Recebido em fotocópia de artigo de jornal (DN de 080802), como anexo de e-mail enviado por amigo.
Sentido de Estado. Merecíamos mais
Nuno Vieira Matias, ex-chefe do Estado-Maior da Armada, almirante reformado
Se não tivesse visto, não teria acreditado no que o ministro da Economia, senhor Manuel Pinho, disse acerca dos submarinos portugueses no programa televisivo Prós e Contras. Fiquei perplexo com a ignorância demonstrada e também com a falta de sentido de Estado que alardeou. Insistentemente, o senhor ministro acusou com veemência a "oposição de direita de aprovar a compra de submarinos por mil miIhões de euros... compra disparatada, porque os três submarinos não servem rigorosamente para nada".
Pelos vistos, ignorou, ou quis ignorar, que o Sistema de Forças Nacional aprovado em 1998, sob proposta de um governo PS, já previa, como anteriormente, três submarinos.
Ignorou, igualmente, que o Dispositivo de Forças, aprovado nesse ano por um ministro da Defesa desse mesmo Governo, incluiu "três submarinos diesel eléctricos", com a anotação "em processo de substituição".
Ignorou também que a Assembleia da República aprovou, em sucessivas leis de programação militar (LPM), o programa de aquisição de três submarinos, com notável consenso. Cito apenas a Lei Orgânica 5/2001, de I4 de Novembro, que aprovou a LPM onde foram apontados quase
360 milhões de contos para esse programa. ao longo de um largo período de tempo.
Voltou a ignorar que foi um Govemo do PS que lançou o demorado processo de aquisição dos submarinos e até chegou a seleccionar os dois concorrentes finais, de entre os cinco que apresentaram propostas de fornecimento.
Ignorou, e isso é ainda mais grave, que o processo de aquisição dos submarinos impõe um programa de contrapartidas para a economia nacional, de valor pelo menos igual ao custo dos navios.
O desconhecimento, se foi disso que se tratou, teria sido rapidamente ultrapassado com uma explicação séria, caso tivesse havido vontade de a procurar. Já a falta de sentido de Estado, ostentada repetidamente, é mais difícil de suprir. Não é que a um ministro se deva exigir que saiba de submarinos, mas de um cidadão é de esperar que conheça o País que somos e que muitos de nós exigimos que continue a ser.
Esse País, Portugal, tem um território descontínuo com a maior zona marítima da UE e, amenos que alguém pretenda alienar os seus direitos soberanos ou jurisdicionais em favor de qualquer outro Estado, é ao nosso que incumbe proteger, também nesse espaço, os nossos interesses contra velhos e contra novos e imprevisíveis riscos e ameaças.
Para isso, como para a participação em forças de alianças e coligações de que Portugal faz parte, é preciso uma Marinha e esta, para ser minimamente eficaz, tem de ter submarinos, como o prova o que se passa no mar de todos os países que se prezam de o ser. Esperar que sejam outros, apenas, a defender os nossos interesses já deu mau resultado, várias vezes, ao longo da nossa história.
Ler o Conceito Estratégico de Defesa Nacional é útil. Entendê-Io, ainda o é mais. Evitaria que o senhor ministro usasse o demagógico "argumento" da troca de meios militares por hospitais, estratagema sempre exemplificado nos manuais de planeamento de forças, como fazendo
parte do grupo das razões mais primitivas. É que, para decidir entre hospitais e qualquer outro
bem, é preciso que o Estado tenha independência e segurança para o poder fazer. Já agora, seriam só dois hospitais, uma vez que estão em aquisição dois e não três submarinos.
Saiba também isso, senhor ministro.
Natal (Escrito em 2006)
Há 1 hora
9 comentários:
Relacionado com militares e verbas, transcrevo notícia de hoje:
AOFA critica pouca transparência na venda de património
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=12&id_news=343301
sábado, 2 de Agosto de 2008 | 22:17
A Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA) criticou hoje o secretismo e a falta de transparência na venda do património militar, que não tem beneficiado as Forças Armadas.
"Estamos a fazer um alerta fundamentado, uma vez que ciclicamente há notícias sobre a alienação de diverso património militar, que não beneficia as Forças Armadas”, disse o Coronel da Força Aérea na reforma José Carlos de Figueiredo.
Segundo o dirigente da AOFA, o desconhecimento de casos como o da Cidadela, em Cascais, "com vertiginosos milhões de euros no horizonte" e do antigo quartel Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, "com uma localização cobiçada", pecam por "falta de transparência e secretismo" na sua comunicação.
"Esta posição é inaceitável uma vez que se trata de um crime cultural, pois a alienação de património militar, caso não sejam tomadas medidas de salvaguarda, coloca em causa recursos e trabalho que a Instituição Militar nunca regateou em preservar esse património", salientou.
Os militares procuraram sempre preservar o património militar, "uma memória, onde mergulha a identidade nacional", sublinhou José Figueiredo. "As normalmente promissoras palavras das resoluções do Conselho de Ministros sobre o aproveitamento das verbas obtidas na reorganização, modernização e melhoria operacional das Forças Armadas, na prática, não têm passado disso mesmo", explicou.
Daí que a AOFA vá "bater-se, em nome da transparência, para que sejam conhecidas publicamente quais as condições de alienação do património militar inicialmente citado, os montantes envolvidos e que benefícios efectivos resultaram ou vão resultar (...) para as Forças Armadas", sublinhou.
Diário Digital / Lusa
Outra notícia de hoje:
CDS: Paulo Portas acusa Governo de retirar direitos aos antigos combatentes das ex-colónias
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=974726
Faro, 03 Ago (Lusa)
O líder do CDS-PP acusou hoje o Governo de retirar direitos aos antigos combatentes das ex-colónias ao pretender alterar a lei, anunciando que procurará um consenso com todas as forças políticas para evitar que tal aconteça.
"Se a lei for aprovada, significa um retrocesso e a retirada de direitos a gerações que Portugal deve honrar", afirmou Paulo Portas no discurso, em Santa Bárbara de Nexe (Faro), durante o jantar que juntou cerca de 500 pessoas para assinalar os 34 anos da fundação do partido.
Na sua intervenção, que terminou já de madrugada, o líder centrista assegurou que "irá manter uma atitude construtiva para evitar que os antigos combatentes percam direitos", sublinhando ter sido um assunto em que se empenhou "pessoalmente para que fosse feita justiça a pessoas que ficaram esquecidas".
Segundo Paulo Portas, os antigos combatentes "podem agora comparar as diferenças entre o CDS e o PS no reconhecimento dessas pessoas que foram para as antigas colónias fazer uma guerra". (…)
Obg pelo comentário no meu blog, amigo. Mas eu sou amadora, sim eheheheh
Beijinhosss
Caro A.João
E ainda poucos sabem que com o Tratado de Lisboa está previsto a redução da ZEE (zona económica reduzida).
Esta "ignorância" infelizmente abunda e é "moda" política da Europa: tudo é centrado na imagem (só imagem) que o Primeiro-Ministro passa para o respectivo País.Infelizmente muita gente fica massificada e a imagem prossegue e cativa e silencia.
Parece que os media quando bem pagos se deixam facilmente ceder.
Um abraço
Caro João Soares
O que seria de estranhar era se o ministro Pinho (ou outro qualquer), dissesse o contrário.
É bom que, de uma vez por todas, os militares percebam que as Forças Armadas não valem rigorosamente nada nas mentes do TODOS os políticos. Para eles, qualquer cêntimo gasto com a Defesa é um desperdício.
Caro João,
Todos os tratados e acordos internacionais acabam sempre por prejudicar os países com menos poder e beneficiar os que já têm preponderância.
Já em 19 de Novembro de 2006, aqui coloquei um post com o título «As relações internacionais são interesseiras». E é lógico que esta guerra de interesses beneficiam mais os mais poderosos.
Quanto ao aspecto interno, a ignorância e apatia tradicional do povo, conjugada com a imagem de «actor» do PM e os interesses e submissão dos jornais conduzem a esta espécie de ditadura a prazo em que estamos a viver. É arrogância que o porta-voz do PS traduziu na frase de que não recebem lições do Cravinho. Ora creio que toda a gente honesta, tem a humildade de estar sempre a aprender, a tentar melhorar os procedimentos e, portanto, a receber lições de qualquer um.
E assim vai este rectângulo a caminho de um futuro cada vez mais preocupante.
Abraço
João
Caro Amigo Fernando Vouga,
O que muito preocupa os políticos a respeito dos militares, é que estes, apesar de episódicos e raros casos de comportamentos menos dignos, dão bons exemplos de seriedade, honestidade, rigor e devoção ao País, e estas qualidades permitem deixar os políticos muito mal colocados em qualquer comparação com os homens fardados. As pessoas moralmente mais fracas detestam os mais perfeitos porque não gostam de ter ao lado referências que lhes não são favoráveis.
Repare num exemplo: o Valentim Loureiro foi expulso das Forças Armadas devido ao seu comportamento indigno, e, com a saída, não se deu o milagre de se tornar uma pessoa impecável. No entanto virou-se para a política e teve o êxito que se tem visto. Isto evidencia bem a diferença entre os critérios de avaliação usados pelos militares e os usados pelos políticos.
É evidente!!!
Um abraço
A. João Soares
Caro João Soares
Tem razão. É mesmo como diz. Mas, mesmo correndo o risco de a minha humilde pessoa ser tida por teimosa, o que está aqui em causa é a verdadeira importância dos militares no contexto político actual. Desarmados e castrados como estão, não valem nada.
Por mais caricas e "frioleiras" (usando o termo de Napoleão) que ostentem os sempre engalanados Chefes militares, não se conseguem sequer fazer respeitar.
Concordo, E se perdem prestígio quanto a temas políticos, não conseguirão mantê-lo em outras áreas como mesmo a de chefia que lhes é inerente.
E esse desprestígio já está bem visível quanto à perda de compensações dos militares e ao facto de os vencimentos em relação aos de juízes e professores já estar pelos 50%.
Abraço
http://caparicaredneck.blogspot.com/2008/08/acordar-preciso.html
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