quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Mau uso da burocracia

O inspector-geral da ASAE foi apanhado a fumar, no primeiro dia deste mês, após ter entrado em vigor a guerra ao tabaco, numa sala de casino com muita gente e apresentou uma desculpa muito tosca. Isto veio recordar-me o tema do post «Obsessão da Burocracia», em 24 de Dezembro, em que referia o pretexto muito discutível de uma alta funcionária da Câmara de Setúbal que justificava a ausência de actuação do serviço que dirige contra a situação catastrófica de uma suinicultura em que morreram de fome e sede centenas de suínos, pelo facto de essa empresa não ter existência oficial, embora fosse do seu conhecimento, há mais de cinco anos que ela ali estava. Sabia na realidade, mas não sabia por via oficial!

Este caso veio confirmar que a maioria dos funcionários são formatados num sistema operativo castrador que os faz cristalizar no «sistema ortorrômbico», impeditivo de utilização cabal dos seus neurónios, nem sempre muito abundantes, como as suas atitudes parecem querer provar.

Agora, a notícia canalizada por vários meios da comunicação social, de que após a entrada em vigor da lei que proíbe fumar em recintos fechados para benefício da saúde de todos principalmente dos não fumadores que devem ser preservados dos abusos dos que fumam, foi fotografado de cigarrilha na boca o inspector-geral da ASAE. Ao ser interrogado por jornalistas, seria compreensível uma resposta do género de que o ambiente de festa da passagem de ano e o hábito o levaram a distrair-se, e estava penalizado por causar incómodo aos presentes. Mas não. Não conseguiu despir o capote de funcionário, formatado na obediência cega e incondicional à burocracia, esqueceu «o espírito do legislador» e respondeu que a lei não se aplicava aos casinos, ou talvez querendo dizer que a lei não se aplica aos locais onde ele estiver. E mesmo esta resposta parece, segundo alguns comentadores, não corresponder exactamente ao teor da lei.

E é neste sentido que um parecer emitido pela autoridade de saúde, na semana passada, considerava que os locais de jogo estão abrangidos pela legislação, pelo que neles é interdito o fumo. Francisco George, director-geral da Saúde, considera que os casinos e salas de jogo, "sendo locais fechados, não podem deixar de se incluir no âmbito da aplicação da lei", além de estarem abrangidos na lei por "serem locais de trabalho".

Isto passou-se, com o responsável pela ASAE, que é um organismo suposto zelar pelas condições de higiene e de saúde dos cidadãos! Parece lógico, racional, que se a lei não se aplica a Casinos seria de esperar que ele, com a responsabilidade inerente à instituição que dirige, já tivesse proposto que em tais locais, como em qualquer recinto fechado onde se encontram várias pessoas, algumas não fumadoras, deve ser proibido fumar. Nada deste texto se dirige contra a ASAE que, desde o início das suas actividades se tem mostrado muito dinâmica, até demasiado activa, na opinião de muitos empresários.

6 comentários:

Amaral disse...

João
Pois parece que as leis nem sempre são para todos. Por vezes quer-se ser mais papista que o papa, mas outras há em que o feitiço se vira contra o feiticeiro.
Será bom, para a lei e para todos, que a lei se faça cumprir doa a quem doer.
Abraço

A. João Soares disse...

Amaral,
Se bem me lembro, a definição de lei diz que se trata de um preceito geral, abstracto e obrigatório.
Ora, no nosso País, as leis não são gerais, porque são feitas para proteger determinados tipos de pessoas; não são abstractas, porque na origem se vê que são feitas para fazer face a determinados processos em curso, como se vê nas recentes remodelações da Justiça e não são obrigatórias porque há certo tipo de indivíduos que escapam sempre às sanções. Nem é preciso olhar apenas para os excessos de velocidade dos políticos, mas também para a impunidade de criminosos que usam gravata, os ditos «de colarinho branco»
E o povo engole tudo sem abrir o bico, sem piar. E os que piam levam com um processo.
Abraço

Magno disse...

Tudo tem servido para discutir esta lei.
O facto de o responsável máximo da ASAE, ter sido apanhado com a boca na botija, e ter usado uma justificação algo ambígua de acordo com a sua necessidade de momento, apenas veio acrescentar um pouco mais de sal e pimenta a este debate.
No entanto, é de salientar que a lei deve ser aplicada a todos, no entanto em Portugal aplica - se a máxima: "Todos os porcos são iguais, no entanto existem uns que são mais porcos que outros"
Cumprimentos.

A. João Soares disse...

Magno,
É a lei do funil. Os mais gordos não passam pelos rigores das leis
Abraço

Paula Raposo disse...

O mais certo estava lá a fumar, só para ver se alguém lhe chamava a atenção e assim já poder passar a multa!! Enfim...é a minha opinião. A chamada esperteza saloia. Beijos.

A. João Soares disse...

Paula,
E por falar em esperteza saloia, até pode ter sido outra coisa. Ele fumou para os outros companheiros se sentirem à vontade a fumar e depois de apagar a cigarrilha, apareceriam os seus capangas, encapuzados como é costume e multariam todos os que apanhassem a fumar!!! Ia ser uma boa colheita e era um bom incentivo para a lei ser obedecida por todo o País!!!
O fotógrafo estragou o truque!!!
Olhe que esta gente de tudo é capaz.
Beijos
João