quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Os políticos confessaram?

Para meu espanto, garantiram-me que num jornal diário recente veio a notícia de que políticos requereram ao Tribunal Constitucional para que não fossem tornadas públicas as suas declarações de rendimentos, entregues por imposição legal. Fiquei atónito, nem querendo acreditar.

Esta atitude, contrariando a transparência democrática que a lei estabelece, é uma prova de que Garcia dos Santos, João Cravinho, Cavaco Silva e Marinho Pinto (por ordem cronológica) tinham razão quando afirmaram publicamente que devia ser combatido o enriquecimento ilegítimo, o tráfico de influências, a corrupção. É uma confissão de que existe algo de muito grave que querem ocultar. «Quem não, deve não teme»

Agora se compreende que tenha havido tanto medo das palavras do bastonário da Ordem dos Advogados e que tenham usado a dialéctica assim traduzida em carta ao jornal gratuito GLOBAL de 6 do corrente escrita por C. Medina Ribeiro, de Lisboa, «Se denuncia é porque sabe; se sabe, tem de concretizar e provar; se não concretizar nem provar, está a ofender a todos; se ofende a todos, afinal o malandro é ele!».

Diz o ditado «não há fumo sem fogo» e «quem cabritos vende e cabras não tem de algum lado lhe vêm», mas é cada vez mais difícil apresentar provas, por que os corruptos pretendem viver num casulo secreto, anti-democrático, sem a mínima transparência, em plena imunidade.

Com esta preocupação do secretismo, parece haver da sua parte a noção de que o seu enriquecimento não é legítimo e não pode ser conhecido do povo eleitor. Parece quererem comportar-se como marginais clandestinos, como um bando de malfeitores ocultos nas sombras da noite. Apavoram-se alergicamente com as paredes de vidro. Porquê?

É uma contradição em pessoas que dão tudo para aparecer nas televisões a «arrotar postas de pescada», à conquista de visibilidade, notoriedade, mas, ao mesmo tempo, querem ocultar a sua forma de enriquecimento, que, por lei, são obrigados a declarar.

A assim vai este país com as economias e as actividades paralelas e inconfessáveis. Isto é suficiente razão para aplaudir Marinho Pinto, independentemente da forma musculada como se expressou e do partido a que possa pertencer.

Alguns artigos aqui publicados acerca do tema corrupção:

http://domirante.blogspot.com/2007/01/corrupo-falta-de-vontade-poltica.html
http://domirante.blogspot.com/2007/01/o-poder-no-repudia-corrupo.html http://domirante.blogspot.com/2007/01/scrates-mendes-e-corrupo.html
http://domirante.blogspot.com/2007/01/corrupo-ponta-do-iceberg.html http://domirante.blogspot.com/2007/03/corrupo-e-burocracia-francisco.html
http://domirante.blogspot.com/2007/06/antigo-professor-foi-acusado-de-corrupo.html
http://domirante.blogspot.com/2007/06/corrupo-de-novo-adiada.html
http://domirante.blogspot.com/2007/10/corrupo-pr-voltou-ao-assunto.html http://domirante.blogspot.com/2007/10/corrupo-porm-ela-existe.html
http://domirante.blogspot.com/2007/11/corrupo-e-deontologia-dos-jornalistas.html http://domirante.blogspot.com/2008/01/ecos-das-palavras-de-marinho-pinto.html

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro João,

aqui a Ifigénia está dar-me com o braço e a dizer:desconfia do que está aí escrito, DESCONFIA!!

Perguntei porquê?Respondeu-me que a DEMOCRACIA ESTÁ PODRE!!

E disse-me que os resultados dessa açorda escrita -não é o seu texto- sobre o querer a publicação dos nomes dos deputados que não querem que se saiba os rendimentos, está cozinhada para dar os excelentes resultados directamente proporcionais aos que a justiça tem conseguido nos últimos 5 anos...nos crimes e denúncias que têm preenchido os noticiários.

Toca a lavar a roupa suja até nunca mais... mas ainda bem que temos roupa suja, caso contrário seriamos mais umas desempregadas.

A Ifigénia diz que lhe dói a alma e tem que reconhecer que o antigo patrão cá da quinta, tinha sempre razão e nunca se enganava -o velhinho!

Por isso alguém oleou a cadeira do S. Julião da Barra...

Abraço

A. João Soares disse...

Cara Mimi,
Com estas notícias do secretismo dos nossos eleitos para esconder as suas malfeitorias, a Mimi e a Efigénia vão ter muito trabalho. Será bom que o patrão lhes pague justamente.

Este governo tem esgotado as economias e a capacidade de poupança da população, a pretexto de um défice que foi causado pela incompetência de governantes.
São precisas mais vozes como as do bastonário da Ordem dos Advogados.
É preciso que o Ministério Público comece JÁ a investigar rigorosamente as contas bancárias e o património dos políticos que requereram para não derem divulgados os seus rendimentos. Esses requerimentos demonstram que há grossas ilegalidades. Se essa investigação não for feita, então não podemos ter confiança numa Justiça que não é isenta.
Abraços para as duas

Belzebu disse...

Na sequência do comentário anterior, eu também usaria o punho fechado, mas não de forma pacífica, para com todos esses senhores que de vergonha nunca ouviram falar e que se sentem incomodados, em tornar públicas as suas declarações de rendimentos. Será que os valores da transparência e da seriedade, não são aplicáveis a esta nossa classe política?!

Aquele abraço infernal!

A. João Soares disse...

Belzebu,
Cuidado, não se aleije no punho, pode ferir o carpo ou o metacarpo. O mais prático é uma marreta de pedreiro ou de calceteiro. Deve haver por aí muitas sem utilização agora que o trabalho é feito com máquinas.
E dizem que não há corrupção nem enriquecimento ilegítimo!
Por haver, é que quem pode não quer matar a galinha dos ovos de ouro. São vis mas não são parvos. Mas deviam pensar que o povo também o não é.
Abraço
João

Amaral disse...

João
Voltamos sempre ao mesmo. É sempre o mesmo disse que disse. Se se escondem atrás do anonimato é porque têm algo a temer. Que sejam homenzinhos e dêem a cara.
Só querem encher os bolsos e depois dizem nada ter a declarar. Olha a grande lata.
Abraço

A. João Soares disse...

Caro Amaral,
Não podemos aplicar aos políticos os raciocínios que aplicamos a cidadãos normais. Claro que têm que se esconder e negar aquilo que antes disseram e comunicaram e declararam. Sócrates meteu em tribunal o Caldeira mas fez que o processo fosse arquivado para não ficar mais sujo. Depois disse que o Público o persegue e quer denegrir. Depois vem o ministro da Justiça a dizer que tem confiança no Director da PJ depois da asneirada que este disse, o que significa que os cidadãos não podem ter confiança no ministro. Podemos adaptar uma frase dele quando era MAI: «este não é o nosso ministro!».
Agora são políticos que não querem que o TC publique as suas declarações de rendimentos, as quais existem para serem públicas e alimentarem a transparência democrática.
Eles não querem sintonizar-se com o espírito das leis que eles próprios criaram, nem com o juramento de cumprirem com lealdade as funções que lhes são confiadas. Com estas e com outras, eles desviam-se da normalidade e refugiam-se, quais marginais, nas bermas escuras da estrada, pelo que o que dizem e desdizem deixa de ter significado. São assim.
Não é vulgar um criminoso confessar a sua vida com tal pormenor que permitam desvendar as provas dos seus crimes.
Se estivéssemos num País correcto, os que fizeram tal requerimento já deviam estar a ser investigados para serem condenados pelos factos ilegais que querem ocultar.
Penso, caro Amaral, que em tudo isto há uma lógica muito clara, mas que não é aquela de que mais gostamos.

Quem pode e sabe esclarecer isto é o indivíduo que atrás comentou sob a capa de MIMI e de SECRETÁRIO DE ESTADO DISPENSADO, que é o mesmo.

Abraço
João