Numa carta ao director do Público escrita por Ana Cornélio e publicada hoje, com o título «A desertificação de Cascais» consta que a baixa já tem os seus dias contados.
Segundo a autora estão a fechar lojas atrás de lojas e só abrem lojas chinesas, a partir das 16h00 Cascais não tem ninguém e começa a haver graffiti nas montras e paredes mesmo no centro.
Em tempos, junto à Baía, em frente à câmara municipal via-se gente aos montes e hoje não há ninguém, e mesmo no Verão são poucos os que ali circulam. Alguns moradores do centro têm medo de sair à noite pois não há ninguém nas ruas. A associação empresarial tem tido muito boa vontade em ajudar, mas nem sabe o que fazer.
O presidente da câmara é elogiado por estar a fazer a recuperação de edifícios antigos, mas, independentemente das pressões que a isso o empurram, o efeito dessas medidas não virá a tempo de salvar o comércio que está a morrer.
A autora da carta considera que o trânsito é a principal causa da desertificação, principalmente depois da via de escoamento da Marginal que permite a passagem de muito carro, mas não entram nem param em Cascais.
A autora evidencia uma boa perspicácia ao atribuir ao trânsito a principal causa. Se não for a principal é uma das primeiras causas. Há poucos anos, quem viesse pela marginal e quisesse ir para a saída oposta (ocidental), era encaminhado pela Alameda dos Combatentes da Grande Guerra, Baía, Cidadela e aí podia escolher ou a Avenida Rei Humberto II de Itália, ou a Avenida da República. Hoje, devido aos condicionamentos impostos, entre a Alameda e a Cidadela, essa hipótese está interdita e a única maneira de circular entre os extremos Leste e Oeste é a Avenida 25 de Abril que contorna a vila antiga, sem sequer permitir virar à esquerda, ao ponto de um visitante vindo pela marginal que queira dirigir-se à zona da Cidadela (muito perto da rotunda Sá Carneiro), tem que percorrer a periferia da vila quase em 360 graus, pois tem de seguir toda a Av 25 de Abril (quase dois quilómetros e ao encontrar a Av da República virar à esquerda e percorrer mais um quilómetro).
Os autarcas esquecem que as vias de comunicação são os vasos sanguíneos da economia e esta serve os cidadãos, consumidores e trabalhadores. E com as veias, artérias e vasos capilares não se deve brincar! Não se pode estrangular a corrente sanguínea de uma localidade de ânimo leve, por capricho ou porque se acordou com uma ideia que depois não foi analisada por todos os lados, tendo em conta todos os factores condicionantes e implicações nos vários sectores da vida das populações.
Como disse num post recente, não existe mentalidade de planeamento nos serviços públicos, o que é muito grave porque, sem planeamento e estudo cuidado das decisões, seguido de uma organização adequada à acção e uma programação tendente à eficiência e economia da concretização, não haverá uma gestão correcta dos recursos e não se defendem os interesses das populações, que devem ser o objectivo iniludível das instituições e dos serviços públicos.
Almirante Gouveia e Melo (XXXIV)
Há 1 hora
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