Nos últimos dias foi notícia muito comentada a que refere as palavras do lutador pelos direitos humanos, Bob Geldof, acerca de Angola e das reacções oficiais da embaixada e de governantes daquele País, bem como do Sr. Engenheiro Mira Amaral, presidente do BIC de que grande percentagem do capital pertence a uma familiar de Eduardo dos Santos, um dos homens mais ricos do mundo.
Mira sabe do que fala, pois tem uma «reforma dourada» paga pela Caixa Geral de Depósitos onde esteve colocado apenas poucos meses. Na altura, o caso foi muito citado na Comunicação Social e transcrevo a carta publicada em «A Capital», em 20 de Setembro de 2004. Agora, fala grosso a favor daqueles que lhe pagam, o BIC.
A sua frase de reprovação a Bob Geldof até poderá, eventualmente, estar correcta, mas não basta uma tal boca, para ficarmos estarrecidos a dar-lhe razão. É preciso que apresente argumentos convincentes, para votarmos nele, em vez de no Bob. O certo é que este fala em defesa da população mundial vítima das injustiças sociais, enquanto Mira fala em defesa dos seus pagadores. Analisando os argumentos que queira apresentar em defesa da sua afirmação, poderemos então ver se o Sr Mira convence das suas certezas.
Mas do que parece não haver dúvidas é que o «dono» de Angola está entre os homens mais ricos do globo e que, por outro lado, o povo tem tantas carências que há por cá frequentes peditórios para aliviar o povo Angolano, pertencente a um País exportador de diamantes, petróleo, minérios, produtos agrícolas e pecuários, pescado, etc.
Perante isto fico à espera que Mira Amaral apresente argumentos convincentes de que não exagerou.
Até quando terei de esperar???
Segue a transcrição da carta atrás referida
Mira! Tanto!
(Publicada em «A Capital em 20 de Setembro de 2004, pág. 8)
Muitas pessoas que tive oportunidade de ouvir, mostram-se chocadas com a notícia. Um conhecido elemento da família política dominante e do meio empresarial do Estado teve a sua pensão de reforma calculada no dia seguinte a ter deixado o activo, caso pouco vulgar, talvez único, na função pública. Mas o verdadeiro choque resulta do valor da pensão. Mira! Tanto!
Não se coloca em dúvida a legalidade do número astronómico da pensão, mais de 50 (cinquenta) salários mínimos nacionais, isto é, recebe num mês tanto como um trabalhador que ganho o salário mínimo nacional recebe em 4 (quatro) anos! Equivale também a mais de 20 (vinte) salários médios. Coloca-se, sim, a dúvida quanto à moralidade de um sistema legislativo que permite uma tal discrepância entre portugueses que serviram o Estado.
Já é dificilmente compreensível que um gestor, que além do vencimento, dispõe de muitas outras regalias, receba uma tão alta mensalidade. Mas podemos aceitar que, apesar dos benefícios extra, cartão de crédito, carro com motorista, viagens pagas, verba para representação, etc., tem de manter um nível de vida e uma postura social correspondentes às funções que exerce. Mas, quando já não exerce funções, não se justifica que o Estado lhe pague como se as estivesse exercendo. Compreende-se que há hábitos adquiridos e posicionamento social que custa serem postos de lado, mas não com tanto esplendor.
Parece que devia ser estabelecido um limite máximo para pensões da Caixa Geral de Aposentações (CGA) em função do salário mínimo. Se há muita gente em funções importantes e de responsabilidade em organismos do Estado que ganha menos de 10 salários mínimos, não se compreende que alguém tenha, na reforma, quando nada produz, uma pensão de 50 salários mínimos.
E dizem que a CGA poderá, dentro de poucos anos entrar em ruptura financeira! Não parece! Mira, que exagero!
A. João Soares
As péssimas companhias de Guterres
Há 18 minutos
3 comentários:
João
Provavelmente Bob Geldof não foi muito diplomático, nem politicamente correcto, mas julgo não ter dito nenhuma inverdade. Contudo, certas coisas incomodam... só assim se justifica que venham logo vozes em coro gritar aqui d'el rei.
Bom domingo.
Abraço
Amaral,
Os que reagem às palavras de Geldof são os enfeudados ao Poder angolano. Há verdades que devem ser ditas da forma mais rude possível para chocar, para chamar a atenção. Só assim se produz uma polémica que perdura o tempo suficiente para as pessoas pensarem nelas.
Abraço
A. João Soares
Músico reitera acusações
http://jn.sapo.pt/2008/05/13/mundo/musico_reitera_acusacoes.html
Bob Geldof, eclipsado enquanto músico para ascender à qualidade de mito no campo das causas humanitárias, desde que organizou o "Live aid", em 1985, esteve na origem da polémica, ao declarar, em Lisboa, que Angola é um país governado por "criminosos", apontando a miséria que convive com a ostentação dos privilegiados.
Ouvido depois pelo "Expresso", a propósito da polémica suscitada (não só em Angola mas também em Portugal, em especial por parte dos que têm interesses naquele país), disse "Uma parte do meu trabalho é falar verdade para o poder, não estou a pedir às pessoas que gostem de mim ou que me elejam. Falo apenas por mim, conheço África há 25 anos, o Governo de Angola é uma cleptocracia, potencialmente o país é um dos mais ricos do planeta e 200 pessoas controlam o país enquanto 15 milhões vivem na miséria total".
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