Interesse Público
João Marques dos Santos, Advogado, Correio da Manhã de 080802
“Os ataques ao interesse público agridem uma forma de pensar e de estar na vida da generalidade dos cidadãos”.
Durante as próximas semanas o interesse público vai levar uns valentes pontapés. Confirma-se, mais uma vez, que os "grandes senhores" do futebol profissional (esse mundo de interesses onde tudo está em causa menos o interesse público) têm o condão de conspurcar tudo aquilo em que tocam. Os tribunais deram-lhes trela e agora vão ter que os aturar. A eles e a todas as suas tropelias e devaneios. Quando alguma coisa corre mal e já não sabem como descalçar a bota, os dirigentes desportivos encomendam (e pagam) pareceres e vão a correr agarrar-se às saias da mamã Justiça, que mostra um desvelo inexplicável em aturar as birras dos pequenos. Mas agora a questão agrava-se.
O interesse público é um conceito sério de mais para que se permitam quaisquer tentativas de o desvirtuar. A violação do interesse público verdadeiro (que é, afinal, o único) afecta-nos a todos. Directa ou indirectamente, todos o sentimos e sabemos quando periga. Não necessitamos de ler grandes tratados ou que nenhum jurista nos venha, acrobaticamente, tentar "explicar" quando foi ou poderá ser violado. O interesse público resulta de um sentimento comum (e quase instintivo) de que um determinado valor deve ser defendido. É como o direito natural. Os ataques ao interesse público agridem uma forma de pensar e de estar na vida da generalidade dos cidadãos.
Ora, o mundo do futebol profissional é, por excelência, de alto a baixo, contrário a tudo isto.
Ao pretender invocá-lo, a FPF confunde os seus interesses de grupo com os da generalidade dos cidadãos e insulta os Tribunais e os Portugueses. E até, e sobretudo, os que gostam de futebol e o desejam limpo de todos os truques, golpadas, arranjinhos e formas singulares e pacóvias de corrupção, com prendas e prostitutas à mistura. Se o campeonato começa hoje ou amanhã, se o Boavista ou o Paços de Ferreira vão disputar, ou não, a 1ª Liga, se Pinto da Costa vai ou não manter-se suspenso, são questões absolutamente menores neste país onde tanta coisa séria periga. E pretender-se que têm qualquer conexão com o interesse público é transformar este país num corso carnavalesco. O interesse público é alheio a tricas clubísticas. Não é o interesse de nenhum organismo, clube, associação, grupo de adeptos mais exaltados ou, muito menos, o analgésico para as dores da FPF.
No caso, o interesse público, que começa a estar em causa e importa defender, consiste na salvaguarda da honra e bom nome dos Tribunais, contra todos os que pretendem servir-se deles para mascarar e adiar os seus problemas.
NOTA: Mesmo que nos custe acreditar, apesar dos direitos fundamentais «garantidos» pela Constituição da República, existem forças mal definidas, ou ocultas, que procuram anestesiar o espírito da população, desviando-a dos interesses nacionais, daquilo que a pode afectar profundamente. Para criar esse estado de modorra e sonolência servem-se de questões absolutamente menores como o futebol, os jogos olímpicos, a volta a Portugal em bicicleta, as feiras e romarias, os festivais pimba e as fofoquices com que os noticiários nos mimoseiam. Quem estará a puxar os cordelinhos? Serão os galardoados pelo Bilderberg? Os candidatos a governantes? Ou os que já o são?
Em modos de Natal.
Há 39 minutos
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