domingo, 6 de janeiro de 2008

Não existe mentalidade de planeamento nos serviços públicos

De Aveiro chega a notícia de que as urgências hospitalares foram reformuladas na sequência da morte de idosa. Esta senhora, que não seria da família de qualquer político, faleceu em 2 de Janeiro, depois de estar quatro horas numa maca sem ser observada por médicos. Só agora, após esta lamentável ocorrência, a direcção clínica do Hospital Distrital de Aveiro (HDA) decidiu fazer alterações no atendimento dos doentes na urgência. Não prestavam atenção ao funcionamento do serviço, deixavam andar, e não se apercebiam de que o serviço necessitava de ser reformulado para dar o apoio que lhe compete, com uma eficiência aceitável.

Parece que no País não existe mentalidade de gestão que privilegie a preparação das decisões com base em estudos cuidadosos que se antecipem aos acontecimentos, uma espécie de previsão, que se traduza em actos de planeamento, programação e organização, com vista à eficácia dos serviços e ao bom emprego dos recursos que lhe são inerentes, tendo sempre em vista os melhores efeitos nos utentes e beneficiários. Falta a consciencialização da necessidade de conhecimentos de gestão. E isso tem sido notório principalmente nos serviços do ministério da Saúde, mas não apenas aí, pois na Educação, na Justiça, na Economia, na Administração Interna, abundam os casos.

No mesmo jornal, a propósito do anunciado fecho de 108 postos da GNR , o secretário de Estado da Administração Interna, Fernando Rocha Andrade garantiu (!) que, a não ser em "casos pontuais", em que haja, nomeadamente, uma mudança de localização, "não vão ser extintos postos", no âmbito do processo de reorganização territorial do dispositivo das forças de segurança da PSP e da GNR.

Também agora se sabe que existem três milhões matrículas virtuais no registo automóvel. Só agora, ao chegar a este lindo número, os serviços acordam e ficam espantados com o panorama que antes ainda não tinham conseguido avistar, tal é a miopia. Parece o resultado da tal formatação dos funcionários públicos no sistema ortorrômbico. Só agora pretendem eliminar esta quantidade de matrículas "fantasma", através de um programa de saneamento do registo automóvel, a lançar em breve, a fim de "abater" os veículos que já não existem ou não circulam de facto.

E temos de viver neste suspense, como em autênticos filmes policiais, por falta de planeamento consciente e cuidadoso, que é substituído por tentativas de avanços e recuos condicionados pelas pressões populares. E o mais incompreensível é que, actualmente, todos os ministérios e serviços públicos contam, na sua folha de pagamentos, com muitos assessores, avençados e contratados, o que faria supor a existência de competências e capacidades superabundantes para enfrentar todas as necessidades de gestão, nas suas diversas faces. Mas parece que os ordenados que lhes são pagos não se destinam a essas colaborações positivas!

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