domingo, 5 de outubro de 2008

Crise financeira e crise de valores morais

Tenho aqui pugnado pela restauração de valores morais que têm sido esquecidos na vida materialista moderna e cuja ausência tem arrastado a sociedade para um estado de desumanidade, irresponsabilidade e atribulações económicas e financeiras cuja gravidade é hoje bem visível e lamentável.

Na América, epicentro da actual crise, os bispos debruçaram-se na análise do fenómeno e chegaram à conclusão de que devem ser recordados princípios-chave, de que "os princípios morais podem ajudar na busca de respostas efectivas à desordem económica", salvaguardando "a vida e a dignidade humanas".

Na causa da crise da sociedade moderna está a avaliação das pessoas pelo que têm ou aparentam ter e não pelo que são intrinsecamente, o capitalismo desregrado, a liberdade ilimitada do mercado, a "busca escandalosa de benefícios económicos excessivos», sem olhar aos resultados nefastos na vida real das pessoas e sem curar de respeitar a solidariedade e o bem comum.

Será justo e moral que se averigue e se sancione a "responsabilidade e a necessidade de prestar contas", porque "quem contribuiu para esta crise ou se aproveitou dela não deveria ser recompensado ou escapar sem prestar contas do dano que causou". O anonimato dos elementos de órgãos directivos colectivos dispersa o sentido de responsabilidade e arrasta para a impunidade os directores e gestores de topo que são bem pagos mas passam ao lado do mal que praticam, imunes e impunes.

É absolutamente necessário nunca olvidar que "há necessidades humanas que não encontram lugar no mercado", o que implica a "renovação dos instrumentos de controlo e a correcção das instituições económicas e da indústria financeira", tendo presente que a finalidade de uma política séria e honesta é garantir as melhores condições de vida das pessoas, com solidariedade e equidade.

Deve ser incentivada e desenvolvida uma sociedade do trabalho, da iniciativa e da participação, que não esteja contra o mercado, mas que exija que este seja controlado pelas forças sociais e pelo Estado a fim de ser conseguida a ampla satisfação das necessidades básicas da população.

Deve respeitar-se o princípio de subsidiariedade, que leva "os agentes privados e as instituições à responsabilidade, para que aceitem as suas próprias obrigações", sob pena de as altas entidades, incluindo os governos, excederem as suas prerrogativas e substituírem indevidamente as instituições privadas.

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