sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O mundo estará doente?

O assassinato de Benazir Bhutto é um indicador do estado de doença do Mundo actual, suscitando reflexões atentas de vários pontos de vista, sem preconceitos nem paixões.

Não me refiro propriamente à violência da morte, porque este não é o primeiro caso nem, infelizmente, será o último. Ela era uma rival do Poder actual, mas John Kennedy, Indira Ghandi e Anuar Sadat eram o próprio Poder e foram abatidos. No Iraque e em Israel e Palestina tem havido atentados com violência semelhante.

Também não é por se tratar de uma mulher bonita que o facto é chocante, porque tal predicado, dada a forma como ostentava a beleza e o baton, constituía uma provocação numa região em que as mulheres vivem embiocadas ou, no mínimo, discretas.

Mas há outros aspectos mais relacionados com a comunidade internacional que exigem reflexão. O Paquistão dispõe de armas nucleares, para o que dispõe da amizade e compreensão da super-potência EUA. Estas armas constituem um grande risco para a paz mundial por se tratar de um Estado muito instável em que o poder tem mudado de mãos na sequência de atentados e golpes de Estado. Perante este facto e o consentimento dos EUA, ficamos sem saber qual a razão de a super-potência ter receio de tais armas nas mãos do Irão, um Estado com muito longa história de que se orgulha e com uma apreciável estabilidade governativa. De entre os dois vizinhos, tais armas representariam menos perigo no Irão.

E quanto a estes apetrechos de guerra, ainda está na nossa memória a recente ameaça de confrontação com a Índia, com deslocações recíprocas de mísseis para a proximidade da fronteira, devido a atritos surgidos na Caxemira. Dois países vizinhos, que foram irmãos, como colónias da Grã-Bretanha, ambos com tais armas, mas em que a Índia merece mais confiança pela sua serenidade e estabilidade política e estratégica.

E, ao referir a Caxemira, ressalta o referendo prometido pela ONU em 1947 (há 60 anos!) e ainda não efectuado. Fica a dúvida. Qual o real poder da ONU? Para que serve a ONU além do circo diplomático de vaidades todos os anos em Setembro? E a Al-Qaeda? Parece que em 2001 (há seis anos!) os EUA queriam acabar com ela e, com esse pretexto, têm feito grandes gastos no Afeganistão e convencido outros países a colaborar nos custos – um dos quais Portugal – causando muitas destruições, baixas humanas e prejuízos na qualidade de vida das populações sobreviventes. E, além destes custos e inconvenientes, qual o benefício de tais acções a não ser os dos fabricantes de armamentos?

De todas as reflexões que possam ser desenvolvidas, qual o aspecto positivo para a esperança de paz e harmonia no futuro daquela região e do mundo? Que réstia de optimismo poderá romper através das trevas que envolvem as relações internacionais e as capacidades dos seus agentes? Que palavra tranquilizante pode ser dita a um ser pensante ávido de serenidade e bem-estar que queira confiar no bom senso dos políticos mundiais?

3 comentários:

A. João Soares disse...

Quem beneficiou com o crime?
Mesmo que o Musharraf não o tivesse ordenado, alguém do seu partido pode ter tomado a iniciativa. Não me custa a crer a ausência de disciplina a esse ponto, ou o excesso de zelo.
Abraço

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas,
Para a filosofia do post, esses pormenores são locais, regionais, embora, é certo, nada se confina às fronteiras de um País. No post procurou-se estimular os pensamentos para vários aspectos que devem ser meditados no tocante às relações entre os Países da Ásia do Sul e ao Mundo em geral. A acção americana na região não tem sido sensata, nem no massacre do Afeganistão, há muitos anos debaixo da pata de poderosos, quer da URSS quer da NATO, o Paquistão apoiado pelos EUA, a Índia ora apoiada ora desapoiada pela China, o Caxemira com um um plebiscito prometida pela ONU e que nunca se realizou, os repetidos «mostrar de dentes» entre Paquistão e Índia, a arma nucleares, hoje considerada tão perigosa que nem pode ser permitida ao Irão e à Coreia do Norte, foi apoiada no Paquistão.
Aplicação de democracia nas relações internacionais? E as continuadas interferências em Países considerados perigosos para a hegemonia dos poderosos, mas inexistentes para Países e regiões onde é necessário apoio às pessoas?
Não se pode acusar de tudo a Al-Qaeda. Ela até aplica alguma coerência nas suas acções e usa ética e moralidade no combate aos ocidentais, assim estes saibam impor as virtudes que têm esquecido. É preciso ter coragem de analisar os comportamentos com base nos motivos que os causam. O atentado que vitimou a Bhutto não foi diferente quanto a resultados humanos de muitos que foram praticados em outros locais, por vezes de origem ocidental ou dos seus apoiados (Sérvia, Kosovo, Somália, Afeganistão, Iraque, por exemplo).
Há muitos temas para meditação e estamos no limiar de um Novo Ano em que seria oportuno afinar estratégias com uma filosofia adequada. Falta um Karl Max moderno e assente nas realidades de hoje e, depois, políticos honestos e competentes para praticarem bons princípios.
Abraço e Feliz Ano Novo
Um abraço

A. João Soares disse...

O respeito pelas ideias diferentes dos que são diferentes não signifique que se adoptem ou se apadrinhem. Mas o saber ecuménico leva a procurar compreender os comportamentos mesmo os mais estranhos, com verdadeiro espírito de Natal. Os que têm ideias opostas às nossas, não são obrigatoriamente estúpidos e ignorantes e terão sido movidos por lógicas que poderão ter algo de positivo, mesmo que as conclusões possam ser muito negativas. E, para evitar essas conclusões convém descer às origens, às causas, porque aí se fazem as curas mais eficientes.
Abraço e votos de Bom Ano