De uma forma geral, a guerra é uma manifestação bárbara, selvagem, desumana, primária, pré-histórica, imprópria do estádio de civilização em que o mundo de hoje se devia encontrar, se tivesse aprendido com a experiência da história.
Muito tem sido escrito nos últimos dias a propósito da «guerra» no Médio Oriente entre Israel e o Hamas, o que, embora me tenha procurado manter distante do conflito, me tem levado a tecer comentários em resposta de outros que abordam o tema, dos quais apresento a seguir alguns tópicos.
Segundo alguns comentadores, a guerra surge em consequência da «ambição desmedida, da falta de sentimentos e da incoerência» dos governantes, apoiados por uma mentalidade doentia dos povos demasiado dominados pelo sentido de posse, pela propriedade privada e pelos denominados interesses nacionais, com significados deturpados, na defesa de falsas noções de soberania. Se em vez de serem efectuados por exércitos, os conflitos se resumissem a espectáculos de pugilato ou duelos de morte entre os governantes dos países desentendidos, eles seriam evitados ou resumidos ao mínimo, e substituídos por negociações terminadas em acordos. É que os políticos prezam muito os seus interesses pessoais, acima de tudo, e desprezam as consequências que as guerras têm sobre as populações inocentes, sejam crianças, mulheres, deficientes ou idosos.
Mas, mais do que a soberania dos Estados e do que os interesses nacionais, um marcante móbil da guerra é a estupidez do ser humano, mais propriamente, a ambição de Poder, a vaidade dos políticos, a ostentação abusiva do Poder. A insensibilidade que leva à guerra conduz à destruição de património, por vezes de grande valor para a humanidade e de instalações essenciais para a vida das pessoas, conduz a perdas de vidas, que tendo em conta que cada uma é um valor irreparável, acontece em grandes números, levando ao uso de termos como massacre e hecatombe. Entre essas perdas e outros maus efeitos da guerra, não podemos deixar de destacar o sofrimento das crianças ainda inocentes e sem culpas, que é muito impressionante. Mas se, com a guerra, toda a gente sofre, directa ou indirectamente, há indivíduos mais protegidos dos seus malefícios que, por injustiça do destino, são os bafejados pelo Poder, aqueles que foram os causadores dessas guerras, que as decidiram, sem primeiro terem tentado encontrar soluções pacíficas para as suas ambições de mais poder.
Um outro factor não negligível é o facto real de que todas as guerras enriquecem uma série de empresas que abastecem o esforço militar. As muitas variedades de armamentos e equipamentos são o produto acabado de uma série complexa de empresas industriais. Daí termos que desconfiar dos lóbis de tal indústria a empurrar os políticos para a guerra. Talvez sejam eles os principais culpados de não se enveredar pela solução pacífica de muitos conflitos de interesses. O Presidente Eisenhower, após o termo da II Guerra Mundial, alertou para o perigo do «complexo industrial militar», que surgira para sustentar a logística do esforço de guerra e atingiu uma dimensão de grande poder, se mantivesse activo e viesse a desenvolver-se e, para não murchar, se tornasse num instrumento de pressão sobre os políticos levando-os a várias manifestações de agressividade no mundo, ou mesmo uma situação de permanente conflitualidade. Parece que era bruxo. E o mundo, principalmente o menos civilizado, com governantes dotados de mentalidade de ovelhas seguidoras do pastor, seguiu a maior potência e quis mostrar as suas habilidades, uns para se oporem aos intuitos da potência dominadora, outros para a imitarem localmente em escala menor, contra os vizinhos. E assim se concretizou o efeito negativo do complexo industrial militar previsto por Eisenhower!
Parece não haver muitas dúvidas de que a guerra, qualquer guerra, é fruto da estupidez de políticos que, cegos pela sua ambição de poder e de visibilidade, em vez de resolverem os desentendimentos à mesa das conversações (como aqui tem sido referido em vários posts), usam a violência, sem pensarem na multidão de inocentes que irão sofrer as consequências. Na realidade, quem ordena a guerra não se importa com as vítimas prováveis, ou mesmo certas, mas incógnitas, na sua inocência.
Parece que a classe a que eles pertencem não tem sensibilidade humana de gente de bem. Se a tivessem, procurariam dialogar e, se não fosse possível directamente, procurariam fazê-lo através de intermediários qualificados. Na nossa vida prática, de cidadãos, se tivermos um desentendimento com um vizinho e não conseguirmos negociar com ele, contratamos um advogado e este, com a outra parte ou o advogado desta, tenta chegar a um acordo, ou se não o consegue vai para tribunal. Na vida internacional este esquema está a ser pouco utilizado. Mesmo a ONU não se tem mostrado merecedora de crédito para isto. Porém, a porta das negociações não está fechada, como mostra o caso de este ano ter sido dado o prémio Nobel a um diplomata Finlandês por ter participado, com êxito, em muitos casos, quer internos de Estados quer entre Estados vizinhos.
Será uma actividade a desenvolver. O difícil é encontrar mediadores isentos e credíveis, respeitados por ambas as partes em conflito. Torna-se absolutamente necessário que o mundo tenha uma Organização com autoridade para conduzir os beligerantes ao diálogo, à negociação.
Olhando para possíveis causas dos conflitos nota-se que, no caso agora objecto de notícias, nem sempre isentas, o sentido de posse do terreno, leva os palestinianos a considerarem que a «sua» área «não devia ter sido ocupada» por estranhos (propriedade privada, sentido de posse), mas também existe a aversão violenta a um povo que, pelas suas qualidades, criando condições económicas diferentes por ter capacidade de inovação, criatividade, organização e produtividade, geradora de riqueza, lhes desperta o desconforto de tão notória diferença, originar comparações que não lhes são favoráveis. É o sentimento manifestado pela serpente na fábula «O vagalume e a serpente». O papel de vagalume está a ser o de Israel que, não podemos ocultar, é um País reconhecido internacionalmente e que é constantemente ameaçado de ser eliminado, e essas ameaças passam das simples palavras e vão ao ponto de verem os seus cidadãos em festas ou outras concentrações da vida corrente serem massacrados por bombistas suicidas ou sabotagens ou mísseis e rockets. Quando o seu poder de encaixe se esgota reagem e fazem-no com demasiada força, para serem dissuasores. Do outro lado o fanatismo e a obsessão pelo objectivo de expulsarem este povo trabalhador, organizado, produtivo, inovador, não desarmam e continuam na sua sanha de mal fazer, apoiados por Países invejosos que se sentem mal ao lado de um povo que lhes desafia a inveja, por ser exemplar como Estado organizado e desenvolvido, que transformou o deserto em férteis pomares.
Por outro lado, como disse outro comentador, nas guerras desta região, não pode deixar de se referir o problema religioso, pois as religiões têm evidenciado um grande inconveniente, por considerarem possuir o melhor Deus, o único, o que as torna irreconciliáveis com os seguidores de Deuses diferentes. As guerras de origem em motivos religiosos, contra os infiéis, sempre foram demasiado sangrentas e prolongadas. Actualmente, nesta região do planeta, os fanáticos mais aguerridos, obcecados por impor e dilatar a sua fé são os seguidores do Islão. E fazem-no sem o mínimo respeito pelas pessoas, procurando os efeitos mais espectaculares do seu ódio aos outros, aos diferentes.
E não me alongo mais, mas deixo uma sugestão para que as pessoas, sem se acorrentarem a uma ou outra facção, procurem meditar sobre este fenómeno destruidor de vidas e de recursos que fazem falta ao desenvolvimento dos países e ao bem-estar das pessoas.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Reflexões sobre a guerra
Posted by A. João Soares at 15:15
Labels: guerra estúpida, violência selvagem
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1 comentário:
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