quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

A política e o ilusionismo

Transcrição de artigo do JN
O "lifting" nacional
Por Manuel António Pina, jornalista do JN

Com uma campanha de três milhões comprada a uma agência de publicidade, o Governo quer apagar - vem no texto de apresentação da campanha - a imagem de "subdesenvolvimento, iliteracia, corrupção e recorrentes indicadores estatísticos de miséria" de Portugal.

O ministro da Economia é um "homme du monde" e, para milagres, não vai ao Professor Karamba, vai a uma agência de publicidade. Em vez do "Abracadabra!" do Professor, a agência pronuncia as palavras mágicas "West Coast of Europe" e o país transforma-se de um momento para o outro, em (ainda a crer no texto de apresentação da campanha) "surf, qualidade de vida, Hollywood, criatividade, entretenimento, Los Angeles, S. Francisco, Las Vegas, Silicon Valley".

Para o "lifting" nacional ser total, a agência usou imaginosamente, em vez de Amália, uma foto de Marisa, em vez de Eusébio, Mourinho e Cristiano Ronaldo (só falta a nova basílica para a trilogia Fado, Futebol & Fátima ficar completa).

A agência quis ainda (não é invenção do cronista, quis mesmo!) mudar a bandeira, pois isso constituiria um "evento mundial" maior do que, coisa banal, acabar com a iliteracia, a corrupção e a miséria, mas o ministro hesitou. A bandeira ficará para depois. Para quando Tony Carreira acabar de escrever o novo hino.

NOTA: São tradicionais as anedotas de loiras de cabeça oca e a estas são atribuídas as fantasias ilusionistas dos silicones e dos «liftings». Tácticas do «faz-de-conta» da ostentação de imagens fictícias para ocultar a realidade das rugas e dos sinais de feiura ou fealdade. Tudo virtual para iludir os menos atentos, os mais ignorantes. É a táctica do aldrabão que para vender o carro velho mete serradura o cárter do motor para evitar os ruídos causados pelas folgas. Agora, vemos que os políticos querem inscrever-se no mesmo rol de pessoas menos sensatas. Lá diz o velhote: meu rapaz, nunca compres um carro usado a um político!

2 comentários:

Amaral disse...

João
Penso que tradicionais são as gaffes do ministro da economia (é de pinho se fosse de carvalho...). Com esta mudamça conseguiram revitalizar a imagem, a embalagem, mas o conteúdo mantém-se igual ou até pior.
Abraço

A. João Soares disse...

Amaral,
Quando se estende verniz em cima de superfícies impróprias, ele acaba por estalar e mostrar a porcaria que está por baixo. Isto acontece por melhor que seja o publicista. A verdade vem sempre à tona de água e quem se sente enganado nunca mais esquece. Na primeira qualquer cai, na segunda só cai quem quer!
Abraço