terça-feira, 8 de julho de 2008

A política do chocolate

O jornal gratuito «Global Notícias» de 8 do corrente traz a notícia de que na «Região Oeste, Estradas compensam saída do Aeroporto». É um título estranho que nada beneficia a imagem do Governo.

Vão ser investidos na região 197 milhões de euros com o argumento de «compensar as populações pela mudança de localização do aeroporto da Ota para o campo de tiro de Alcochete». Vai ser alterado o panorama de acessibilidades da região.

Trata-se de um região que já tem a linha de ferro do Norte e do Oeste, irá ter o TGV para o Porto, tem as auto-estradas A1, A8 e A10 e o IC21, e agora, além de vários troços de ligação, vai também ter o IC11.

Vai correr-se o risco de uma tão densa quadrícula tipo urbano de avenidas e ruas largas, chamadas auto-estradas e itinerários complementares, irem prejudicar os muitos campos de golfe já construídos e a construir na região!!!

Pelo contrário, ninguém pensa nas acessibilidades de Vila Nova de Paiva para Tabuaço e Carrazeda de Ansiães, ou de Meda para Lamego, de Castelo de Paiva para S. Pedro do Sul, de Vale de Cambra para Lamego, de Oliveira do Hospital para Castelo Branco, de Penamacor para a Covilhã, etc. Nenhum governante pensa a sério no interior, ignora-o totalmente.

À Ota nada tiraram a não ser uma esperança que não se concretizou e que veio a comprovar-se que não passava de uma ilusão sem fundamento bem explicado. Mas o facto de tudo ter ficado na mesma, não justifica tão grande necessidade de novas acessibilidades. Um falso argumento. Tal profusão de comunicações seria menos ilógica se ali fosse construído o aeroporto.

Faz recordar o jovem pai que naquele fim-de-semana fica com o filho ainda criança e o leva a almoçar ao restaurante. O miúdo está mal-educado devido ao mimo dado pela mãe e pelo pai que lhe satisfazem todos os caprichos a fim de ele não fazer birra. Há entre eles uma chantagem mútua. Recusa a sopa e exige chocolate, senão faz birra, e o pai, para evitar tal aborrecimento, manda-o ir ao balcão escolher o chocolate que lhe agrada. Entre eles não há diálogo útil, não há capacidade de conversar sobre as vantagens da sopa e ensinar a criança a raciocinar de forma lógica e sensata. Desta forma não se educa uma criança e apenas se cria um monstro ou um potencial criminoso.

Esta «compensação» à Região Oeste é um fenómeno semelhante ao referido neste exemplo, é a «política do chocolate». Para evitar manifestações, como as dos camionistas, professores, etc., e a consequente perda de votos, dá-se o chocolate.

O que é muito sintomático é que o próprio Governo já não se apercebe do ridículo da argumentação e usa-a com uma naturalidade impressionante, preocupante, e nem dá conta que agrava a diferenciação entre o litoral já demasiado favorecido e o interior cada vez mais abandonado.

4 comentários:

G* disse...

As incongruências da política territorial do Governo encontram eco no subdesenvolvimento mental de alguns autarcas do Interior. http://gremiodaestrela.blogspot.com/

Ana Camarra disse...

João Soares

Vim cá ter através do crn, gostei!
Vou voltar.

A. João Soares disse...

A qualidade dos autarcas é o eco da qualidade dos eleitores. Em vez de escolherem gente de fraco saber e sentir, devem procurar o que houver de mais sério, honesto e competente. Dirá que os bons não querem ser apelidados de políticos (um mau insulto!), mas nesse caso convém convencê-los a candidatarem-se para bem do seu povo, um sacrifício que é generoso e meritório.
Abraço
A. João Soares

A. João Soares disse...

Ana Camarra,
Obrigado pela visita. Volte sempre. Gostei do seu espaço e voltarei lá.
Abraço
A. João Soares