quarta-feira, 19 de março de 2008

Desemprego ou falta de vontade para trabalhar?

Segundo o JN de hoje, há uma «firma do Vale do Ave com falta de operários», tendo sido abertas vagas para as quais os candidatos não são em número suficiente para preencher os lugares disponíveis. Trata-se de uma multinacional americana instalada em Guimarães que se queixa de não conseguir trabalhadores. Manuel Cruz, director de recursos humanos da Amtrol-Alfa, instalada em Brito, estranha que isto aconteça num concelho que tem uma taxa de desemprego acima da média nacional.

Segundo o mesmo jornal esta é «Região fustigada pelo desemprego» em que havia
- 40509 inscritos em Janeiro, nos centros de emprego do distrito de Braga;
- 50000 desempregados no Vale do Ave, que abrange os municípios de Guimarães, Famalicão, Santo Tirso, Trofa, Vizela, Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho e Fafe, e
- 12000 desempregados inscritos no Centro de Emprego de Guimarães. Destes, 74 por cento têm mais de 35 anos (29 por cento têm mais de 55 anos).

Os requisitos para os candidatos aos lugares são aptidão física confirmada pelos médicos da empresa, disponibilidade para trabalho por turnos e a aceitação em fazer formação profissional. A empresa oferece um vencimento de 570 euros, mais um bónus, ajudas de custo para transporte e prémios de assiduidade.

Luciano Baltar, presidente da Associação Comercial e Industrial de Guimarães, diz que "há casos de empresas que procuram pessoal, principalmente costureiras, e não conseguem arranjar". O sector do vestuário (que tem um dos mais baixos salários na região) exige um "conhecimento específico" e, "além de haver poucas profissionais, há pouca gente interessada em aprender"
, apesar da elevada taxa de desemprego. "Se calhar as pessoas não estão tão mal quanto isso. Eu, se não tiver emprego, obrigo-me a procurar. Tem havido casos de empresas que recusam encomendas porque não conseguem dar resposta e um dos motivos é a falta de pessoal", garante.

É chocante ver na TV, quando empresas encerram, pessoas relativamente jovens lamentarem não poder arranjar emprego por não saberem fazer mais nada. Em toda a idade se pode aprender um novo ofício. Além de falta de vontade e, eventualmente, de capacidade para aprender, haverá falta de preparação básica que permita fazer face à flexibilidade de emprego e mudança de ramo em caso de necessidade ou de conveniência. Para melhorar a formação profissional e obter capacidade de mudança, o que têm feito os sindicatos? O que faz, o ministério do Trabalho e da Segurança Social e os organismos que tutela? Qual é o aspecto prático do ensino escolar, com o objectivo de preparar os jovens para a vida real, profissional? Quais as medidas dos partidos políticos, das autarquias, da Igreja e de outras instituições com vocação para o aconselhamento e orientação das pessoas?

Há pouco tempo contaram-me que o gestor de um supermercado, da minha área de residência precisava de uma empregada, pediu ao Centro de Emprego e apareceu uma jovem casada que servia para as funções, mas quando lhe foi dito quanto ia ganhar, disse que estava a receber subsídio de desemprego pouco inferior aquela importância, e não tinha que trabalhar que cumprir horário, aturar patrão e clientes e podia passar o dia na cama. Parece que esta mentalidade está generalizada, como disse Luciano Baltar.

4 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Pois é, meu amigo!

Este postal põe o ddo na ferida e faz desesperar, por certo, os politicamente correctos "revolucionários".
está carregadinho de verdades, A João, este seu escrito.
E o que mais me irrita é que quando emigra, muita desta gente limpa latrinas ods outros só porque recebe uns tustos a mais,
enquanto aqui só bons empregos lhes servem! E para eles, bom emprego é ganhar mais do que o fundo de desemprego lhes dá!
TRISTE MENTALIDADE DE MADRAÇOS!

Um abraço.
Jorge G.

Unknown disse...

É vergonhoso que se venha desta forma desprestigiar os viamranenses que de muitas formas se vêm afectados por uma crise sem precedentes.
Não percebo porque a Mutinacional americana se esqueceu de referir que recentemente rescindiu contrato com muitos trabalhadores efectivos e que por isso é que nao recorre aos centros de emprego. E os 570€ mensais ja incluem ferias, sumbsidios de ferias e de natal e as diuturnidades ficando os trabalhadores sem direito a ferias o que equivale a um ordenado de 450€!!! E que os contratos de mes se prolongam para muito mais de 6 meses chegando com frequencia a atingir um ano sendo muitos despedidos e readmitidos outra vez na mesma situaçao.
Se no sector textil ha dificuldade em arranjar costureiras é porque muitas delas optaram por outro trabalho mais dignificante e reconhecido e a que nao tenham de estar acocoradas a uma cadeira 8h por dia.
O gestor do supermercado nao refere que a grande maioria deles nao chega a pagar o ordenado minimo nacional , se tivermos em conta que as funcionárias trabalham sabados e domingos sem complemento algum.
É de vital importancia referir que o futuro do emprego passa por modernizar e dignificar os postos de trabalho pois nao estamos na Ásia em que quase se é obrigado a trabalhar sob quaisquer que sejam as condições e as remunerações!
Todas as moedas têm duas faces e é importante que o artigo refira tambem a realidade laboral de muitas empresas do vale do ave.

sem mais de momento

vimaranense inconformado

A. João Soares disse...

Mocho-Real,
Há que evitar a escravatura, a exploração do corpo e da alma de quem trabalha. Nisso, o Estado tem responsabilidade de fiscalizar e atender às reclamações. Em vez de os ilustres deputados andarem a perder tempo com o piercing, devem preocupar-se com a salvaguarda dos direitos dos cidadãos, dos verdadeiros problemas que afectam os mais necessitados. Estes não devem ser apreciados apenas pela sua qualidade de contribuintes. Porém, os trabalhadores devem assumir ser parte da empresa e colaborar para a obtenção dos melhores resultados desta, sem deixarem, depois, de exigir uma justa repartição dos lucros.
O caso citado é uma multinacional que se não lhe agradar ficar aqui, nada lhe custa ir para a Ásia, e ficamos aqui com menos postos de trabalho e faremos menos exportações. E depois o barco afunda-se com nós todos dentro.
Há uma notória falta de diálogo entre patrões e sindicatos e estes apenas pensam em fazer reivindicações, pouco se dedicando à melhoria das capacidades de produção dos trabalhadores o que lhes facilitaria a possibilidade de mudança de emprego e de ramo de actividade.

Um abraço
A. João Soares

A. João Soares disse...

Depois do comentário anterior pouco tenho a acrescentar ao segundo comentador que, não tendo perfil de blogger, se afigura ser uma das muitas máscaras de quem causou problemas em A Voz do Povo.
Diz que não estamos na Ásia, de uma forma que parece estar a ignorar que na Ásia estão os nossos grandes concorrentes, que não devemos ignorar. Se os nossos produtos não competirem com os deles, podemos fechar as fronteiras e sucumbir docemente!
Portanto ao pensar na Ásia temos de pensar nas condições de preço e de qualidade dos seus produtos em comparação com os nossos.

A. João Soares