Zimbabwe. A recusa da abordagem destes assuntos mostra que eles ultrapassam o limite máximo da capacidade dos diplomatas, os quais preferem utilizar a táctica da avestruz que enterra a cabeça na areia para evitar ver o perigo. E, assim, os participantes da cimeira, que custa ao Estado português 10 milhões de euros, irão conversar acerca de temas do interesse das multinacionais, embora não sejam estas que pagam os custos do encontro. Ou, pelo menos, não impedem que o Estado faça a despesa!
Para quem duvide daquilo que fica acima acerca dos diplomatas (há excepções, como em todas as regras e generalizações) recordo que, há dias, Durão Barroso confessou estar arrependido de ter apoiado a guerra no Iraque, alegando que não tinha informação completa e verdadeira, donde se infere que houve falta de eficácia da diplomacia que o apoiava, e também infantilidade dele por não ter testado os dados de que dispunha. O mesmo se pode dizer da precipitação de Bush, de Blair e de Aznar no mesmo facto, e da irreflexão da França que, com os aviões com empresário do petróleo enviados a Bagdade, deu a Saddam Hussein uma percepção errada da proximidade do «ponto sem retorno» no diálogo entre o Iraque e os EUA. Outro exemplo da deficiente diplomacia e serviço de informações veio agora a público, depois de os EUA terem ameaçado o Irão com acção militar para impedir o seu armamento nuclear, só agora se sabe que as investigações científicas e técnicas para esse fim tinham terminado já em 2003. E assim se desestabiliza um País com uma longa história cheia de factos exemplares.
Depois de tantas medidas oficiais e de ONGs para apoio aos refugiados do Darfur e para acalmar os actos ditatoriais de Robert Mugab, vemos agora estas situações serem consideradas banais e sem importância que justifique o incómodo dos diplomatas. Ou andam todos a enganar o Mundo ou andam de olhos fechados para as realidades. Qualquer destes casos é de lamentar e levam a perguntar como acreditar nos diplomatas, nos políticos ou nos governantes?
Momento cultural
Há 5 horas
7 comentários:
João
Abordar este tema não é fácil. Estar ou não Mugabe, Gordon Brown... é logo meio caminho para atirar para canto o mais importante. A cimeira devia ser feita, sim, mas sem políticos. Assim talvez fossem abordados, a sério, os problemas que preocupam.
Abraço
Caro Amaral,
Já nem refiro a vinda dos políticos africanos, apenas me chocou foi a recusa de abordar dois temas que me parecem de elevada importância, por se traduzirem em atentados aos direitos humanos - Darfur e Zimbabwe.
Porque se deseja que Mugabe não esteja presente se no País foi recebido Chávez, Putin e agora vem aí o Kadhafi, o José Eduardo dos Santos e outros dirigentes autoritários que nos levantam a dúvida se são democratas ou fascistas ou ditadores, etc.
Não há manuais que nos ajudem a interpretar os políticos. Sáo imprevisíveis e imperscrutáveis.
Há pouco, distraidamente pareceu-me ouvir o MAI dizer que pretende na época do Natal reduzir os acidentes e mortes na estrada para cerca de metade do que no ano passado.
Se foi mesmo assim é de bradar aos céus.
Abraço
João
Sobre o tema deste post, sugere-se a leitura dos artigos seguintes:
-Kadhafi trata de negócios e política em Lisboa
-"Excluir Darfur da agenda da Cimeira foi um erro"
Caro João Soares,
o Durão Barroso disse que na altura, os EUA lhe apresentaram factos que não eram reais...
Coisas...porque não mandou os nossos "poderosos" serviços secretos confirmar?
Quanto a esta brincadeira UE/África só nos vai custar 10 milhões de Euros...
E depois não há dinheiro para actos relevantes nacionais, por causa do défice.
Abraço
Caro Mário Relvas,
Esses 10 milhões até poderiam ser considerados bem gastos se fossem contribuir para melhorar a qualidade de vida dos africanos mais pobres e necessitados, como os do Darfur, do Zimbabwe, de Moçambique e do interior d Angola.
Mas só vai haver festa, tenda líbia, fatos e ornamentos tribais, penachos e outras fantochadas vistosas, para alimentar a vaidade dos políticos. E tudo isso acontece à custa de impostos do povo trabalhador.
Um abraço
Artigo publid~cado no JN em 071207:
Direitos humanos à parte
http://jn.sapo.pt/2007/12/07/ultima/direitos_humanosa_parte.html
Por: Manuel António Pina
Lisboa será durante este fim-de-semana - já o escrevi antes - um dos lugares mais mal frequentados do Mundo. E não será apenas pelo número de ditadores e corruptos por metro quadrado que abrilhantarão a Cimeira UE/África que decorrerá na FIL (só o pavilhão onde Peter Lorre, em "M", de Fritz Lang, é julgado pela ralé de Berlim juntou alguma vez tantos criminosos sob o mesmo tecto) mas também pelo número de políticos europeus capazes de vender a alma ao diabo e trocar os valores essenciais em que se funda a própria Europa democrática por considerações económicas e geoestratégicas.
Que importância têm os massacres na Somália, no Congo ou no Sudão, as violações dos direitos humanos no Malawi, na Tanzânia, na Zâmbia, em Angola, na Líbia, no Chade, a apropriação das ajudas internacionais e o seu desvio para as contas bancárias das cliques dirigentes, a morte e a miséria de milhões de pessoas, quando estão em causa negócios?
Negócios, negócios, direitos humanos à parte é a sórdida lição que os governos europeus - gente que todos os dias se põe de joelhos perante a China, que está disposta a vender Taiwan e o Tibete (e o Dalai Lama com ele) a Pequim, a "esquecer" o Zimbabwe, o Darfur, o Sara Ocidental - dão aos seus povos amanhã e depois em Lisboa.
"Clique para ler
Esta cimeira UE/África foi muito importante para o mundo. Também tem que merecer uma reflexão para os cidadãos diferentes e famílias deste país. Os Direitos Humanos foram constantemente referidos por governantes, sobejamente repetido por José Sócrates, Primeiro-Ministro de Portugal.
É hora de se lembrarem e concretizarem, o mais possível, os direitos das pessoas com Autismo, devidamente consignados como carta no Parlamento Europeu.
Não sou muito a favor de abaixo-assinados, pouco resolve, estão banalizados... Mas espero que os responsáveis governativos tomem um rumo nesta matéria, urgentemente, caso contrário, nós pais, os que não estamos encostados a nada, para lá da consciência de cidadãos e de pais de autistas, teremos que lutar por eles, de outra forma, demonstrando o teatro que se faz e vive em Portugal, nesta matéria, por aí...e por aqui!"
"Lá no aromas"
Saudações matinais
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