Transcrição de post do blogue «Ecos e comentários»:
É com o título da postagem que a revista Magazine (MGI) abre uma entrevista do conhecido advogado Ricardo Sá Fernandes, que foi secretário de Estado, no governo de Guterres. O casuísta tece algumas considerações, sobre Portugal, a vida portuguesa e a Europa, a justiça no país, o acidente de Camarate e a morte de Sá Carneiro, a corrupção e a ignorância em Portugal. Em doze páginas podemos ver estes temas abordados e faço ecos deles com pequenos excertos na postagem de hoje.
Nota introdutória sobre Ricardo Sá Fernandes.
“ Não cala a mentira nacional que foi Camarate e o conluio que impediu que a verdade vencesse e se fizesse justiça. Sabendo que a morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa foi um crime, não desistiu de repor a verdade da História, Mesmo depois do julgamento público não ter sido permitido e o caso ter prescrito. Para este advogado, a justiça portuguesa vive à volta da prescrição e da nulidade, e muito pouco à volta da reposição da verdade. Isto numa sociedade pouca habituada ao contraditório, à honestidade intelectual e onde a irracionalidade e a ignorância passeiam-se ganhadoras.”
Sobre a sociedade portuguesa e o país
“ Esta é uma sociedade em que todos somos primos e conhecidos, onde não há tradição de rigor e livre critica. Alias, a ignorância é talvez o nosso maior mal, e ainda por cima não o combatemos, e isso leva a que quando as situações são mais complicadas, por uma maneira ou outra, tudo fica anestesiado e esquecido” .
“ (...) Estamos a reformar a saúde, a justiça, o ensino, entre outros sectores, e ainda não fizemos a reflexão sobre que pais é que nós queremos. (...) Em todas as politicas sectoriais parece-me que o governo revela que não tem uma politica para o país. Teve boa capacidade de combater o deficit e equilibrar a parte orçamental, mas não tem visão estratégica para Portugal. (...) como não temos uma visão estratégica para o país, não soubemos aproveitar os fundos e as oportunidades. Um país que entra para o espaço europeu e tem, passados todos estes anos, a sua agricultura e as suas pescas liquidadas, a sua industria com as dificuldades notórias que conhecemos. (...) Faço um balanço negativo da fase de transição. (...) temos de reconhecer que estes vinte e tal anos não foram os melhores.
Sobre desresponsabilização
“ (...) Desde o rei D. Carlos a Sá Carneiro ! em Portugal não se responsabilizam as pessoas que falham. Não que devam de ser diabolizadas porque falhar é humano. Mas nunca assumem que falharam, nem são responsabilizadas por isso. (...) Portugal tem um problema terrível de ignorância, no qual a razão tem muita dificuldade em se impor à ignorância. Costumo dizer que o país tem dois problemas terríveis – Um a ignorância, o outro a corrupção.
Sobre tribunais e justiça
“ Os tribunais adoram matar o os processos pela prescrição. Adoram matar os processos porque há uma nulidade. Portanto os tribunais portugueses passam a vida a decidir questões processuais (...) Para mim a razão porque isto acontece é a preguiça. (...) é preciso perceber que os cidadãos também são culpados por este problema. As pessoas devem exercer efectivamente o direito de criticar e denunciar. Se todos fizermos isso de certeza que as coisas mudam. (...) As pessoas tem de denunciar, criticar, expor o erro, o vicio e a incorrecção. Isso ajuda e é fundamental para ajudar a mudar a justiça e a sociedade portuguesa: os vícios da justiça são os vícios da sociedade Portuguesa. (...) . Em Portugal existe muita incerteza na justiça, e isso é um problema grave. Eu quero que uma pessoa se sente à minha frente e que eu lhe possa dizer com tranquilidade que o seu caso terá este desfecho ou aquele, ou que é com segurança que poderemos ir para esta acção. Mas o que acontece é um grau de incerteza muito grande e um desprestigio para o sistema . “
Sobre Camarate e a morte de Sá Carneiro
“ (...) Houve situações deliberadas de ocultação de provas. E isso aconteceu porque na sociedade portuguesa, na altura dessas mortes, o poder politico percebeu que a descoberta de que não teria sido acidente, mas antes assassinato, podia ter repercussões politicas muito complicadas, numa altura em que o país e a democracia ainda não estavam estabilizados. Portanto, houve um grande desejo de que Camarate fosse acidente e não um crime. Era conveniente à paz politica”
" Que raio de país é este?!"
Pode ver parte da entrevista em:
http://www.magazine.com.pt/new/modules/articles/article.php?id=143
Rapidinhas de História #11
Há 2 horas
4 comentários:
João
Ora aqui está uma apreciação justa. A pergunta não obterá resposta porque gostamos de viver num pais como este, seja ele raio ou diâmetro.
As pessoas temem em falar, os poderosos insistem em oprimir e coagir. Assim, o país que temos (que se calhar merecemos) não sai do marasmo.
Abraço
Amaral,
Gostaria de ter razões pra não concordar com o seu pessimismo. Mas contra factos não há argumentos e as realidades estão aí, de tal modo visíveis que só um cego não as vê.
É preciso um grande e persistente esforço de cada português para sairmos do marasmo. Pela minha parte, procuro estimular as pessoas a reflectir, com os textos que aqui coloco. Mas sei que corro riscos, porque os instalados nos «tachos dourados» e os detentores das «reformas milionárias» não gostam de ser incomodados.
Abraço
A. João Soares
Este é o país fabricado pelos incapazes, e que nos deixaram a nós "geração rasca".
Saberemos demonstrar que não o somos.
"Que nunca por vencidos se conheçam"
Cabe às gerações mais novas, no vigor da idade, dar a volta a isto para terem um País que lhes permita serem felizes e orgulharem-se da sua obra. Mas qualquer coisa que façam, pensem bem antes e preparem bem a operação para que não falhe. No século passado houve três revoluções, 5 de Outubro, 28 de Maio e 25 de Abril, nenhuma atingindo os objectivos que se propunham, porque houve demasiado improviso, com esperança de que os desejos se realizassem espontaneamente. Mas nada acontece por acaso, sem suor, sem preparação, conduta e controlo a cada momento. A convergência de esforços, a coordenação, a coerência exigem disciplina e não se compadecem com o caos e a desordem libertina.
A. João Soares
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