Acredito piamente que os portugueses nem todos somos estúpidos, mesmo os que não somos políticos, e custa deparar com quem usa da escrita nos jornais para defender os seus tutores ou outros interesses, tratando todos os leitores como inteiramente incapazes de pensar. No DN de hoje uma jornalista, usando o título «estado de histeria», a propósito da onda de criminalidade violenta, fala de «uma repercussão mediática desproporcionada. Em consonância, a classe política e a magistratura da nação vieram confirmar uma espécie de estado de sítio».
Deliro ao ver a ginástica que muitos políticos e afins obrigam os números a fazer, a fim de os utilizarem como argumentos para uma situação e a sua contrária. O general Leonel Carvalho responsável pelo Gabinete Coordenador de Segurança (GCS), com muito cuidado a medir as palavras para não desagradar ao Governo, a que a jornalista atrás citada é muito leal, revelou que a criminalidade em Portugal aumentou 10% no primeiro semestre deste ano em comparação com igual período do ano passado. Afirmou «posso garantir que esse aumento não vai além dos 10 por cento e também em relação à criminalidade violenta e grave o que se espera é que seja 10 por cento».
Ora a jornalista considera este aumento uma ninharia que não justifica tal «repercussão mediática desproporcionada». É uma ninharia, porque são apenas 10%!!! Mas quando os trabalhadores pedem um aumento de mais 1% é uma coisa incomportável fora dos limites do bom senso. Quando o PIB, mesmo que seja passageiramente, num mês, em comparação com o do ano anterior, sobe 1%, é uma vitória merecedora de grandes parangonas e gordos discursos. Mas a subida de 10% da criminalidade violenta, que lesa os portugueses nas suas vidas e nos seus haveres, é apenas uma ninharia que não justifica uma «histeria». Francamente, senhora jornalista, não ofenda a nossa inteligência.
Só que apenas a jornalista lhe chama histeria. O Sr. Presidente da República, achou que havia motivo suficiente para acordar o Governo do seu silêncio acerca de tal onda. O responsável pelo Observatório de Segurança referiu-se de forma iniludível ao «aumento da criminalidade». O próprio Ministro da Presidência reconheceu que há «aumento da criminalidade violenta".
Segundo as notícias, sem aspecto de «histeria», no último mês e meio houve, em média, mais de um assalto por dia a agências bancárias. Nesse curto período houve 50 assaltos a agências bancárias. Desde o início de 2008, já se registaram 150 assaltos a bancos nacionais. Em 2007, por esta altura tinham ocorrido 136 assaltos. Afinal, onde está a histeria? E a criminalidade violenta não é apenas constituída por assaltos a bancos. Quer a senhora jornalista queira ou não, 10% (dez por cento) é um grande aumento, que seria muito desejável no PIB ou nos salários dos mais pobres, mas totalmente recusável na «criminalidade violenta».
Para nos mostrar que não passa de histeria, aponte os gabinetes de governantes que não são guardador pela polícia, os governantes que não andam com guarda-costas, colados a si, os governantes e seus colaboradores directos que se deslocam nos transportes públicos como qualquer cidadão. Não quero que lhes aconteça mal algum, mas se acontecer, não tenho dúvidas de que o combate à criminalidade violenta torna-se de imediato mais eficaz, desde a acção da Polícia até aos Tribunais.
A Decisão do TEDH (396)
Há 43 minutos
4 comentários:
A "histeria"...
Certo que os OCS aproveitam para vender os jornais, que por vezes fazem parangonas de algumas notícias menos felizes, também é certo que não inventam assaltos. E nem sequer dão eco da criminalidade vulgar, pois já ninguém lhe liga. Essa só tinha eco quando não se passava mais nada.
A criminalidade violenta já passou de 10 para 15%. Isto das estatísticas dá muito "trabalho"... É preciso "investigar" o que chamam de violento!!
Recentemente o porta-vos do PS foi assaltado.
Saudações e um sorriso
Mas sendo a sra tão próxima do sr sousa como é que queria que ela desagradasse ao amo e sr? É uma escriba do regime... está tudo dito.
Fernanda Câncio
jornalista
fernanda.m.cancio@dn.pt
Caro João Soares
Sobre o General Leonel de Carvalho diz: «coordenador de quê e para quê? Qual a necessidade do seu cargo?»
Claro que não serve para nada. Mas fica bem na fotografia do (des)Governo ter às suas ordens um general e ainda por cima sisudo.
Caro Fernando Vouga,
Malhas que a política (com p minúsculo) tece. Mas a inutilidade é uma palavra que se aplica a milhares de assessores e outros parasitas que abarrotam os gabinetes desde as autarquias mais insignificantes até aos mais altos postos da estrutura do Estado. Cada chefe sente-se mais importante se for rodeado de corte numerosa. Mas a quantidade é inimiga da qualidade e a obra resultante é a miséria em que o País vive, em muitíssimos aspectos.
Abraço
A. João Soares
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