quinta-feira, 19 de junho de 2008

Crise não significa Apocalipse

As pessoas andam descoroçoadas com os efeitos da actual crise do petróleo, mas a melhor cura para o desânimo está em cada um, principalmente, nos líderes políticos e empresariais. Uma crise, geralmente, representa o início de uma nova era de desenvolvimento em muitos aspectos. Não esqueçamos que a II Guerra Mundial, estimulou o aparecimento dos computadores, de novas formas de comunicação, de tratamento da informação e de gestão, permitindo um grande salto em frente no desenvolvimento da humanidade. E se, por outro lado, aumentou as diferenças entre os mais e os menos desenvolvidos, foi porque estes, por falta de preparação prévia, não puderam ter a iniciativa de acelerar o passo. Isto que sirva de exemplo para que cada País e cada pessoa procure entrar já na carruagem da frente.

Tenho em Do Miradouro e em Do Mirante
chamado a atenção para a necessidade de se estimularem os jovens a prepararem-se para a inovação, apoiando qualquer iniciativa positiva que deles saia. Não tem sido o caminho seguido e viu-se nas condecorações do 10 de Junho que os critérios estiveram distantes de preocupações de futuro.

Porém, as pessoas mais válidas não adormecem à sombra de vãs propagandas anestesiantes e vêm claramente que o patriotismo não se resume ao apoio á selecção de futebol, antes e muito acima disso, se preocupa com os grandes problemas actuais.

Hoje, o DN traz notícias que merecem muita meditação, ou pelo menos uma leitura lenta e ponderada. No editorial refere três exemplos de inovação dados pela Carmin, pela Renova e pela SIBS:

1) No Alentejo, a Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz (Carmin) a fim de se colocar mais próxima do consumidor final, com benefício dos preços a pagar por este, decidiu adquirir uma empresa distribuidora. Já aqui tínhamos sugerido solução semelhante aos pescadores para aumento dos seus ganhos e venda mais barata aos consumidores.

2) Em Torres Novas, a Renova conseguiu reduzir o preço dos transportes, aumentando em duas toneladas (de 5,3 para 7,3) a capacidade de cada camião, com a simples solução de retirar o ar das embalagens, tornando-as menos volumosas.

3) A SIBS foi considerada pela Associação de Pagamentos do Reino Unido o melhor multibanco da Europa, conclusão tirada depois de um estudo comparativo.

Outra notícia vem de Viseu, onde o presidente da Junta de S. Salvador, Álvaro Pereira, mostrou ser pessoa consciente da importância da conservação do ambiente, pelo que pediu ao delegado de saúde que procedesse à análise das águas e lençóis freáticos existentes na zona onde tinham sido despejados resíduos electrónicos que causaram alguns danos ambientais. Na sequência da sua iniciativa, equipas da Câmara Municipal de Viseu procederam, ontem, à recolha de mais de 300 quilos de resíduos electrónicos despejados, junto a uma urbanização. O autarca teme que os solos «tenham ficado contaminados com estes resíduos que incluem cádmio, chumbo e outros poluentes. Se houver infiltração, as águas poderão ter ficado contaminadas e solicitámos análises para que se possa despistar essa eventualidade». Até lá, a junta aconselha os moradores do local, «e que disponham de captação de água própria, a não consumir a água».

Também é positivo o facto de ser tornado público que as autarquias têm sido geridas sem seriedade responsável, sem competência ao ponto de, como é referido em dois artigos que há Municípios sem dinheiro para pagar as dívidas e que o 'monstro' do défice e da corrupção mudou-se para as autarquias. Tais notícias poderão ser o início da moralização dos gestores de dinheiros públicos em respeito pelos direitos dos contribuintes seus eleitores.

De salientar também a notícia de que o fisco não anda apenas a perseguir os pequenos infractores de uns pares de euros, mas está principalmente no encalço dos potenciais lesivos de milhões. Segundo ela, equipas mistas do Ministério Público e da Administração Fiscal procederam ontem a buscas a empresas lideradas por Américo Amorim, no âmbito da 'Operação Furacão' e diz que esta operação é um processo que já contabiliza mais de 250 arguidos e que a equipa liderada pelo procurador Rosário Teixeira já efectuou buscas, nos Açores, à Fábrica de Tabacos Estrela, controlada pela Madeirense de Tabacos dos empresários Joe Berardo e Horácio Roque. Oxalá não acabe tudo por ficar arquivado, como aconteceu em «operações» anteriores muito mediatizadas mas de resultados desconhecidos.

Entretanto, surgem iniciativas para ensinar as pessoas a gerir as próprias capacidades e a rentabilizar os recursos humanos que dormem no subconsciente de cada um de nós. É preciso saber o que se quer, o que se pode fazer e querer de verdade, com persistência, atingir objectivos previamente estabelecidos.

Enfim, há motivos para não nos deixarmos sucumbir à crise. E deixo umas dicas atrevidas: Porque não lutarmos contra a monodependência do petróleo? Porque não preparar a energia de cada prédio, através da decomposição da água por forma a utilizar o hidrogénio para produzir a energia necessária ao prédio? Ou a eólica ou a solar? Porque não modernizar as comunicações ao ponto de tornar desnecessários os cabos que ligam o prédio às centrais eléctricas, de telefones de TV por cabo, etc? Porque não utilizar a Internet para trabalhar a partir de casa aliviando os transportes e a poluição?

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Soares

Cautela, caldos de galinha e uma boa dose de optimismo não fazem mal a ninguém.
Porém, talvez seja boa ideia ler o artigo "Avestruz agoirenta: forte pio vem de Londres" de Tavares moreira no blogue "Quarta República" (http://www.quartarepublica.blogspot.com/)

Um abraço

Amaral disse...

João
São exemplos louváveis e que merecem ser seguidos por outras entidades. No entanto, o estado não pode descurar o seu papel social fundamental ao desenvolvimento.
Abraço

A. João Soares disse...

Caro Vouga,
Não tenho grande optimismo. Mas gostava que aparecessem iniciativas de inovações para aproveitar a crise, criando alternativas.
Os três casos iniciais parecem que são concretos. Os outros são evidências da incompetência nacional que apenas evidenciam ter sido agora dada publicidade aos casos, sendo desejável que se faça justiça para que as coisas melhorem A crise também pode ser aproveitada para se parar com a imoralidade da corrupção e dos abusos do poder.
E quando será que os nossos políticos deixam de exigir ao erário a compra de carros de alto preço para substituir os que têm pouco mais do que um ano? Quando será que os políticos experimentam os transportes públicos? Porque não?
Quanto à «Avestruz Agoirenta», acho que um economista daquele calibre devia ir além do agoiro e indicar pistas e alternativas, ajudando a reconstruir a nossa economia.
Um abraço
A. João Soares

A. João Soares disse...

Caro Amaral,
Sem dúvida que o Estado deve coordenar os esforços dos agentes económicos por forma a serem obtidos os melhores resultados. Mas, infelizmente, naquilo em que lhe caba a responsabilidade da acção, ele fracassa, como se vê na educação, na saúde, na Justiça e em mais sectores da vida nacional.
Os políticos deviam estudar e aprender, à imagem do que os bispos estão a fazer!
Um abraço
A. João Soares