quarta-feira, 14 de maio de 2008

Amazónia. Internacionalizar quando o for tudo…

Transcrição de texto recebido por e-mail, já antigo, mas com valor permanente, seguida de uma NOTA.

Discurso do Ministro Brasileiro da Educação nos EUA...

Durante um debate numa universidade dos Estados Unidos o actual Ministro da Educação Cristovam Buarque foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência nalguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros). Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro.

Esta foi a resposta de Cristovam Buarque :

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso.

Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país.

Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro.

Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa! "

ESTE DISCURSO NÃO FOI PUBLICADO. AJUDE-NOS A DIVULGÁ-LO porque é muito importante... e porque foi CENSURADO!

NOTA: Estas coisas não transitam pela comunicação social por não serem apoiantes da geopolítica, dos poderosos. Por outro lado, mostra a incoerência, dos poderes, cada um analisando cada situação de sua maneira ao sabor de interesses particulares. Isto faz recordar o realismo pragmático do primeiro-ministro inglês Benjamim Disraeli, conde de Beaconsfield (1804-81), quando disse "não temos nem aliados eternos nem inimigos perpétuos. O que temos é interesses eternos e perpétuos". Nesta frase, pequena mas sábia, sintetizou o alfa e o ómega da política externa britânica.
Há interesses e valores perpétuos, que devem ser geridos com coerência e isenção, como neste discurso é sublinhado por Cristovam Buarque. O que significa internacionalizar? Será que os mais poderosos da Comunidade Internacional têm bom senso para gerir os interesses da população mundial? Vale a pena ponderar nos efeitos das intervenções militares no Viename, na Somália, no Líbano, na Sérvia por causa do Kosovo, no Afeganistão, no Iraque. Quais os benefícios para as respectivas populações? E a ONU que fez em benefício da saúde e da alimentação no Darfur, no Quénia, no Chade e em tantos outras regiões do mundo?
Internacionalmente, deve haver capacidade cultural, humanitária, política, para orientar e ajudar os países para resolverem os problemas que podem afectar as suas populações e a humanidade em geral, mas não deve substituí-los senão em situações extremas.
Realmente, a Amazónia só deverá ser internacionalizada quando o for tudo aquilo que tiver muito interesse para a humanidade, nos mais variados aspectos referidos pelo ministro.

3 comentários:

Luís Alves de Fraga disse...

Caro João Soares,
Como disse, é antigo este discurso, mas isso até o torna muito actual.
Afinal, quem define a internacionalização são os grandes interesses dos grandes Estados! Isso levanta o velho problema de se saber se, de facto, existe um Direito Internacional ou se este não passa, ao cabo e ao resto, da lei do mais poderoso sobre todos os fracos.
Num mundo em que a publicidade e a propaganda condicionam a cada momento o poder de opção de cada um de nós, a pergunta é saber se, na verdade, há democracia ou esta tem o valor da pasta Colgate ou do leite Longa Vida. É simples, não é?

A. João Soares disse...

Caro Alves de Fraga,
Agradeço o seu comentário, de uma forma muito especial, porque sei que não gosta de semear comentários.
De uma forma muito clara deixa aqui uma definição do que são as relações internacionais.
Tal como na selva, quem manda é o mais forte, e as leis tratados e convenções apenas servem para tornar legais os abusos que os mais fortes fazem do Poder e, por isso, só são citados e seguidos na medida em que eles os julgam convenientes aos seus desígnios.
A frase de Disraeli, citada no post, deve ser meditada em cada caso das relações internacionais que são interesseiras como se explicou em
http://joaobarbeita.blogspot.com/2006/11/relaes-internacionais-so-interesseiras.html
e em
http://joaobarbeita.blogspot.com/2006/11/relaes-internacionais-entre-amor-e.html
e não há uma autoridade internacional como se referiu em
http://joaobarbeita.blogspot.com/2007/09/ausncia-de-autoridade-internacional-onu.html
Um abraço e felicidades no seu problema sobre o qual estive a falar, ontem, com o Estevens.
A. João Soares

A. João Soares disse...

'De quem é a Amazônia, afinal?', diz 'NY Times'
Jornal americano diz que Brasil se preocupa com soberania da floresta.
Uma reportagem publicada neste domingo no jornal americano The New York Times afirma que a sugestão feita por líderes globais de que a Amazônia não é patrimônio exclusivo de nenhum país está causando preocupação no Brasil.
No texto intitulado 'De quem é esta floresta amazônica, afinal?', assinado pelo correspondente do jornal no Rio de Janeiro Alexei Barrionuevo, o jornal diz que 'um coro de líderes internacionais está declarando mais abertamente a Amazônia como parte de um patrimônio muito maior do que apenas das nações que dividem o seu território'.
O jornal cita o ex-vice-presidente americano Al Gore, que em 1989 disse que 'ao contrário do que os brasileiros acreditam, a Amazônia não é propriedade deles, ela pertence a todos nós'.
'Esses comentários não são bem-aceitos aqui (no Brasil)', diz o jornal. 'Aliás, eles reacenderam velhas atitudes de protecionismo territorial e observação de invasores estrangeiros escondidos.'
Acesso restrito
O jornal afirma que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta aprovar uma lei para restringir o acesso à floresta amazônica, impondo um regime de licenças tanto para estrangeiros como para brasileiros.
'Mas muitos especialistas em Amazônia dizem que as restrições propostas entram em conflito com os próprios esforços (do presidente Lula) de dar ao Brasil uma voz maior nas negociações sobre mudanças climáticas globais - um reconhecimento implícito de que a Amazônia é crítica para o mundo como um todo', afirma a reportagem.
O jornal diz que 'visto em um contexto global, as restrições refletem um debate maior sobre direitos de soberania contra o patrimônio da humanidade'.
'Também existe uma briga sobre quem tem o direito de dar acesso a cientistas internacionais e ambientalistas que querem proteger essas áreas, e para companhias que querem explorá-las.'
'É uma briga que deve apenas se tornar mais complicada nos próximos anos, à luz de duas tendências conflituosas: uma demanda crescente por recursos energéticos e uma preocupação crescente com mudanças climáticas e poluição.'
The New York Times